Rogério Machado*
de Buenos Aires (Argentina)
BMW R17 (1936). Best of Show para motocicletas
O Gogomobil Isard T-400 (1963)
Para um continente cravado por convulsões econômicas, a América Latina ainda surpreende com a resiliência do seu acervo de automóveis antigos. Em que pese que, nos anos 1940, Buenos Aires (Argentina) se equiparava às capitais europeias e, logicamente, as famílias abastadas irrigaram o cone sul com muitos automóveis importantes.
Parte desse acervo é dinâmico e circula pelo mundo onde quer que o dinheiro esteja disponível, mas, o que fica claro em um evento como a Autoclasica, é que as garagens argentinas ainda guardam tesouros inestimáveis sobre quatro rodas.
O evento, que começou em 1998, já se consagrou como o mais importante da América Latina, teve três anos de interrupção e chega à sua 19ª edição este ano. Como sempre, a sede da mostra é o belo hipódromo de San Isidro, ao norte da capital argentina.
Fiat 1100 Familiare (1960)
A PickUp argentina IAME Rastrojero segunda geração (1968-1979)
Nesta época do ano costumam acontecer algumas chuvas na região e, dessa vez, não foi diferente, tendo sido necessária a interrupção da festa por um dia durante o qual o temporal foi forte.
Passando este breve período, o clima respeitou as 32 mil pessoas que prestigiaram a mostra de cerca de 1.000 veículos, entre carros e motocicletas, organizada pelo Club de Automoviles Clasicos de la Republica Argentina (CAC).
A Autoclasica 2019 celebrou, também, o centenário das marcas Citroën e Bentley, além do estúdio italiano Zagato. Para esta comemoração foram organizados estandes com exemplares que traduzem a tradição de cada uma delas.
Bentley 4.5 Litros Carroceria Weimann (1927)
O primeiro Jeepster (1948). A versão civil do Jeep no pós-guerra
Entre os Bentley, me chamou a atenção um belíssimo modelo 4.5 litros com carroceria Weimann, do final dos anos 1920. Já no estande Citroën, a presença de um exemplar muito raro, o Cabriolet 11BN (Normale), de 1937, com maior entre eixos e bitola aumentada.
Perto dele, nada menos que mais dois Cabriolet também raros, embora da versão 11BL com o entre eixos padrão. Completando os aniversários a italiana Zagato, famosa pela criação de tantas carrocerias esportivas, estava presente através de um grupo de Alfa Romeo especialíssimas, entre elas, uma 6C 1750GS, de 1931, impecável, a simpática Giulietta SZ (de 1961) e a 2600 Sprint Zagato (de 1966).
Para se reunir mil veículos antigos é claro que as marcas também variavam de “A” a “Z”, passando pelas tradicionais europeias e americanas com a presença de motocicletas, microcarros, carros de corrida, limousines, veículos comerciais e até ônibus clássicos.
Alfa Romeo 6C 1750GS (1931)
Um dos antigos ônibus urbanos de Buenos Aires
Encontrei muitos brasileiros por lá e no estande dos entusiastas da Auto Union, presidido pelo veterano Carlos Stingo. Estava exposto um excelente exemplar do jeep brasileiro Candango produzido pela Vemag. O proprietário rebocou o carro desde o Brasil até o Uruguai e, de lá, foi rodando até a Autoclasica.
A história do automobilismo argentino estava bem representada através de diversos “coupecitos”, como os argentinos chamam os coupes americanos modificados para as pistas na categoria Turismo Carretera (TC).
Esta categoria está ativa até hoje, com veículos mais modernos, e recebeu o nome por reunir carros de turismo durante provas em estradas (em castelhano carreteras). No Brasil o nome “carretera” foi usado para identificar veículos similares.
O diversificado mercado de peças
Uma grande área foi ocupada por vendedores de peças, livros e materiais relacionados aos automóveis. Com a inflação na Argentina girando na casa dos 5% ao mês, muitas mercadorias estavam com um valor compensador para quem foi ate lá “fazer a feira”. Este segmento comercial do antigomobilismo se tornou uma atividade que desperta muita curiosidade pela variedade dos artigos expostos e produz muitos negócios.
Durante os dias da exibição os veículos foram avaliados por juízes específicos e o resultado apresentado através de uma cerimônia de premiação que incluiu, somente na parte de automóveis, cerca de 50 nomeações.
O grande vencedor foi uma berlina quatro portas Delage D8, construída em 1932 pela encarroçadora francesa Henry Chapron. A bela carroceria apresenta o início do compartimento de passageiros exatamente no centro dos eixos, acompanhada por um pequeno estribo que lhe confere um visual absolutamente agradável.
O Delage (1932) com carroceria Chapron. Best of Show
Uma PickUpLand Rover espanhola, a Santana
A importância da Autoclasica foi evidenciada pela FIVA (Federação Internacional de Veículos Antigos), que nesta edição selecionou o evento, entre quatro do mundo, para receberem o Premio FIVA para o veículo mais preservado.
E é bom saber que vizinhos tão próximos ajudam a impulsionar o antigomobilismo sul-americano.
Pegaso Z 102, Coupé (1953). Prêmio FIVA para o mais conservado
Triumph TR2 produzido entre 1953 e 1955
Fotos: Rogério Machado
*Colaborador
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