Nova opção da picape média apresenta, apenas, mudanças estéticas
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 24/06/2022)

Depois dos SUVs, as picapes são os modelos que mais crescem em vendas, atualmente.
É verdade que as picapes compactas e intermediárias incharam este bolo mas, as picapes médias continuam como as referências, tanto na capacidade de carga, quanto no desempenho no fora de estrada.
Nesse segmento das médias, a S10 se mantém no pódio deste o seu lançamento, em 1995.
No fechamento dos cinco primeiros meses desse ano, a Chevrolet S10 é o segundo modelo mais vendido da categoria, registrando 11.012 emplacamentos, ficando abaixo da Toyota Hilux, que emplacou 17.702 unidades, e acima da Mitsubishi L200, que registrou 5.588 emplacamentos, segundo dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O DC Auto recebeu a Chevrolet S10 Z71 2.8 diesel para avaliação. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 283,89 mil. A cor metálica custa mais R$ 1,95 mil. Versão intermediária, ela foi posicionada entre a LT e a LTZ.

As versões Z71 são tradicionais na linha Chevrolet dos Estados Unidos. Originalmente, essa sigla identificava uma configuração de equipamentos que se tornou uma variante naquele país e, agora, ela chega ao Brasil pela primeira vez.
Por lá, além dos diferenciais estéticos, os modelos dessa versão também ganham mudanças mecânicas.
Por aqui, a S10 Z71 não traz essas mudanças mecânicas, apenas alguns equipamentos especiais e muitos detalhes estéticos que a diferenciam das demais versões.
Diferenciais – Pneus Michelin de uso misto na medida 265/60 R18, assim como alargadores nos para-lamas, santo antônio e estribos exclusivos, grades e rodas da versão High Country são as mudanças mais relevantes, todas elas no estilo all black.
No mais, uma profusão de adesivos, emblemas, faróis e lanternas escurecidas e a sigla Z71 na grade e nas laterais completam a indumentária que transformou a versão na mais bela da linha S10, principalmente nessa cor cinza da unidade avaliada, denominada Dark Shadow.

Os principais equipamentos de série da S10 Z71 são: ar-condicionado analógico; direção elétrica; sistema multimídia My Link de 7 polegadas com espelhamento por cabo; computador de bordo com múltiplas funções; volante multifuncional; bancos revestidos com material sintético que imita o couro, capota marítima e protetor de caçamba.
Em segurança, os destaques são: seis airbags; controle eletrônico de estabilidade e de tração; luzes de condução diurna (DRL) em LED; assistente para partida em inclinação; indicador de pressão dos pneus; ajuste elétrico da altura dos fachos dos faróis; câmera de marcha à ré de alta definição com três modos de visão e sensores de estacionamento traseiros.
Motor e Câmbio – O conjunto mecânico da S10 é o mesmo para todas as versões automáticas.
O motor diesel de quatro cilindros em linha é posicionado longitudinalmente e tem 2.776 cm³ de capacidade. Seu comando de válvulas é duplo, tracionado por correia dentada e ele é equipado com turbocompressor e injeção direta de combustível.
Ele atinge a potência máxima de 200 cv às 3.600 rpm e o torque chega aos 51 kgfm às 2.000 rpm.

O câmbio é automático convencional de seis (6) velocidades com conversor de torque. As marchas podem ser trocadas manualmente por meio da alavanca de câmbio.
A tração pode ser bloqueada em 4×2, 4×4 e 4×4 reduzida, operação acionada em botão giratório.
A S10 tem 5,36 metros de comprimento; 1,87 metro de largura; 3,09 metros de distância entre-eixos e 1,82 metro de altura.
São 228 mm de vão livre e seus ângulos de ataque e de saída são de 29° e 16,1°, respectivamente. Pesando 2.042 kg, sua carga útil é de 1.180 kg. O tanque de combustível comporta bons 76 litros. Na caçamba cabem 1.061 litros.
Internamente existem menos diferenças entre as versões Z71 e LT. Em ambas, o centro do painel é a única área macia ao toque, bem como as portas e o encosto de braço central.
Mesmo nas portas, essas áreas são escassas. Todas as outras peças são injetadas em plástico rígido. Detalhes cromados, em cinza fosco e em preto brilhante, sofisticam a cabine, mas não muito.

O revestimento em material sintético que imita o couro é o grande diferencial da Z71. Costuras em linha vermelha e a sigla Z71 próxima às maçanetas dianteiras são as assinaturas internas desta versão.
Segundo a Chevrolet, este material e o acabamento simples favorecem a limpeza da picape após o uso, principalmente, no fora de estrada.
A explicação é válida, mas não justifica o alto preço pedido. Um veículo de quase R$ 300 mil merece um acabamento mais caprichado.
O espaço interno da S10 é muito bom. Quatro adultos altos viajam com muito conforto. O quinto passageiro também se acomoda bem, precisando apoiar o pé sobre o túnel central que é largo, porém, baixo.
Mesmo grande por dentro, a ergonomia na cabine é ótima. Os comandos estão todos à mão e não exigem grande deslocamento dos braços para serem alcançados.


Multimídia, ar-condicionado, seletor da tração e outros controles de navegação apresentam botões giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
Equipamentos – Espelhando ou pareando celular, o sistema multimídia foi muito eficiente. Ter uma tela pequena, necessitar de cabo para o espelhamento e não ter o wi-fi embarcado são as suas limitações.
A potência do som e sua qualidade agradam bastante, mas a acústica da cabine causa reverberação em volumes mais altos. Definição da imagem, sensibilidade ao toque e velocidade de operação estão na média do mercado.
O sistema de refrigeração é analógico (mais um erro diante do seu alto preço) e de zona única, sendo bem defasado para essa faixa de preço.
Porém, sua operação cega é das melhores, pois os botões são grandes, sendo o central menor que os das extremidades, característica que facilita a identificação dos mesmos sem a necessidade de desviar o olhar da via.
O funcionamento é eficiente na manutenção da temperatura e no volume de ventilação. Não ter saídas para o banco traseiro aumenta o tempo de resfriamento da cabine.

Todos os outros recursos também são comandados por botões físicos que permitem fácil localização e manuseio cego. Alguns em um primeiro contato, outros, após certo tempo de uso.
Destaque para o computador de bordo que apresenta informações múltiplas e completas em páginas comutadas por anel giratório na alavanca satélite. A sequência destas páginas está adequada ao uso cotidiano e é facilmente visualizada com apenas uma operação neste anel.
Alguns equipamentos básicos de conforto e segurança fazem falta, mesmo em uma versão intermediária.
Estão ausentes equipamentos como a chave presencial para abertura das portas por aproximação e partida por botão; a regulagem do volante em distância, pois ele só pode ser alterado em altura; e um sistema de faróis em LED, já que somente a luz de condução diurna tem este recurso.
Por outro lado, dois acessórios instalados nessa unidade avaliada ajudaram bastante no uso diário.
Um amortecedor a gás tornou a abertura da porta da caçamba muito leve e um tapete semirrígido sobre o protetor da caçamba permite puxar as cargas do fundo da mesma.

O volante está bem dimensionado e os seus comandos de áudio e do controle de velocidade de cruzeiro estão corretamente posicionados.
A assistência elétrica da direção é adequada, tanto deixando o volante leve para manobras de estacionamento, quanto tornando o esterço mais pesado em velocidades, algo necessário em um veículo tão grande.
Como na maioria das picapes médias com tração 4×4, as rodas viram pouco e a distância entre-eixos é muito grande, ampliando o raio de giro e, consequentemente, o número de manobras para transitar em garagens e outros espaços reduzidos.
A câmera de marcha à ré com guias dinâmicas e os sensores de aproximação traseiros são essenciais nessas manobras, pois o comprimento e a altura da S10 quase neutralizam a boa visibilidade que as amplas janelas e os grandes retrovisores oferecem.
Esse sistema também simula um eixo longitudinal que auxilia em aproximações para engate de um trailer, por exemplo, e permite a visualização traseira momentânea com o carro em movimento para frente, recurso útil para a conferência do equipamento que está sendo rebocado.

Ironicamente, o belo santo antônio, exclusivo da versão, ampliou o seu ponto cego. Sensores de aproximação dianteiros seriam bem vindos para ajudar em todo esse trabalho.
Desempenho é destaque da picape, assim como o conforto ao rodar
O grande destaque da S10 é a sua dinâmica. O conjunto motor e câmbio é muito bem casado. As marchas são trocadas com precisão, sem trancos e silenciosamente.
O motor tem torque para tirar a picape da inércia e para fazer ultrapassagens seguras, em uma condução responsável. Mas é necessária certa atenção, pois o grande peso e o turbo lag exigem alguma antecipação na ação para o veículo deslanchar.
A boa elasticidade deste motor a diesel permite à S10 atingir altas velocidades rapidamente, chegando aos 100 km/h em 10,1 segundos, de acordo com a Chevrolet.
Marca admirável para um carro a diesel com mais de duas toneladas. Providencialmente, sua velocidade é limitada aos 180 km/h.

Aos 90 km/h, e de sexta marcha, o motor trabalha às 1.400 rpm. Aos 110 km/h, e na mesma marcha, ele gira às 1.750 rpm. Nessas condições, quase não se ouve o seu ruído.
O atrito dos pneus e o barulho vento contra a carroceria são contidos para uma banda de rodagem tão larga e uma carroceria tão volumosa.
As suspensões projetadas para sustentar mais de uma tonelada entregam mais conforto que o esperado para um modelo preparado para o trabalho.
Elas são muito firmes e trabalham em alta frequência quando o modelo está sem carga, causando as típicas oscilações das picapes.
Porém, copiam bem as ondulações dos pisos e transferem menos vibrações para a cabine que o usual na categoria.

O lado bom desta rigidez do conjunto é a estabilidade. Mesmo alta, a S10 contorna curvas com pouquíssima inclinação da carroceria e ótimo controle direcional, apesar de tender a sair de traseira.
Mas isso, somente quando muito exigida, bem depois dos pneus começarem a cantar e sinalizarem o início dessa perda de tração.
A capacidade off-road também sobressai. O elevado torque do motor, somado à tração 4×4 e aos pneus de uso misto, confere alta capacidade de transposição dos obstáculos mais comuns, encontrados em estadas de terra e em trilhas de baixa e média dificuldade.
A robustez do chassis permite submeter a S10 a essas forças de torção sem comprometer a integridade de sua estrutura.
Consumo – Em nosso teste padronizado de consumo rodoviário a S10 Z71 se mostrou econômica, considerando seu tamanho e peso.


Nele, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo os 90 km/h e outra, os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o consumo foi de 13,5 km/l e, na volta mais rápida, a média registrada caiu para 12,1 km/l de diesel.
Já no teste padronizado de consumo urbano, o peso do modelo jogou contra. Nele, em um circuito de 6,3 km, realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km.
Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso. Seguindo os padrões complementares descritos acima, a S10 registrou 7,4 km/l de diesel.
A S10 Z71 tem grande diferenciação estética e a capacidade para o fora de estrada um pouco aprimorada.
O valor que se paga a mais em relação à versão LT pode se justificar para quem valoriza esse visual exclusivo que é, provavelmente, o mais bonito que a S10 já apresentou em quase 30 anos de existência.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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