Moderno e recheado de tecnologias, modelo hatch tem o preço de R$ 329 mil
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 03/02/2023)

Caminho sem volta, a substituição dos veículos a combustão por modelos elétricos é uma questão de tempo. Marcas premium estão mais avançadas, como Audi, Volvo, BMW e Porsche, por exemplo, pois estes carros ainda são caros e têm mais mercado entre consumidores com maior poder aquisitivo.
Entre as montadoras de grande volume, algumas já iniciaram este processo no Brasil. A Chevrolet apresentou o Bolt no Salão do Automóvel de São Paulo em 2018, mas ele chegou às concessionárias somente em 2020, ano em que foi o mais vendido da categoria, se considerarmos os modelos 100% elétricoJs não premium, perdendo apenas para o Audi e-tron.
Produzido nos Estados Unidos, ele foi reestilizado e ganhou algumas modificações técnicas para linha 2021/2022.
O DC Auto recebeu o Bolt EV 2022 para avaliação. No site da montadora, o seu preço sugerido é de R$ 329 mil, em qualquer uma das quatro cores disponíveis.
Ele é oferecido em uma única versão, sem opcionais. Seus principais equipamentos de série são: sistema de atendimento remoto OnStar com wi-fi embarcado; multimídia MyLink com tela LCD sensível ao toque de 10,2 polegadas, equipado com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, Alexa nativa e Spotify integrado; sistema premium de áudio Bose com 7 auto-falantes e subwoofer; quadro de instrumentos com tela LCD 8 polegadas, colorida e configurável; ar-condicionado com controle eletrônico; carregador de celular por indução eletromagnética; direção elétrica com regulagem em altura e profundidade; aquecimento do volante e dos bancos dianteiros e traseiros; abertura das portas por sensor de aproximação da chave; banco do motorista com todos os ajustes elétricos e rodas de alumínio aro 17 polegadas com superfície usinada e pneus 215/50 R17.

Em sistemas de segurança, o Bolt está entre os modelos mais equipados do mercado. Ele traz 10 airbags (frontais, de joelho, laterais na 1ª e 2ª fileira e de cortina); alerta de colisão frontal e frenagem automática de emergência em baixa velocidade; alerta de detecção de pedestre frontal com auxilio de frenagem e alerta de movimentação traseira em marcha à ré; câmera 360° em alta definição; detector de mudança de faixa com alerta de ponto cego; sistema auxiliar ativo de permanência em faixa; controle de velocidade de cruzeiro adaptativo; controle eletrônico de estabilidade (ESC); farol alto adaptativo; acendimento automático dos faróis; espelho retrovisor interno fotocrômico e espelho retrovisor externo com aquecimento; alerta de pressão dos pneus e carregador emergencial portátil (220V, limitado a 2,2 kVA), entre outros.
Motor – O Bolt é equipado com um conjunto modular de baterias de íons de lítio de alta capacidade de armazenamento, 66 kWh.
Seu motor elétrico do tipo síncrono de imãs permanentes é montado sobre o eixo dianteiro e traciona as rodas dianteiras.
Ele rende 150 kW, o equivalente à 203 cv, e entrega 36,8 kgfm de torque, praticamente, em todo o regime de utilização. O câmbio automático tem apenas uma marcha, modelo comum em elétricos, e é operado por teclas individuais.
Segundo a GM, ele tem autonomia para 459 km, em ciclo de testes WLTP, usado na Europa. Sua bateria pode ser recarregada em tomadas CCS Type 2 /AC ou CCS Combo 2 / DC.


No carregador de emergência, a cada hora, ela recupera carga para rodar até 10 km. No aparelho doméstico, wallbox, são até 40 km neste mesmo tempo. Em carregadores públicos super-rápidos são até 144 km em apenas 30 minutos.
Essas variações de ganhos de carga ocorrem conforme a capacidade de cada rede à qual o equipamento é instalado e a potência do próprio. Este conjunto de baterias tem garantia de fábrica por oito anos ou 160.000 km, o que ocorrer primeiro.
Nesta reestilização, o Bolt ganhou a identidade visual semelhante à dos novos elétricos da marca, o Equinox EV e o Blazer EV, utilitários esportivos programados para chegarem ao nosso mercado, assim como o Bolt EVU, a variante SUV do modelo que será o primeiro destes três a desembarcar em portos brasileiros.
Design – Basicamente, o conjunto ótico foi dividido em dois níveis, ficando o DRL acima e o farol abaixo. No Bolt, as duas partes ficaram unidas em peça única, formando um desenho em “V” deitado que conferiu modernidade e agressividade ao mesmo tempo.
Novos capô, para-choque e grades completam as mudanças na dianteira que, além do alinhamento visual entre os modelos elétricos, deixaram o modelo menor mais futurístico, movimento contrário à tendência de projetar carros eletrificados cada vez mais parecidos com os a combustão atuais.

Na lateral, somente as rodas foram renovadas. Na traseira, o vidro, as lanternas, a tampa do porta-malas e o para-choque foram completamente redesenhados, criando um conjunto visualmente dinâmico que combina mais com a frente futurística, mesmo não sendo uma alteração tão ousada.
Internamente, as mudanças no design também foram espelhadas dos dois SUVs maiores. Assim como neles, o exterior é mais exótico e o interior mais comum, parecido com as cabines de modelos a combustão.
No caso do Bolt, essa foi uma mudança radical, pois o seu interior era futurista e ficou atual. Por outro lado, houve um grande ganho na sofisticação da cabine com o uso de materiais de acabamento superior e com cores mais sóbrias, e os painéis redesenhados na horizontal, conferindo percepção de qualidade elevada e maior amplitude interna.
Além do tecido sintético que imita o couro aplicado aos bancos, volante e em todos os apoios de braços, algumas partes do painel principal e das portas dianteiras são forradas com material macio ao toque, e outras são construídas em plástico rígido de ótima qualidade.
Diversos detalhes em preto brilhante, metalizados foscos e alguns cromados compõem este interior de carro de entrada, para os padrões norte-americanos.

Para o nosso mercado, ele se equivale aos modelos premium, o que é muito bom, mas fica devendo alguns requintes de outros carros importados e nesta mesma faixa de preço, como o SUV Volvo XC40 com apenas um motor elétrico, por exemplo.
Monovolume – Identificado como um hatch compacto, a arquitetura do Bolt está mais para um monovolume, de tão bem aproveitado é o seu espaço interno.
Quatro adultos têm área de sobra para cabeças, ombros e pernas. Por falta de maior largura, um quinto adulto fica apertado ao centro do banco traseiro, mas o assoalho plano ajuda a encontrar posição mais confortável para os seus pés. Uma criança vai muito bem nesta posição.
Vale observar que este mesmo piso é um pouco elevado, característica comum aos carros elétricos, pois as baterias ficam sob toda essa base, deixando os pés mais altos e, consequentemente, as pernas mais descoladas do assento traseiro.
Comparando as medidas externas do Bolt com as do Onix, hatch compacto da marca, o elétrico não é tão maior externamente, mas é mais amplo internamente.


Números – Ele tem 4,16 metros de comprimento, apenas 2 mm a mais que o Onix. Em largura, são 1,77 metro, 35 mm a mais. Já em altura, sua carroceria é 134 mm mais elevada, reforçando suas características semelhantes aos monovolumes, atingindo 1,61 metro.
A distância entre-eixos do Bolt é 49 mm maior em relação à do Onix (2,60 metros), uma boa medida para um modelo compacto.
Mesmo com tanto espaço para pessoas, o porta-malas também é grande, oferecendo 478 litros de capacidade total até o teto, sendo 380 litros até à altura do encosto traseiro.
Como em todo carro elétrico, existe a massa extra do conjunto de baterias, condição que traz duas únicas vantagens: abaixa o centro de gravidade e distribui melhor o peso entre os dois eixos, fatores que contribuem com a estabilidade direcional destes modelos.
O Bolt pesa 1.616 kg e pode transportar até 478 kg de carga útil, isto é, o peso total de passageiros e bagagens. Ele não é homologado para puxar reboques.

Sua ergonomia é muito acertada. Todos os comandos estão à mão e não exigem amplos movimentos dos braços para serem acessados. Quase todos os equipamentos têm botões físicos, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
A parte mais alterada no interior do Bolt reestilizado foi o console central. Anteriormente, separado do painel principal, design usual em modelos futuristas, ele passou a ser inteiriço e conectado ao mesmo.
Também, perdeu a alavanca de comando, substituída por teclas individuais que habilitam o câmbio em “P”, “R”, “N” ou “D”, as tradicionais posições dos sistemas automáticos.
Ainda neste conjunto, existe a tecla de acionamento do one pedal, outra do freio de estacionamento e três botões de pressão para ativar o modo Sport, desativar o controle de estabilidade e desabilitar o reconhecimento de faixa de rodagem.
À frente destes, o carregador de celular. Sem contar com sistema de ventilação, ele aquece o aparelho ao carregá-lo. Abaixo de todo este conjunto, há um amplo espaço para objetos.

Diferente dos carros à combustão, os quadros de instrumentos digitais dos modelos elétricos priorizam informações sobre consumo e regeneração das baterias, assim como indicam se o carro está ligado ou pronto para partir, pois seus motores não emitem ruídos nem quando estão girando.
Com gráficos simples, didáticos e visíveis, no quadro de instrumentos principal é possível saber a autonomia média, máxima e mínima, o consumo energético ou a regeneração instantânea da carga, entre outras indicações.
Ao centro, além da velocidade em destaque, inúmeras informações podem ser exibidas à escolha do condutor.
Multimídia – O multimídia tem uma tela grande e oferece uma inclinação que facilita a utilização. O seu sistema é o mais moderno da linha Chevrolet.
Ele espelha smartphone sem cabo com precisão e tem programas nativos que podem ser usados com a internet embarcada. Essa é mais estável e rápida do que a de celulares, pois seu sinal é recebido por antena mais potente.

A disponibilidade do sinal permite o atendimento remoto do OnStar e outros recursos úteis, como indicar a localização de eletropostos.
O som assinado pela marca Bose reproduz áudio em altos volumes com pouca distorção nesta condição extrema. Graves e agudos sobressaem, faltando um pouco de médios, mas nada que comprometa a qualidade sonora geral.
A distribuição espacial do áudio é agradável, pois os alto-falantes estão espalhados por toda a cabine.
O ar-condicionado tem algumas teclas e botões físicos para quase todas as funções, porém, sua usabilidade não é das mais simples, pois eles são pequenos e muito parecidos uns com os outros.
Mas, em compensação, ele pode ser operado por página dedicada no multimídia, que é completa e muito visível.

O sistema é eficiente em intensidade de ventilação e na manutenção da temperatura. O tempo de resfriamento poderia ser melhor se houvesse saídas de ar para a parte traseira da cabine.
Modelo utiliza pacote tecnológico mais moderno e completo da Chevrolet
A câmera 360° ajuda bastante nas manobras de estacionamento, pois o vidro traseiro é pequeno e a traseira do Bolt é alta. Com visões em detalhe das rodas dianteiras e traseiras, da traseira e da frente do carro, essas imagens permitem acertar as balizas e saídas de ré com muito mais precisão.
Auxiliados pelos sensores sonoros de aproximação traseira e o alerta de movimentação traseira, este é um dos conjuntos mais completos oferecidos no mercado.
Também muito abrangente, o sistema de auxílio à condução do Bolt é o melhor entre todos que equipam os modelos da Chevrolet no Brasil.
Além da detecção de obstáculos com frenagem automática de emergência, do aviso de presença no ponto cego e da correção ativa de saída de faixa, ele conta com o controle de cruzeiro adaptativo, recurso que não contempla os outros modelos da marca.

E ele é dos mais modernos, pois imobiliza o veículo em paradas breves, em congestionamentos, e retoma o movimento automaticamente. Todos eles funcionaram com precisão, assim como a comutação automática entre o farol alto e baixo, tecnologia que complementa os dispositivos de segurança.
O volante, outra peça renovada na reestilização, ficou mais harmônico na cabine, pois o antigo era o mesmo de outros modelos à combustão e não combinava com o interior futurista do primeiro Bolt.
Ele conta com botões na frente e atrás que controlam quase todos os equipamentos de bordo. A direção elétrica tem calibragem adequada para todas as ocasiões. Talvez, fique um pouco pesada nas velocidades maiores, mas garante a segurança direcional em um carro tão potente.
Rodando – A robustez das suspensões chama a atenção. Mesmo calibrada para entregar mais estabilidade do que conforto, ela consegue isolar a cabine da maioria das imperfeições dos pisos e cumpre essa função silenciosamente, não atingindo o limite do seu curso.
Por outro lado, os painéis internos sofrem na buraqueira das nossas vias, rangendo com o excesso de torção ao qual o monobloco é submetido.

Como mencionamos anteriormente, o centro de gravidade do Bolt é muito baixo e o peso muito bem distribuído sobre os dois eixos. Sendo assim, ele contorna curvas em velocidades maiores de forma neutra, sem tender a sair de frente ou de traseira.
Em todos os elétricos que avaliamos, a dinâmica sempre sobressaiu às outras características. No caso do Bolt, o desempenho vai muito além do que a aparência sugere.
Sua aceleração é realmente esportiva. Segundo a GM, ele vai de 0 a 100 km/h em apenas 7,5 segundos. Para preservar a vida útil dos módulos da bateria, sua velocidade máxima é limitada aos 148 km/h.
A despeito da performance, o carro é muito silencioso, indicando o uso de bons materiais para o isolamento acústico dos ruídos externos, como os provenientes dos pneus e do vento contra a carroceria.
Regeneração das Baterias – Dois sistemas para a regeneração de carga das baterias são oferecidos no modelo.

O mais tradicional é o one pedal, recurso acionado por tecla que ativa a regeneração das baterias todas as vezes que se alivia o pé do acelerador. Desta forma, é possível dirigir usando apenas este pedal.
Como essa regeneração nem sempre é intensa o suficiente para segurar o carro em velocidades maiores, existe uma aleta atrás do volante (segundo sistema) que aumenta essa regeneração e, consequentemente, retém o modelo com mais eficácia, aplicando um freio motor muito útil, principalmente em decidas de serra.
Consumo – Mesmo com tamanho desempenho, o Bolt foi o elétrico mais econômico que já avaliamos em rodovias.
Em nossos testes padronizados aferimos o seu consumo em kWh a cada 100 km e convertemos para km/kWh, a medida que adotamos para os modelos 100% elétricos.
No teste de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e, outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta atingimos 8,7 km/kWh e, na mais rápida, 7,4 km/kWh.

No teste padronizado de consumo urbano, em um circuito de 6,3 km, realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso.
O Bolt finalizou este exigente teste com 7,1 km/kWh, uma média que só perde para o Fiat 500 elétrico, que atingiu 7,4 km/kWh, pois seu peso é menor e favorece o para e anda nos centros urbanos.
Considerando essas boas médias, o Bolt com 100% de carga em suas baterias pode atingir 574,2 km e 488,4 km circulando aos 90 e 110 km/h, respectivamente.
Em cidades com topografia muito acidentada, como simulamos em nosso teste, a autonomia pode chegar aos 468,6 km.
Lançado por R$ 175 mil antes da crise dos semicondutores, o Bolt já era muito caro para um modelo compacto, mesmo sendo 100% elétrico.
Fotos: Amintas Vidal
Agora, custando quase o dobro deste valor, ele continua uma vitrine de tecnologia da Chevrolet e um carro de nicho.
Mais prático e econômico do que os seus concorrentes diretos, ele é uma opção para quem pode pagar para desfrutar de suas virtudes e, ainda, ter muita diversão ao volante.
*Colaborador
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