Propulsor pode render até 170 cv e trabalha em conjunto com um câmbio CVT
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 30/09/2022)
A picape Renault Duster Oroch foi pioneira entre os modelos intermediários. Lançada em 2015, trazia todos os elementos estruturais e de design do SUV compacto que lhe deu origem.
Agora, na linha 2023, recebeu pequenas modificações externas e grandes mudanças internas. Desta vez, ela não acompanhou as atualizações visuais adotadas no Duster 2021. A Oroch ganhou alterações simplificadas por fora e uma cabine própria, diferente da do SUV.
Muito por isso, seu novo nome é Renault Oroch, deixando a alcunha Duster de lado. De todas as novidades da picape, a adoção do excelente motor turbo 1.3 TCe é o destaque.
O DC Auto recebeu a Oroch Outsider 1.3 TCe 16V para avaliação, versão de topo da gama. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 142,90 mil. A unidade avaliada contava com a nova cor cinza Lune, opcional que custa R$ 2 mil, elevando o seu preço para R$ 144,90 mil.
Vendida completa de série, seus principais equipamentos são: ar-condicionado automático e digital; multimídia com tela flutuante de 8 polegadas e espelhamento sem fio para Apple CarPlay e Android Auto; direção com assistência eletro-hidráulica; computador de bordo; sistema stop/start; vidros elétricos dianteiros e traseiros com um toque e antiesmagamento; volante e bancos revestidos com material sintético que imita o couro; maçanetas e retrovisores pintados em preto brilhante com indicadores de direção lateral; barras de teto longitudinais e funcionais e rodas em liga leve de 16 polegadas, diamantadas, com pneus de uso misto 215/65 R16.
Em segurança, os destaques são: controles de tração, estabilidade e anti-capotamento; dois airbags; freios ABS; travamento central automático com destravamento em caso de colisão; sensores de chuva e crepuscular; sensor de estacionamento com câmera de marcha à ré e DRL, faróis de neblina e de milha.
Motor – A Outsider é a única versão da Oroch equipada com o propulsor 1.3 TCe 16V, motor turbo desenvolvido pela Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi em parceria com a Daimler.
O seu volume total é 1.332 cm³ (333 cm³ por cilindro) e a taxa de compressão é de 10,5 /1. O bloco tem quatro cilindros em linha, cabeçote em formato delta, duplo comando tracionado por corrente e 16 válvulas com variação de abertura na admissão e no escape.
O sistema de injeção direta de combustível tem injetores centrais com seis furos que trabalham sob 250 bar de pressão. Seu turbocompressor atinge pressão máxima de 1.4 bar que é controlada eletronicamente pela válvula wastegate.
Além dessas tecnologias, diversos processos de revestimento de peças móveis, visando à redução de atrito entre elas, foram utilizados, inclusive, o Bore Spray Coating (BCS), tratamento superficial na parede dos cilindros que reduz o atrito com os anéis e pistões, recurso oriundo da divisão esportiva da Nissan, presente no GT-R, o famoso Godzilla.
Com todo este aparato técnico, seus números são expressivos. Ele atinge a potência de 170/162 cv às 5.500 rpm, com etanol e gasolina respectivamente, e seu torque máximo é de 27,5 kgmf às 1.600 rpm, com ambos os combustíveis.
Essa versão pesa 1.432 kg, resultando em 8,4 kg/cv e 52,1 kg/kgmf. Segundo a Renault, a Oroch turbo atinge os 100 km/h em 9,9 segundos e sua velocidade máxima é de 189 km/h.
A caixa de marchas CVT X-Tronic tem uma programação para simular oito velocidades que podem ser comutadas por meio da alavanca do câmbio. O acoplamento é feito por conversor de torque hidráulico, tradicional.
Desbravadora do segmento intermediário, a Oroch é menor que a picape Fiat Toro, sua única concorrente direta nesta categoria, e maior que a picape compacta Fiat Strada cabine dupla, a rival em preço das versões de entrada do modelo da Renault.
Quase como em uma categoria à parte, ela ganha em mobilidade da Toro e em espaço interno da Strada. Confirmada pela GM, a nova Chevrolet Montana chegará em breve para acirrar essa disputa, provavelmente, com dimensões mais próximas às da Oroch.
Diferentemente do Duster, a Oroch 2023 não ganhou uma nova carroceria, apenas novo para-choque dianteiro, grade principal maior, rodas, rack e santantônio redesenhados e lanternas escurecidas. Assim como o SUV, a picape recebeu um interior completamente novo.
Interior – O design da cabine poderia ser o mesmo do Duster, muito bem reprojetado para o modelo 2021, mas a Renault foi além.
Ela redesenhou o painel principal elevando a tela do multimídia, que ficou flutuante. Além disso, adotou o quadro de instrumentos do SUV Captur, que tem velocímetro digital e conta-giros analógico.
Essas duas mudanças tornaram a usabilidade da Oroch melhor do que a do Duster, pois a tela elevada e os grandes dígitos que indicam a velocidade permitem operação e visualização mais fáceis, incrementando a segurança.
No mais, quase todas as outras partes e peças são as mesmas do Duster, sendo as diferentes, apenas em função dos tamanhos e formas distintas das cabines.
Infelizmente, a Renault não usou os novos e ótimos bancos do SUV na picape. Acreditamos que as medidas internas divergentes entre os modelos obrigariam o reprojeto do banco traseiro, inviabilizando o compartilhamento das peças.
Os plásticos do interior continuam rígidos, mas a diversidade de texturas dos mesmos e os materiais metalizados usados em diversas peças internas garantiram uma aparência mais sofisticada que casou perfeitamente com o novo design da cabine.
Vale destacar que, tanto nas portas dianteiras, quanto nas traseiras, os descansos de braço são acolchoados, algo inexistente em diversos modelos concorrentes.
O interior da Oroch tem ótimo espaço para cabeça, ombro e pernas dos ocupantes da frente. Por priorizar a capacidade de carga, como a maioria das picapes, atrás existe menos área para as pernas em comparação ao Duster, mesmo sendo o entre-eixos da picape maior em relação ao do SUV: 2,83 metros contra 2,67 metros.
Mas, cabeças e ombros de dois adultos vão folgados na segunda fileira. E uma criança se acomoda muito bem na parte central do banco traseiro.
A ergonomia é acertada, os comandos estão à mão e não exigem grandes movimentações dos braços para serem alcançados. Como as janelas são grandes e a traseira não é tão alta, a visibilidade é melhor do que na maioria das picapes.
No caso específico da versão Outsider, a barra de proteção do vidro traseiro ficou muito mal posicionada, na linha de visão para um motorista de 1,70 metro. Se fosse dupla, e não simples, a eficiência seria melhor e a visibilidade não seria prejudicada. Achamos essa economia desnecessária e prejudicial à segurança.
Externamente, suas outras medidas são as seguintes: 4,72 metros de comprimento; 1,83 metro de largura (sem contar os retrovisores) e 1,69 metro de altura.
O seu diâmetro de giro é de 10,7 metros. Na caçamba cabem 683 litros e essa versão Outsider suporta 650 kg de carga total. O tanque de combustíveis comporta 55 litros.
Nos números para o fora de estrada, o ângulo de entrada foi aprimorado com o novo para-choque, subiu dos 26° para 27,5°. O ângulo de saída e a altura livre do solo continuam os mesmos: 22,4° e 212 mm.
Equipamentos – Entre os equipamentos de bordo, o ar-condicionado se destaca. Ele tem botões grandes, fáceis de manusear e providos de números e pictogramas visíveis, mesmo que posicionados um pouco baixos.
O sistema é eficiente em intensidade de ventilação, tempo de resfriamento e manutenção de temperatura, essa, regulável de meio em meio grau, o ideal. Atrás, não existem saídas para o ar refrigerado, apenas uma tomada de 12V.
O multimídia, agora, está muito bem posicionado. Contando com tela fosca, tipo que minimiza os reflexos, ele traz a interface mais nova da Renault, a única que espelha celulares sem fio.
Muito estável e com rápida ativação, seu espelhamento é um dos melhores do mercado. Em brilho, definição e tempo de processamento ele está na média da concorrência. Sua falha é não ter nenhum botão físico, todas as operações exigem toques na tela.
Um controlador satélite de uso cego, o mais seguro, minimiza a falta destes botões, pois controla o som e o telefone.
O sistema de áudio não é assinado pela Bose, como no Captur, e faltam potência e definição nas frequências sonoras. Mesmo assim, a distribuição espacial do áudio é agradável, vantagem que temos observado em picapes quando comparadas aos SUVs.
Ao contrário do conta-giros, do velocímetro e do marcador do nível de combustível que têm indicações em grafismos grandes e claros, os dígitos do computador de bordo são pequenos e formados com barras simples, característica que não facilita a leitura.
Mas, ele traz todas as informações necessárias para a navegação e algumas que não estão no painel, como o nível da temperatura do líquido de arrefecimento do motor, por exemplo.
A Oroch recebeu o volante da Renault que equipa seus modelos mais novos, como o Duster e o Captur, mas não ganhou o sistema de direção com assistência elétrica, como há nestes modelos.
Nela, foi mantido o sistema eletro-hidráulico, menos moderno. Ele usa um motor elétrico para acionar a bomba hidráulica da direção, aliviando o motor do carro desta função.
Melhor do que os sistemas puramente hidráulicos, e menos eficiente do que os elétricos, ele deixa a direção um pouco pesada em manobras de estacionamento e em baixas velocidades. Em velocidades maiores, o peso fica ideal, garantindo conforto e segurança ao mesmo tempo.
Suspensões – Como toda picape, a Oroch precisa transportar mais peso do que os outros automóveis. Sendo assim, suas suspensões são mais rígidas e trabalham em frequência mais alta quando o modelo não está carregado.
Porém, ela é equipada com sistema independente no eixo de trás, como a Toro, recurso que garante um comportamento mais neutro que em outras picapes que usam sistemas semi-indepedentes ou eixos rígidos e molas parabólicas.
Sobre ondulações e reparos no asfalto, as suspensões da Oroch isolam bastante a cabine e demonstram robustez, emitindo poucos e abafados ruídos no trabalho de amortecimento.
Em curvas, elas não deixam a carroceria inclinar em demasia, mas os pneus de uso misto exigem cautela, pois sua aderência não é a mesma dos pneus dedicados ao asfalto.
Mesmo não tendo a carroceria tão elevada, a Oroch passou por lombadas e acessou rampas sem raspar para-choques ou o seu fundo. Na terra, ela transpôs as irregularidades com boa tração dos pneus e ótimo controle direcional.
O trabalho das suspensões é eficiente para um fora de estrada leve e no limite para um trecho moderado, o esperado para uma picape 4×2.
Por não ser tão alta e nem tão cumprida, a Oroch é mais prática do que a Toro no dia a dia, facilitando o embarque e o desembarque de pessoas e cargas e, principalmente, em manobras de estacionamento e para circular em centros urbanos.
O modelo da Renault ficou devendo uma mola de torção na tampa da caçamba para melhorar, ainda mais, a comodidade, pois ela é muito pesada, característica que não contribui no trabalho de abertura e fechamento da mesma.
Pelo menos, todas as versões trazem de série a proteção plástica da caçamba. A capota marítima é exclusiva desta versão.
Eficiência energética da picape da Renault surpreende
Os últimos três carros que avaliamos tinham motor turbo acima de um litro, assim como essa versão da Oroch. Não por acaso, o desempenho é o destaque destes modelos.
Mesmo com volumes diferentes, 1.6 no Citroën C4 Cactus, 1.4 no Chevrolet Cruze hatch e 1.3 no Jeep Renegade e na Oroch, todos têm tecnologias semelhantes, além de números de potência e torque próximos. Dessa forma, mostram comportamento parecido.
Mas, cada um tem suas particularidades. No caso da Oroch, circulando em rodovias, o arrasto aerodinâmico sobressai. Em velocidade de cruzeiro, o atrito dos pneus e o ruído do motor quase não são ouvidos.
Porém, quando se acelera mais forte, acima das 2.500 rpm, o barulho do motor invade a cabine, mais grave que estridente, não incomodando muito.
Aos 90 km/h, com o câmbio em “D” e no piso plano, a programação do CVT consegue deixar o conjunto em uma rotação muito baixa, às 1.500 rpm. Aos 110 km/h, nas mesmas condições, a rotação fica às 1.900 rpm.
Como o torque máximo já está presente nesse regime de trabalho, a Oroch reage bem às acelerações, sem necessitar reduzir as relações, como fazem os câmbios CVT quando ligados a motores aspirados, pois estes só atingem torque total acima do dobro de rotações.
Além de ser muito confortável acusticamente essa característica da Oroch, ela passa a sensação de eficiência, diferente desta situação com os motores sem turbo.
Em descidas, por meio dos sensores de inclinação, a programação do câmbio reduz a sua relação, colocando o carro em freio motor.
Para quem não tem este bom hábito para a economia de combustível e para não sobrecarregar os freios, este recurso é muito útil. Mas, para quem sabe andar economicamente, usando o freio motor sem desperdiçar o embalo, nem tanto, pois ele é muito intrusivo e atrapalha o deslocamento por inércia.
O melhor do conjunto é o quanto o desempenho melhorou em relação ao motor 1.6 e, até mesmo, ao 2.0, ambos aspirados.
Pisando fundo no pedal da direita, os pneus dianteiros cantam, a rotação sobe rapidamente e as oito marchas simuladas são trocadas com muita agilidade, uma sobre a outra, garantindo muita desenvoltura à picape.
Se não chega ser um desempenho muito esportivo, para o tamanho e peso do modelo sobra disposição, algo importante para garantir segurança em ultrapassagens, por exemplo.
As trocas manuais na alavanca estão corretas. Com deslocamento dela feito na longitudinal, as marchas são reduzidas para frente e avançadas para trás.
Relativamente permissivo, o sistema merecia aletas atrás do volante, equipamento que garantiria melhor usabilidade ao facilitar as trocas esportivas ou as antecipadas, que melhoram o consumo de combustível.
Consumo – Para uma picape com este peso e desempenho, a Oroch se mostrou econômica rodando com gasolina.
Em nosso teste padronizado de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta atingimos 15,3 km/l. Na mais rápida, 12,7 km/l.
Nosso teste padronizado de consumo urbano é realizado em um circuito de 6,3 km. São quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso.
A Oroch finalizou este exigente teste com 8,7 km/l. O resultado poderia ter sido melhor, mas o sistema stop/start, útil para economizar combustível nas paradas simuladas em semáforos, não estava funcionando na unidade avaliada.
A Renault Oroch nunca teve um motor tão eficiente. Nem mesmo um câmbio tão moderno, pelo menos acompanhando o finado motor 2.0 aspirado, pois este fazia par a um câmbio automático convencional de quatro marchas.
Agora, com o interior atualizado e este moderno motor turbo 1.3 TCe 16V acoplado ao câmbio CVT, ela tem um dos melhores conjuntos para brigar com as picapes que já estão no mercado e as que chegarão futuramente.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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