Versão do hatch compacto pode receber este “pacote” nas motorizações 1.0 e 1.3
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 28/05/2021)

Até 2015, hatches e sedans dominavam o nosso mercado. Entre os 50 automóveis mais vendidos, 37 eram representantes de um destes dois segmentos. Dos dez mais emplacados naquele ano, os oito primeiros eram hatches compactos, o 9º um sedan compacto e, o 10º, um sedan médio.
Menos de seis anos depois, o cenário atual indica uma grande mudança. No fechamento do primeiro quadrimestre deste ano, apenas 28 modelos são hatches ou sedans. Os SUVs já contabilizam 19 representantes.
Na ponta, essa diferença é ainda mais relevante, pois, normalmente, os mais vendidos eram os modelos mais baratos. Agora, entre os 10 mais emplacados, 4 são SUVs, 5 são hatches, e 1 é sedan.
É curioso observar que, nesta lista, nove SUVs estão entre os modelos modelos mais vendidos. O Jeep Renegade é o terceiro automóvel mais emplacado e, da 8ª à 15ª posições temos oito veículos utilitários esportivos, isto é, entre os quinze carros preferidos pelos brasileiros em 2021, 60% são desta categoria.

Também chama atenção o fato das picapes da Fiat, Strada e Toro, que fazem parte dos veículos comerciais leves, venderem mais que a maioria dos automóveis. A Strada é o veículo mais vendido em 2021, até agora, e a Toro, é o 6º nessa mesma comparação, segundo dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Nesta tendência de crescimento nas vendas de SUVs e picapes, as montadoras estão pesando a mão nos equipamentos dos hatches e sedans compactos para mantê-los atrativos.
No caso do Fiat Argo Drive, versão intermediária, o opcional S-Design agrega, entre outros equipamentos, chave presencial e ar-condicionado automático digital, recursos mais comuns em variantes de topo de linha ou em segmentos superiores.
O DC Auto recebeu, para avaliação, o Fiat Argo Drive 1.3, linha 2021. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 67,79 mil. Este valor só se aplica à cor preta sólida Vulcano. As outras cores sólidas custam R$ 950,00 e, as metálicas ou a perolizada branca, R$ 1,80 mil.

Equipamentos – Os principais equipamentos, de série, da versão Drive 1.3 são: central multimídia de 7 polegadas touchscreen com Android Auto e Apple Car Play, bluetooth e 2 entradas USB; direção elétrica progressiva e volante com regulagem em altura e com comandos de rádio e telefone; vidros elétricos dianteiros e traseiros com one touch e antiesmagamento; quadro de instrumentos de 3,5 polegadas em TFT personalizável e computador de bordo com seis funções.
Em termos de segurança temos: airbag duplo; freios ABS com EBD; fixação para cadeira de criança (Isofix); cintos de segurança de três pontos e encosto de cabeça para os três passageiros do banco de trás, ESS (sinalização de frenagem de emergência); luz de condução diurna em LED; retrovisores externos elétricos com sistema Tilt Down e setas de direção integradas; sensor de estacionamento traseiro com visualizador gráfico e sistema de monitoramento de pressão dos pneus são os principais equipamentos.
O opcional S-Design custa R$ 3,90 mil, quase 6% do valor da versão, mas faz muita diferença. Ele traz: faróis de neblina; chave presencial; ar-condicionado digital; ESC (controle de estabilidade); Hill Holder (auxílio para saídas em inclinações); TC (controle de tração); retrovisores e spoiler traseiro com acabamento em preto brilhante; rodas em liga leve de 15 polegadas com acabamento escurecido e pneus 185/60; emblemas, revestimentos e detalhes internos escurecidos e assinatura lateral S-Design.
Powertrain – O motor da versão é o Firefly 1.3 de quatro cilindros. Seu cabeçote tem comando de válvulas simples tracionado por corrente com variação de abertura na admissão e na exaltação.

Com alta taxa de compressão, 13.2/1, seu torque máximo é 14,2/13,7 kgmf às 3.500 rpm e a potência atinge 109/101 cv às 6.250 rpm, com etanol e gasolina, respectivamente. O câmbio é manual de cinco marchas com embreagem monodisco a seco.
O porta-malas do Argo comporta 300 litros e, o tanque de combustíveis, 48 litros. Suas dimensões são: 3,99 metros de comprimento, 2,52 metros de distância entre-eixos, 1,96 metro de largura (considerando os retrovisores), 1,51 metro de altura e 14,9 centímetros de vão livre.
S-Design – O “S” do opcional S-Design vem da palavra shadow, sombra, em inglês. Entre os seus diferenciais, os revestimentos e peças em preto ou cinza escuro compõem este recurso de estilo.
Eles deixam a versão Drive mais esportiva, é certo, mas o design continua sobressaindo ao acabamento mais simples e ao revestimento dos bancos em tecido.

Peças volumosas e texturas são mais abundantes que a variedade dos materiais e as cores. A faixa central do painel pintada em cinza metálico é a exceção.
No mais, quase todas as partes são feitas em plástico rígido preto e sem pintura. Apenas pequenos detalhes cromados e cinzas claro quebram a monotonia cromática e conferem alguma sofisticação ao interior.
A ergonomia é boa, com bom espaço para pernas, ombros e cabeças de quatro adultos e uma criança na posição central do banco de trás. Os bancos seguram bem os ocupantes, mas poderiam ter espuma com maior densidade para não cansá-los em viagens.
Os pedais estão mais deslocados para a direita que o ideal, provocando leve desalinhamento das pernas em relação aos braços do motorista. Todos os comandos estão à mão, sem necessidade de alteração na postura para operá-los.

Os puxadores das portas dianteiras são muito salientes e facilitam bastante o fechamento das mesmas, mas, atrapalham um pouco a sua abertura e chegam a limitar o espaço para as pernas de pessoas mais altas sentadas nos bancos da frente.
Tecnologias – A central multimídia e o ar-condicionado digital têm botões físicos, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal. Controles do computador de bordo, telefonia e sistema de som estão distribuídos na frente e atrás do volante.
Pareando ou espelhando o celular, o sistema funcionou com perfeição. Tamanho da tela, definição, sensibilidade ao toque e velocidade de processamento deste multimídia estão na média do mercado. A qualidade sonora é muito boa para um sistema comum, sem um projeto assinado por marca especializada em áudio.
O ar-condicionado é eficiente, mesmo não permitindo regulagem em duas zonas. Quanto ao tempo de resfriamento e à manutenção de temperatura ele atende bem para um carro deste segmento. Não existe saída de ar para os passageiros do banco traseiro, recurso cada vez mais exigido.

O computador de bordo tem uma tela pequena e monocromática, mas suas informações são múltiplas, bem visíveis e facilmente controladas por meio de botões na parte frontal do volante, assim como as funções de telefonia.
Os controles cegos, corretamente posicionados atrás do volante, comandam todas as funções de áudio, nativas do sistema ou conectadas ao mesmo.
A direção elétrica é muito leve para manobras de estacionamento, tem peso correto em estradas, mas poderia ser um pouco mais leve em velocidades intermediárias. Com tanto equipamento embarcado, fez falta a câmera para auxílio de manobras em marcha à ré, item que não é oferecido nem como acessório a ser instalado nas concessionárias da marca.
Diferença no consumo entre os motores é pequena
As suspensões do Argo trabalham em silêncio e não aparentam sofrer para superar nossas vias mal conservadas. Elas transferem algumas vibrações para interior do carro, o esperado para um modelo dessa categoria.

Elas entregam mais estabilidade que os antigos modelos da marca, como o Palio, mas ainda privilegiam o conforto, porém, de forma bem mais equilibrada entre assas características antagônicas.
Os motores Firefly, 1.0 e 1.3, são iguais, compartilham as mesmas peças e tecnologias. Eles só se diferenciam pelo número de cilindros. Com 333 cm³ em cada cavidade, o 1.0, de três cilindros tem, na verdade, 999 cm³. Já o 1.3, de quatro cilindros tem 1.332 cm³. Ambos são adequados aos pesos de cada versão do Argo, respectivamente, 1.077 kg e 1.140 kg.
Além das diferenças de potência e torque, que mudam o comportamento do modelo com os dois propulsores, existem detalhes que fazem eles parecerem motores muito distintos, mesmo não sendo.
O 1.0 vibra mais quando em marcha lenta. Obviamente, ele exige maior aceleração para tirar o carro da inércia. O seu ruído mais grave e o funcionamento mais “macio” são suas vantagens.

O motor 1.3, desta avaliação, é superior, sem dúvida. Ele não vibra tanto com o carro parado e entrega um bom desempenho ao Argo. As acelerações e retomadas são vigorosas, pois ele é elástico e mantém a entrega de torque e potência por uma ampla faixa de rotação.
Este desempenho cobra um preço: seu ruído é mais estridente e o funcionamento mais áspero, características quase opostas às do motor tricilíndrico.
Mesmo neste conjunto mais potente, a Fiat optou em manter uma relação curta das marchas. No trânsito urbano, o Argo é ágil e leve para trafegar. Em estradas, este acerto não favorece acusticamente e no consumo de combustíveis. Ter uma sexta marcha longa seria o ideal.
Aos 110 km/h e de quinta marcha, o motor trabalha aos 3.200 rpm. Nessas condições, é preciso manter o pé no acelerador, pois, ao tirá-lo, o carro entra em freio motor e perde velocidade. O seu ruído e o do vento contra a carroceria invadem a cabine, porém, contidamente, atestando um bom isolamento acústico.

Aos 90 km/h, também em quinta marcha, a unidade avaliada apresentou um ruído de funcionamento do diferencial acima do normal. Acreditamos que seja um defeito pontual que possa ser corrigido pela Fiat. O câmbio tem engates precisos, a despeito do longo curso da alavanca e dos batentes muito moles.
Consumo – Comparando os testes padronizados de consumo do Argo Drive 1.0, que fizemos no ano passado, com os números do Argo Drive 1.3 desta avaliação, concluímos que o motor maior é mais eficiente em estradas e o menor se sai melhor em cidades, porém, as diferenças são pequenas.
Em nosso circuito rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,4 km, uma mantendo 90 km/h e outra os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta atingimos 13,1 km/l com o motor 1.0 e 13,9 km/l com o 1.3.
Na mais rápida, 11,8 km/l com o motor tricilíndrico e 12,2 km/l com o motor de quatro cilindros, sempre com etanol no tanque.
Fotos: Amintas Vidal
Em nosso circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso.
Nessas condições severas, o Argo 1.0 finalizou o teste com 8,3 km/l e, o Argo 1.3, atingiu 8,2 km/l, igualmente com etanol.
Independente da escolha do motor, 1.0 ou 1.3, o Argo Drive entrega um desempenho até superior à expectativa gerada pelos volumes cúbicos de cada um deles.
Contudo, são ótimas compras entre as demais versões, uma vez que eles são bem equipados de série. Porém, o opcional S-Design, mesmo caro, transforma a versão em um carro com equipamentos superiores aos outros concorrentes intermediários, tornando sua aquisição quase obrigatória.
*Colaborador
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