Versão avaliada, Platinum, conta com motor 1.0 turbo flex capaz de gerar 120 cv
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 25/02/2022)
A Hyundai ficou famosa no Brasil ao vender SUVs médios e grandes, como o Veracruz, o SantaFe e o Tucson. Só em 2017, ela lançou seu primeiro SUV compacto, o Creta.
Baseado sobre a plataforma do Elantra, um sedan médio-compacto, ele se destacou por seu ótimo espaço interno e design conservador.
Em cinco anos de mercado, ele foi o segundo modelo mais emplacado em 2018, o terceiro em 2017, 2019 e 2021 e o quarto em 2020, entre os SUVs compactos, de acordo com os dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Ano passado, em agosto, chegou a segunda geração do modelo. Ao contrário da primeira, seu design é muito ousado e causou polêmica nas redes sociais.
Porém, suas vendas continuaram em alta, sinalizando melhor aceitação que o esperado pela crítica. Assim como ocorreu na renovação do hatch HB20 que, em princípio, parecia muito exótico para disputar o segmento de entrada, mas hoje é o líder entre os automóveis.
O DC Auto recebeu o novo Creta Platinum 2022 para avaliação, versão mais equipada disponível com o motor 1.0 turbo. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 148,49 mil, R$ 13 mil acima do valor de lançamento.
Este é o preço básico na cor preta sólida. A cor branca, também sólida, custa mais R$ 700,00. Cores metálicas, ou a azul perolizada, acrescem R$ 1,60 mil à etiqueta. Com o teto em preto, é possível combinar a cor sólida branca por R$ 2,20 mil, ou uma das metálicas, por R$ 3,10 mil.
Na versão Platinum, os equipamentos diferenciados são: teto solar panorâmico com comando elétrico para vidro e cortina; quadro de instrumentos digital; sistema de multimídia com tela de 10,25 polegadas’, GPS nativo e espelhamento de smartphones com fio; freio de estacionamento elétrico com retentor de movimento em semáforos; carregador de celular por indução; bancos com sistema de ventilação para o motorista e revestimento em material sintético que imita o couro na cor marrom e rodas em liga leve de 17 polegadas diamantadas.
Os sistemas de segurança em destaque são: câmeras com visão 360° e visualização dos pontos cegos no painel de instrumentos; seis airbags; controles de tração, de estabilidade e de arrancadas em subidas; sensor de monitoramento da pressão dos pneus e luzes diurnas em LED.
Motor e Câmbio – A Hyundai ainda oferece o Creta de primeira geração em uma única versão, a Action, equipada com o motor 1.6 aspirado.
Nesta segunda geração, são quatro versões. A de topo da gama, Ultimate, tem motor 2.0, também aspirado. As outras três, como essa Platinum, usa o motor Kappa 1.0 Turbo GDI.
Bicombustível, ele tem bloco de três cilindros, injeção direta, duplo comando de válvulas acionado por corrente com variação de abertura, tanto na admissão como no escape. Desenvolve 120 cv às 6.000 rpm e tem torque de 17,5 kgfm ás 1.500 ppm, com etanol ou gasolina.
O câmbio é automático convencional com seis (6) marchas e conversor de torque. Ele permite comutação manual das marchas por meio da alavanca de câmbio ou das aletas atrás do volante. O sistema tem seletor do modo de condução com programação normal, sport ou econômico.
Externamente, o Creta abandonou o visual genérico de SUV e adotou a nova linguagem da marca. Difícil de definir, ela mescla elementos antigos e modernos, todos volumosos e marcantes.
A grade hexagonal tem moldura cromada e tela imitando alumínio fosco, essa, estruturada em colmeia alongada, composição mais clássica que tenta se equilibrar ao conjunto ótico tripartido, recurso mais moderno. Vincos salientes do capô e abertura generosa na base do para-choque dão alguma dinâmica à dianteira.
Nas laterais, partes volumosas e vincos bem marcados conferem força ao visual do SUV, tudo como manda a regra da “musculatura” na categoria. Porém, exageraram no suplemento, resultando em um “físico bombado”. O encontro do teto com o para-brisa, ângulo espelhado no recorte das janelas dianteiras, é a maior semelhança visual entre as duas gerações do modelo.
O conjunto ótico da traseira replica a tríade das luzes dianteiras, talvez, a maior inovação deste design. Faróis repartidos são mais comuns, lanternas traseiras, não. A tampa traseira apresenta linhas diagonais que seguem o desenho das lanternas, tanto em seu recorte de abertura, quanto em alguns vincos.
Um enorme extrator no para-choque com acabamento tipo alumínio fosco quebra a modernidade da retaguarda e causa o mesmo conflito de estilo ocorrido na dianteira.
Com tantos diferenciais estéticos, o Creta não passa despercebido, virando cabeças nas ruas e gerando perguntas sobre o SUV “diferentão”. Ele está longe de ser o mais atrativo do segmento, divide opiniões, mas todos concordaram que o modelo é bem mais bonito ao vivo do que em fotos.
Interior – Internamente, as mudanças foram bem mais contidas. Aparentemente, a intenção da Hyundai foi acabar com a cara de HB20 que a antiga geração ostentava. A segmentação interna em três partes e estruturada em forma de “T” foi mantida, inclusive, realçada.
Agora, o console central se estende até o vidro dianteiro, passando sobre o painel, destacado alguns centímetros do mesmo. Mais retangular e menos orgânico que o design da antiga geração, este conjunto combina mais com um SUV, mas poderia trazer a modernidade do exterior.
A qualidade das peças internas se manteve. Elas estão bem injetadas e montadas corretamente. O plástico duro predomina, como ocorre com os principais concorrentes do Creta, mas apliques em preto brilhante e imitando alumínio fosco elevam o requinte do interior, assim como a tonalidade marrom em algumas partes rígidas que combinam com o revestimento dos bancos.
Apesar de utilizar a mesma plataforma da antiga geração, este novo Creta recebeu algumas alterações em suas dimensões. Apenas duas impactam no uso do modelo: a distância entre-eixos aumentou de 2,59 metros para 2,61 metros, espaço aproveitado no banco traseiro. Com isso, o porta-malas perdeu 9 litros, caindo dos 431 para 422 litros.
As outras medidas do novo Hyundai Creta são: 4,29 metros de comprimento; 1,79 metro de largura e 1,63 metro de altura. O vão livre do solo é de 190 mm e seus ângulos de ataque e saída são 20,4° e 28,3°, respectivamente. Ele pesa 1.270 kg e sua capacidade de carga é de 430 kg. No tanque de combustíveis cabem 50 litros.
No mais, a cabine do Creta continua uma das mais amplas do segmento, garantindo conforto para quatro adultos e uma criança que contam com ótimo espaço para cabeças, ombros e pernas. O teto solar panorâmico é realmente grande, se estende sobre todos os bancos e amplia a percepção de espaço no interior do modelo.
A ergonomia é acertada, os comandos estão à mão. Todos os equipamentos têm botões físicos, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
Apesar destes acertos, a Hyundai pecou por excesso. Só no multimídia, ar-condicionado e no volante, sem considerar os comandos satélites e os posicionados nas portas e no console central, existem 28 botões.
Além de parecidos e sinalizados com letras pequenas, eles são muito próximos e difíceis de serem identificados, exigindo desviar a atenção da via para conseguir operar os sistemas.
Tecnologias – Entre os muitos recursos embarcados, dois se destacam. O sistema de câmeras 360° é dos melhores entre todos os segmentos. Ele é ativado automaticamente nas manobras de marcha à ré e reproduz a visão do carro se deslocando no ambiente e a projeção da sua trajetória por meio de linhas dinâmicas, tanto na traseira, quanto na dianteira.
Em um botão no console central, é possível comutar entre as câmeras e escolher o melhor ângulo a ser visto em cada situação específica. Nos deslocamentos para frente, em velocidades de manobra, também é possível ativar todas as câmeras manualmente.
Seu grande diferencial é o monitoramento do ponto cego, recurso que complementa a ótima visão lateral propiciada por generosos retrovisores.
Quando a seta do carro é acionada, a imagem da câmera lateral é projetada no quadro de instrumentos para mostrar áreas que os espelhos não abrangem, como pontos bloqueados pela larga coluna “C”, por exemplo.
O GPS embarcado é outro auxílio acima da média. Ele notifica por voz qualquer tipo de radar com precisão e emite alerta sonoro quando o veículo se aproxima deles em velocidade superior à permitida.
Todo este monitoramento ocorre em tempo integral, mesmo quando o sistema não está seguindo uma rota determinada ou quando está desativado no multimídia.
Em navegação, ele reconhece o tráfego das vias, tornando o seu funcionamento mais aproximado aos dos aplicativos de GPS para celulares.
Essa versão conta com chip de celular para rede de dados 4G, mas não disponibiliza o sinal de internet para os passageiros. Por meio do Bluelink, aplicativo da Hyundai, é possível operar diversas funções do Creta.
Ligar o carro e o ar-condicionado remotamente, visualizar as câmeras para inspecionar as imediações do local de estacionamento ou rastrear e imobilizar o veículo furtado são algumas das inúmeras funções deste sistema.
Com rodas de 17 polegadas, modelo se destaca pelo conforto ao rodar
O multimídia tem uma tela grande, 10,25 polegadas na diagonal, mas como sua proporção não é de 16:9, a padrão, e sim um formato mais alongado na horizontal, nem todos os aplicativos aproveitam essa área por inteiro.
O Android Auto, por exemplo, fica no tamanho de uma tela de 8 polegadas, ou um pouco maior. Detalhe à parte, o equipamento tem ótimos brilho, sensibilidade ao toque e velocidade de processamento.
Como no caso dos botões, existe um grande número de recursos que acabam por encher a tela e dificultar um pouco a operação. A qualidade do áudio é boa para um sistema sem preparação por empresa especializada em sonorização.
O quadro de instrumentos tem marcadores analógicos para a rotação do motor, nível de combustíveis e temperatura do arrefecimento. Luzes espias aparecem abaixo dos mesmos.
Ao centro, uma tela de 7 polegadas exibe velocímetro com ponteiro, número variável, ou os dois grafismos ao mesmo tempo. Todas as outras informações do computador de bordo, complementares do carro e provenientes do multimídia dividem este mesmo painel digital em diagramações diversas.
O ar-condicionado é automático e digital de zona única. Ele é eficiente no tempo de resfriamento e na manutenção da temperatura. Seu funcionamento não é excessivamente ruidoso e o volume de ar é satisfatório. Existem saídas para o banco traseiro, recurso que contribui para o seu desempenho.
O volante redesenhado é pequeno, tem ótima empunhadura e sua assistência elétrica é suficiente para garantir conforto em manobras, porém, a direção não fica extremamente leve. Em velocidade média e alta, o peso é adequado para entregar segurança direcional sem cansar o condutor em rodovias sinuosas.
Rodando – Existe uma característica nos carros da Hyundai que nos agrada muito. Ela não se rende ao modismo das rodas enormes com pneus de perfil muito baixo. Essa versão, a segunda mais cara, usa rodas de 17 polegadas’, pneus com 215 mm de largura e “ombro” com 60% desta medida, isto é, 129 mm de flanco. Por si só, este conjunto começa entregar conforto ao rodar.
Mesmo com cargas maiores nos amortecedores e molas, algo que resulta em boa estabilidade para um SUV, mas faz o conjunto trabalhar em uma frequência um pouco mais alta, o Creta se mantém confortável e bem isolado das irregularidades dos pisos.
O motor de três cilindros acoplado ao câmbio automático de seis marchas é um conjunto muito bem dimensionado para a proposta familiar do modelo.
Ele garante arrancadas e retomadas seguras, sem transformar o Creta em um esportivo, é certo, mas entrega o necessário para um deslocamento esperto no trânsito e uma condução fluída em estradas.
Aos 110 km/h e de sexta marcha, o motor trabalha às 2.600 rpm. Não é um regime de funcionamento muito baixo, mas o carro anda solto, aproveitando todo o deslocamento por inércia, característica que favorece a economia de combustível e o conforto ao rodar.
Nessas condições, o isolamento acústico cumpre o seu papel e pouco deixa o ruído do motor, do atrito dos pneus e do vento contra a carroceria invadirem a cabine.
Em rotações mais elevadas do motor, ele se faz presente, mas como em todos os modelos tricilíndricos, seu ruído é mais grave, não é estridente, um som que lembra ao longe os motores de seis cilindros, mais uma vantagem destes propulsores.
Além do modo automático convencional, existem recursos para o controle manual das marchas e do modo de resposta do motor e câmbio. Puxando a alavanca de marchas para a esquerda, o câmbio fica somente em manual e as marchas podem ser trocadas por essa mesma alavanca ou nas aletas atrás do volante.
Essas mesmas aletas podem cambiar as marchas a qualquer momento, mesmo se a alavanca estiver em “D”. Neste caso, o sistema retorna ao automático após um intervalo sem que o motorista use a troca manual.
Em um botão giratório, localizado no console central, é possível mudar os parâmetros de funcionamento do conjunto mecânico. No Sport, as trocas de marchas são retardadas até o motor atingir rotações mais elevadas que no modo normal.
No Eco, as mesmas são antecipadas para manter o giro mais baixo possível. A resposta ao acelerador também é alterada nestes modos diferenciados. Estes recursos de programação ajudam um pouco no desempenho e na economia de combustível, respectivamente.
Porém, usar as aletas para acionar o freio motor, ou para antecipar as trocas de marchas, é mais importante no consumo que as próprias programações, mesmo sendo este sistema pouco permissivo em reduzir para a segunda ou a primeira marcha.
Consumo – Em nossos testes de consumo rodoviário padronizado, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o Creta 1.0 turbo registrou 12,9 km/l. Na mais rápida, 11,2 km/l, sempre com etanol no tanque.
No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazendo 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.
Neste severo teste, o Creta atingiu a média de 7,4 km/l, também com etanol. O sistema stop/start funcionou com precisão nas paradas.
Fotos: Amintas Vidal
Todas as quatro versões do novo Hyundai Creta são bem equipadas. As diferenças de preços giram entre R$ 15 mil e R$ 17 mil. As três primeiras têm o mesmo conjunto mecânico e os equipamentos mais importantes.
Entre outros diferenciais, a Platinum traz o teto solar, o ar-condicionado digital e o sistema de câmeras 360° que podem justificar o seu preço superior. Quem quiser os desejados auxílios de condução semiautônoma, terá que investir mais para adquirir a Ultimate, versão de topo de linha.
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