Último monovolume nacional, modelo utiliza o já conhecido motor 1.8 8V
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 27/01/2023)
Sucesso entre o final dos anos 1990, até a metade da década seguinte, os monovolumes sucumbiram ao modismo dos SUVs.
Mais espaçosos, seguros e econômicos do que os utilitários, eles foram preteridos por escolhas emocionais e, não, racionais. Atualmente, só o Chevrolet Spin defende a categoria entre os modelos nacionais.
No fechamento de 2022, foram emplacadas 17.816 unidades do monovolume Spin, uma honrosa 25ª posição entre os 50 automóveis mais vendidos no ano passado, segundo dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O DC Auto recebeu o Chevrolet Spin Activ7 (2023), automático, para avaliação. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 132,95 mil, na cor branca, única opção de pintura sólida. As cores metálicas custam R$ 1,75 mil, finalizando o preço desta unidade avaliada em R$ 134,7 mil.
A versão vem equipada de série e não oferece opcionais. Os principais equipamentos são: sistema de atendimento remoto OnStar; multimídia Chevrolet MyLink com tela LCD de 7 polegadas sensível ao toque, espelhamento por Android Auto e Apple CarPlay com fio e pareamento por bluetooth; direção elétrica com coluna regulável em altura; volante com os comandos do rádio, do celular e do controlador de velocidade de cruzeiro; ar-condicionado analógico; vidro elétrico nas quatro portas com acionamento por um toque; roda em alumínio diamantada aro 16 polegadas com pneus de uso misto 205/60 R16 e conjunto de bancos modulares para sete lugares com revestimento misto em tecido e material sintético que imita o couro.
Os equipamentos de segurança vão um pouco além dos obrigatórios: airbag duplo; ABS; controle eletrônico de estabilidade e tração; assistente de partida em aclive; sistema de fixação de cadeiras para crianças (Isofix e Top Tether); sensores crepuscular e de chuva; regulagem de altura dos faróis; luz de posição em LED; faróis de neblina e sensor de estacionamento traseiro com câmera de marcha à ré são os destaques.
Motor e Câmbio – O motor é o já conhecido 1.8 8V bicombustível com injeção indireta multiponto. Seu comando de válvulas é simples e tracionado por correia dentada. Ele rende 111/106 cv às 5.200 rpm e tem torque de 17,7/16,8 kgfm às 2.600 rpm com etanol e gasolina, respectivamente.
O motor do Spin é aspirado e antigo, mas isso é bom. Vamos explicar. Se fosse um motor turbo, moderno e de pequeno volume, seria o ideal. Não sendo, é melhor que seja assim como é: quatro cilindros com comando de válvulas simples e duas válvulas por cilindro.
Os motores aspirados modernos contam com comando duplo e quatro válvulas por cilindro com aberturas variáveis, mas, mesmo assim, só entregam torque em altas rotações, característica esportiva que não favorece a economia de combustível e nem o seu uso urbano.
Este motor 1.8 com oito válvulas atinge torque máximo às 2.600 rpm, enquanto os aspirados mais modernos só fazem isso acima das 4.000 rpm.
Contudo, mesmo mais simples, ele casa muito bem com o câmbio, o suficiente para um bom desempenho, atendendo ao propósito familiar do monovolume.
Falando nisso, o câmbio é automático convencional com seis (6) marchas. Ele permite comutação das mesmas por meio de botão posicionado na lateral da manopla da alavanca. O acoplamento é feito por conversor de torque convencional.
O Spin foi lançado em 2012, um monovolume baseado na plataforma do Onix e do Prisma, hatch e sedan compacto que estrearam um ano antes. Os dois últimos já estão em uma nova geração.
O Spin continua com o mesmo conjunto mecânico, interior quase sem alterações e exterior modificado, porém, na mesma geração. Para o bem, ou para o mal, ele carrega virtudes e limitações de ser um projeto veterano.
Típico monovolume, a arquitetura do Spin é voltada para o melhor aproveitamento possível do espaço. As laterais são quase paralelas, isto é, o teto é um pouco mais estreito do que a base do carro. Essa estrutura quadrada não ajuda na estética, mas amplia muito o volume interno
Sete Lugares – Comprido, o modelo possui três fileiras de bancos, sete lugares no total, todos com encosto de cabeça e cinto de três pontos, como manda a legislação vigente.
Na segunda fileira, o banco bipartido corre sobre trilhos, as duas partes separadamente, para ajustar as suas posições conforme o tamanho das pernas dos passageiros.
Os encostos, inclusive na terceira fileira, permitem regulagens de inclinação, mais um recurso útil para alcançar a melhor configuração para todos.
Quatro adultos e três crianças andam com conforto, considerando que este é um carro compacto. Acertando as regulagens possíveis, até sete adultos cabem no carro, quatro com relativo conforto mas, três, apertados.
O volume no porta-malas varia com as configurações dos bancos. Com sete ocupantes, este espaço é de apenas 162 litros, mas sobe para 553 litros sem ninguém na terceira fileira e o banco rebatido.
Segundo a GM, rebatendo todos os encostos da segunda e da terceira fileira, a área para bagagem ultrapassa os 1.000 litros.
No tanque de combustíveis do Spin cabem bons 53 litros. Sua carroceria mede 4,41 metros de comprimento; 1,76 metro de largura; 1,69 metro de altura e 2,62 metros de distância entre-eixos. Para o tamanho do modelo, o peso é contido, são 1.275 kg. Sua capacidade de carga é de 450 kg.
Interior – O interior do Spin Activ é simples para uma versão de topo de linha. Todas as peças são feitas em plástico rígido e com toque áspero. Somente os encostos dos braços são revestidos com o mesmo tecido dos bancos e, isto, nas quatro portas, um capricho pouco comum atualmente.
A trama do tecido cinza claro cria uma textura nos bancos que, combinada com costuras em azul e o revestimento sintético na lateral dos mesmos, confere algum requinte ao interior, assim como os detalhes metálicos e em preto brilhante usado nos acabamentos de peças, painéis e console.
A ergonomia interna não é perfeita. Quase todos os comandos estão à mão e bem posicionados, é verdade, mas a amplitude da cabine deixa alguns botões mais afastados, como os da regulagem elétrica dos retrovisores e o da trava do porta-luvas, por exemplo.
A usabilidade dos seus equipamentos é muito boa. O ar-condicionado analógico e o multimídia têm comandos giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
Os botões no volante operam o som, o telefone e o controlador de velocidade. Na alavanca satélite esquerda ficam os comandos do computador de bordo.
O sistema de climatização é eficiente no resfriamento do ar e na manutenção da temperatura. Por não contar com saídas de ar traseiras, ele demora a climatizar todo o interior do veículo.
Com três botões de comando, sendo o central deslocado para baixo, este equipamento permite operação sem a necessidade de desviar o olhar da estrada, a forma mais segura.
Suspensão tem ótimo acerto e entrega conforto na medida certa
O multimídia MyLink funcionou com precisão, mas o seu espelhamento é por cabo. Já existe uma nova geração sem fio e com Wi-Fi por 4G nativo, mas o sistema do Spin não foi atualizado.
A tela continua pequena, pois o painel não foi reprojetado para receber uma maior. Mesmo assim, o grafismo é bem customizado e os botões físicos facilitam a sua operação.
O som deste sistema tem potência acima da média, se comparado a equipamentos não assinados por marca de sonorização.
A distribuição espacial do áudio e a definição das frequências são boas, mas ocorrem distorções em volumes mais altos, característica potencializada pelos grandes painéis plásticos das portas que emitem ruídos ao vibrarem neste uso extremo.
O computador de bordo fornece as principais funções, mas, uma de cada vez. Ele é controlado por um anel giratório e por botões de pressão que ficam na alavanca satélite das luzes de direção.
A falta de múltiplas informações é compensada por estes controles que, após acostumarmos, torna fácil a operação deste sistema de dados.
O quadro de instrumentos é analógico e bem dimensionado, garantindo uma boa leitura. Faz falta o marcador de temperatura, economia recorrente em modelos de diversas marcas.
Os ponteiros do velocímetro e do conta-giros são iluminados e visíveis, assim como os números do velocímetro, mas eles só mostram as velocidades pares.
As ímpares deveriam ser destacadas com traços menos confusos. No geral, este conjunto é muito bom, mesmo não sendo digital.
A direção elétrica tem peso adequado em todas as velocidades, demonstrando variação progressiva da assistência.
Uma limitação de projeto é que não há regulagem do volante em distância, algo que permitiria uma posição mais ergonômica do condutor. Regulagens em altura do banco e do cinto de segurança amenizam essa limitação.
Suspensão – Apesar da proposta aventureira, o Spin Activ7 não tem a suspensão tão alta como nos SUVs. Para piorar, existem apêndices aerodinâmicos sob o para-choque dianteiro que reduzem a altura livre do solo.
Mesmo assim, ele passa por lombadas e entra em rampas um pouco melhor que sedans, por exemplo, mas raspa essas peças plásticas quando os obstáculos são maiores.
O acerto das suspensões é exemplar, pois entrega conforto ao circular sobre estradas de terra, assim como em asfalto mal conservado.
Auxiliadas pelos largos pneus de uso misto, o conjunto deixa o monovolume muito assentado e estável, se considerarmos a carroceria alta do modelo.
Em todos os tipos de pisos elas trabalham em silêncio e não aparentam atingirem seus limites de curso. O conjunto isola bem o monobloco, mas a carroceria e os bancos produzem alguns barulhos ao se trafegar em vias mais irregulares.
A grande estrutura da cabine está sujeita a torções e pequenas folgas em peças móveis e as travas dos bancos emitem ruídos inevitáveis.
Essa menor altura em relação ao solo é positiva em estradas. A aerodinâmica é melhor, diminuindo os ruídos do deslocamento e o consumo de combustível.
Aos 110 km/h, e em sexta marcha, o motor trabalha um pouco abaixo das 2.000 rpm. Nesta condição não se ouve o seu ruído, apenas o do vento contra a carroceria, contido, e o atrito dos pneus, mais alto. Acreditamos que um melhor isolamento acústico nas caixas de roda melhoraria essa característica.
Rodando – O powertrain é eficiente. O carro responde rápido ao comando do acelerador, as trocas de marchas são suaves e as relações adequadas para o peso do modelo.
O sistema de comutação manual não é o melhor, pois exige mudança de posição da alavanca para habilitar essa função e as trocas são feitas por botões e, não, por deslocamento da alavanca ou por paddle shifters posicionados atrás do volante.
Entretanto, a programação do câmbio é muito permissiva, aceitando reduções de diversas marchas, mesmo que o giro do motor se eleve bastante, característica que permite o uso do freio motor de forma similar ao feito em câmbios manuais.
Consumo – Exatamente como fizemos com o Chevrolet Equinox, trocamos o teste padronizado de consumo por uma viagem ao interior de Minas Gerais.
Com carga máxima, cinco adultos e bagagem, aferimos o consumo em dois trechos de 140 km, ida e volta, apenas em estradas, eliminando saída e entradas das duas cidades.
Dirigindo da forma mais econômica possível, em estradas secundárias, em sua maioria, a velocidade variou entre 60 km/h e 110 km/h.
Na ida, da cidade mais alta para a mais baixa em relação ao nível do mar, atingimos 15,5 km/l. Na volta, o consumo subiu para 14,3 km/l, sempre com gasolina no tanque.
Não é certo, mas existem conversas no setor de que o Spin ganhará uma profunda reestilização a ser lançada em 2024, já como modelo 2025. Por enquanto, o monovolume segue como o automóvel de sete lugares mais barato oferecido no Brasil.
Essa versão Activ não tem a capacidade off-road que sua indumentária sugere, mas atende ao uso exigido pela maioria dos donos de SUVs compactos.
A seu favor, o Spin entrega espaço mais amplo e versátil para bagagens e pessoas. E, também, se mostra mais estável e econômico que os utilitários esportivos que estão exterminando os outros segmentos.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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