Escapamento e acertos mecânicos do SUV coupé produzem uma sinfonia ao acelerar
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 12/04/2024)
Em outubro de 2023 avaliamos o Pulse Abarth, SUV compacto com mudanças estéticas e mecânicas aplicadas ao Fiat Pulse. Agora, foi a vez do Fastback Abarth, SUV coupé derivado deste compacto.
O Fastback Abarth recebeu alterações estéticas mais discretas e o mesmo conjunto mecânico do Pulse Abarth, porém, com um sistema de escapamento diferenciado, acusticamente mais esportivo.
A Abarth é a marca dos esportivos da Fiat. Marcou presença em nosso mercado com dois hatches: o médio Stilo e o subcompacto 500. Com estes dois SUVs compactos, ela retornou ao Brasil.
O Veículos recebeu o Fatback Abarth Turbo 270 Flex Automático, ano 2024, para avaliação. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 160,99 mil, valor com a carroceria na cor preta sólida.
Todas as outras cores vêm com o teto pintado nesta mesma cor preta. As cores sólidas branca e vermelha custam R$ 990,00 a mais e, a cinza especial, acresce R$ R$ 1,49 mil ao preço inicial.
Completo de série, os principais equipamentos do Fastback Abarth são: multimídia com tela de 10,1 polegadas, navegação da marca TomTom, espelhamento sem fio e conexão com a internet por chip 4G; painel digital de 7 polegadas; carregador do celular por indução com ventilação; ar-condicionado digital com saídas para o banco traseiro; rebatimento elétrico dos retrovisores; paddle-shifters; freio de estacionamento por botão e com função hold; chave presencial; bancos revestidos com material sintético que imita o couro costurado com linha aparente na cor vermelha e roda em liga leve de 18 polegadas, pintadas na cor preta brilhante, finalizada com uma fina borda vermelha em seu extremo e calçadas com pneus 215/45 R18.
Em termos de segurança, os principais recursos são: frenagem autônoma de emergência; alerta de saída de faixas com correção da trajetória; comutação automática dos faróis alto e baixo; controles de tração e de estabilidade; quatro airbags; faróis e lanternas em LED; sensor de pressão dos pneus; sensores de iluminação e chuva; retrovisor eletrocrômico; sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e câmera traseira de alta definição com linhas guias dinâmicas.
Motor e Câmbio – O Fastback Abarth é equipado com o motor turbo GSE 1.3 de 4 cilindros em linha.
Seu cabeçote tem comando simples tracionado por corrente e sistema MultiAir III que permite grande controle de abertura das válvulas de admissão, variando em amplitude, tempo e, até mesmo, em número de ciclos.
A injeção é direta e a taxa de compressão é 10.5/1. O torque máximo alcança 27,5 kgmf às 1.750 rpm com ambos os combustíveis, que corresponde a 270 Nm (Newton metro), número que batiza o propulsor.
A potência atinge 185/180 cv às 5.750 rpm, com etanol e gasolina, respectivamente.
O câmbio é automático convencional com conversor de torque e seis (6) marchas. Ele oferece a programação esportiva Poison e seleção entre automático e manual com possibilidade de comutação pela alavanca ou pelos paddle-shifters (aletas) posicionados atrás do volante.
O Fastback Abarth e o Pulse Abarth pesam 1.299 kg e 1.281 kg e têm relação peso/potência de 7,02 kg/cv e 6,92 kg/cv, respectivamente. Ótimas relações, elas garantem desempenho realmente esportivo.
Desempenho – Segundo a Fiat, o Fastback Abarth e o Pulse Abarth aceleram de 0 a 100 km/h no mesmo tempo, em 7,6 segundos.
Nesta mesma ordem, eles alcançam 220 km/h e 215 km/h de velocidade máxima, pois o perfil coupé, o aerofólio e o estrator traseiros do Fastback, ambos funcionais, melhoram sua aerodinâmica.
As modificações no Fastback e no Pulse Abarth em relação às outras versões destes modelos vão muito além deste motor e câmbio.
Novas especificações de rodas, freios, suspensões, ponteiras de direção, escapamento e diversos ajustes eletrônicos transformaram a dupla de esportivos nos primeiros SUVs da Abarth em seus quase 75 anos de história.
Em relação ao Pulse Abarth, as rodas são maiores no Fastback Abarth, passaram de 17 para 18 polegadas, e a largura da tala de 7 para 7,5 polegadas.
A largura do pneu se manteve em 215 mm, mas a altura está 5% menor, é de 45% da largura. Assim, o Fastback ficou mais neutro em curvas, adernando menos a carroceria.
Se o desempenho dinâmico melhorou, o conforto de marcha piorou, e estes pneus são mais suscetíveis a danos provocados por buracos. E o preço que se paga.
Freios – Os discos de freio dianteiros nos dois Abarth são maiores, têm 305 mm, assim como no Fastback Limited Edition, versão com mesma motorização.
O Fastback Abarth é 5 mm mais baixo do que o Fastback Limited Edition. Em sua suspensão dianteira as molas estão 7% mais rígidas, os amortecedores são 12% mais estáveis e a barra estabilizadora é mais robusta.
Na traseira, as molas estão 6% mais rígidas e os amortecedores 21% mais estáveis.
Ainda em relação ao Fiat Fastback Limited Edition, houve alteração nos pontos de fixação das ponteiras do sistema de direção e a reprogramação da assistência elétrica do mesmo, deixando o esterço 4% mais direto e o apontamento em entrada de curva 10 % mais rápido.
Segundo a Stellantis, todas essas mudanças aprimoraram a dinâmica do Fastback Abarth em relação ao Limited Edition.
Em números, o tempo de resposta da direção chaga a ser 49% mais rápido e o ângulo de rolagem da carroceria é 8% menor, sob as mesmas forças de aceleração lateral.
Destaque – Mas, o grande destaque do Fastback Abarth é a arquitetura exclusiva do seu sistema de exaustão.
Mais elaborado que o do Pulse Abarth, seu escapamento foi projetado com apenas um abafador traseiro transversal e provido de dupla derivação em suas extremidades, resultando em duas saídas separadas.
Finalizado por ponteiras largas e alojadas em nichos do extrator, este sistema produz um ronco que é música para os apaixonados por carros esportivos.
Grave quando se acelera, e pipocado ao tirar o pé do pedal, essa afinação acústica esportiva foi trabalhada para ser ouvida de fora e de dentro do carro.
Acertos eletrônicos foram feitos, principalmente nas programações dos modos de condução. No modo Poison, as trocas ocorrem em rotações 30% mais altas e se mantêm elevadas entre as marchas com este mesmo percentual, aproximadamente.
Os mapas de calibração das centrais eletrônicas do motor e do câmbio diminuíram o tempo de entrega da potência e do torque, assim como reduziu o intervalo entre o engate de uma marcha para outra.
Resposta – A resposta deste conjunto ao curso do acelerador fica até 100% mais rápida quando o Poison está ativado.
Neste modo, com 50% do curso do pedal a alimentação do motor já está no máximo da capacidade, condição semelhante à resposta do motor ao curso total pedal, quando no modo normal.
Os SUVs com tração 4×2 da Fiat e da Jeep têm o recurso Tc+, uma programação avançada do controle de tração que freia a roda sem aderência para que o torque do motor seja transferido para a roda que está “patinando” e, assim, ajuda a tirar o carro de situações de atolamento, por exemplo.
Nos Abarth, esse recurso foi aprimorado. Denominado SCO, ele visa recuperar a aderência sobre o asfalto escorregadio. Mas, tudo muda quando o SCO é ativado juntamente com o Poision.
Para um uso esportivo em pistas, os sistemas de tração e de estabilidade ficam mais permissivos e a vetorização de torque é ativada.
Essa nova programação deixa o carro sair lateralmente em curvas e a eletrônica atua apenas na última hora, permitindo ao “piloto” espalhar a tocada de zebra a zebra.
A vetorização de torque atua para minimizar o subesterço, quando o carro está saindo de frente.
Este recurso transfere mais torque para as rodas dianteiras do lado de fora da curva, diminuindo a saída da dianteira e permitindo, assim, que os modelos Abarth façam curvas mais rapidamente.
Fechando as alterações no modo Poison, uma programação eletrônica reduz as marchas nas freadas intensas para que o motor permaneça com a rotação elevada, pronto para as reacelerações, recurso muito útil em autódromos ou, até mesmo, em ultrapassagens seguidas realizadas em estradas.
Com todas essas modificações, Pulse e Fatback Abarth são modelos esportivos, muito além dos adesivos.
Por sinal, o Fastback Abarth nem tem adesivos como o Pulse, mas ostenta os mesmos emblemas. São sete escorpiões por fora e cinco por dentro, além do logotipo Abarth na traseira.
Feito para ser guiado esportivamente, modelo não combina com engarrafamentos
Internamente, os dois modelos são iguais. Existe a predominância do preto em todas as peças e revestimentos.
A porção central do painel principal é revestida com uma imitação de fibra de carbono. As costuras destes revestimentos e o friso que adorna este painel, de fora a fora, têm a cor vermelha.
Recurso exclusivo em ambos, o painel digital informa pressão do turbo, força G, percentual da potência instantânea, além dos dados usuais.
Com o acionamento da tecla Poison, posicionada no volante, o grafismo fica mais esportivo e ganha a mesma cor vermelha aplicada aos detalhes internos.
Assim como no Pulse Abarth, e em todos os Fastback, o console central é mais elevado e inteiriço, além de existirem novos nichos para objetos.
O ar-condicionado tem posição mais ergonômica e saídas de ventilação para o banco traseiro. O freio de estacionamento é elétrico e a área do carregador de celular por indução eletromagnética é mais ampla e refrigerada.
Tecnologias – Fastback e Pulse Abarth têm os mesmos equipamentos e tecnologias. Faróis em LED, sistemas de condução semiautônoma, recursos de conectividade, ar-condicionado e computador de bordo são precisos, bem dimensionados e estão acima da média, comparados aos da concorrência.
Na cabine do Fastback, quatro adultos e uma criança se acomodam com conforto para um modelo compacto, mas sem sobras.
Em relação ao Pulse, o encosto do banco traseiro está um pouco mais reclinado, mudança que melhora a acomodação e propicia maior espaço para as cabeças de quem vai atrás, algo necessário para compensar o teto mais caído do coupé.
O Fastback tem 4,42 metros de comprimento, 1,77 metro de largura, 1,54 metro de altura e 2,53 metros de distância entre eixos.
Seu porta-malas comporta 600 litros, considerando a aferição do volume líquido, e seu tanque de combustíveis, 47 litros.
Mesmo esportivo, os números do Fastback Abarth para o fora de estrada não são ruins. Seus ângulos de entrada, saída e central são 20°, 23° e 21,2°, respectivamente. Sua altura livre do solo é 187 mm.
Na Pista – No lançamento, avaliamos o Fastback Abarth na pista. Saímos impressionados e felizes do autódromo.
Foi notório o tanto que ele aponta em curvas, escorrega lateralmente do ponto de tangência até apoiar na zebra externa e cumpre essas derivações com subesterços e sobresterços contidos e corrigidos pela eletrônica aprimorada desta versão, o suficiente para ser emocionante, mas sem perder o controle.
Agora, rodando no dia a dia, nem tudo foi alegria, a princípio. Cruzar Belo Horizonte do sul ao norte na hora do rush, quando retiramos o SUV da concessionária, foi um sacrifício.
O Fastback Abarth é barulhento, a suspensão é dura e a direção pesada, ou seja, não combina com engarrafamentos.
Essa primeira experiência já mostrou que existe um preço a se pagar por sua esportividade. Só não esperávamos que nos testes de consumo o tédio persistisse.
Rodando – Aos 90 km/h e em sexta marcha, o motor trabalha às baixas 1.750 rpm, inaudível, mas o ruído que sai do escapamento é alto para a velocidade.
Como essa velocidade não empolga, parece que o carro está amarrado pelo motor. Também não é confortável. Mesmo aos 110 km/h, às 2.200 rpm, a fera parece enjaulada, rugindo, pedindo aceleração.
Essas duas voltas foram chatas. Ele instiga ser acelerado para que a velocidade faça jus ao seu ronco. No Fastback Abarth as suspensões são rígidas, trabalham em alta frequência.
A direção perde assistência prematuramente, fica pesada cedo. As reações do motor ao curso do acelerador e às trocas de marchas são rápidas, tudo combina com o som do escape, desde que haja velocidade.
Contudo, falta conforto de marcha e acústico para andar em velocidade de cruzeiro. Mas, fomos muito felizes nas arrancadas de 0 a 100 km/h. Mesmo não conseguindo atingir essa velocidade em menos de 8 segundos, todas as tentativas foram muito divertidas.
Partindo estolado às 2.800 rpm, o largos pneus do Fastback Abarth destracionam um pouco, o carro acelera até a faixa vermelha do conta giros, quando o escapamento pipoca nas trocas das marchas, uma ótima experiência de aceleração, muito potencializada pelos acertos acústicos esportivos do modelo.
Consumo – A despeito do quão desinteressante é andar em velocidades de cruzeiro com o Fastback Abarth, ele se saiu bem nos testes padronizados de consumo, considerando o fato de ser um esportivo.
Em nossos testes de consumo rodoviário padronizado, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o Fastback Abarth registrou 14,6 km/l. Na mais rápida, 12,8 km/l, sempre com etanol no tanque.
No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.
Neste severo teste, o Fastback Abarth atingiu a média de 7,1 km/l, também com etanol.
Quando avaliamos o Pulse Abarth, dissemos que não havia nada tão divertido por R$ 150 mil. Agora, dividindo o exclusivo espaço “do escorpião” nas concessionárias Fiat existe o Fastback Abarth.
Além do porta-malas bem maior, por R$ 10 mil a mais, o coupé entrega dinâmica alterada por pequenos detalhes e, disparado, o melhor ronco de motor que se pode comprar por este valor.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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