Preparadora pertencente à Fiat transforma modelos comuns em esportivos
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 20/10/2023)

Carros nacionais e esportivos de verdade são raros. Normalmente, a esportividade não passa do visual.
Produzidos no Brasil, o Pulse Abarth e o Volkswagen Polo GTS são raríssimas exceções. Ambos têm motorização e acertos mecânicos para entregar desempenho superior.
A Abarth, marca pertencente à Fiat, marcou presença em nosso mercado com dois hatches esportivos, o médio Stilo e o subcompacto 500. Agora, ela retorna com este SUV compacto.
Karl Abarth era um piloto e engenheiro austríaco, nascido em 1908, cujo signo do escorpião virou a sua marca. Após a 2ª Guerra Mundial, naturalizou-se italiano e trocou o nome para Carlo.
Ele abandonou carreira vitoriosa em corridas após alguns acidentes. Em 1949, montou uma equipe de competição e, posteriormente, uma fábrica de escapamentos e de outras peças que melhoravam o desempenho de carros originais, principalmente modelos da Fiat.

Entre as décadas de 1950 e 1960, sua empresa produziu modelos Abarth para a Fiat que se tornaram os carros esportivos da montadora italiana e, também, assumiu a divisão de competição da marca.
Em 1971, a Fiat comprou a fábrica e a marca Abarth que assina as suas versões “envenenadas” até hoje.
Veículos recebeu o Pulse Abarth Turbo 270 Flex com câmbio automático para avaliação. No site da montadora, o preço sugerido do modelo é R$ 149,99 mil, inesperadamente, o mesmo valor divulgado em seu lançamento há quase um ano.
Neste preço a carroceria vem na cor preta sólida. Todas as outras cores vêm com o teto e as colunas pintadas nesta mesma cor preta.
A cor sólida branca, e a vermelha, custa R$ 990,00 a mais. Já a cinza especial acresce R$ R$ 1,49 mil ao valor inicial.

Equipamentos – Completo de série, os principais equipamentos do Pulse Abarth são: multimídia com tela de 10,1 polegadas, navegação embarcada da marca TomTom, espelhamento por Apple CarPlay e Android Auto sem fio e conexão com a internet por chip 4G; quadro de instrumentos digital de 7 polegadas; carregador do celular por indução eletromagnética com ventilação dedicada; ar-condicionado digital com saídas para o banco traseiro; rebatimento elétrico dos retrovisores; paddle-shifters; acionamento elétrico do freio de mão com função hold; chave presencial; bancos revestidos com material sintético que imita o couro e rodas em liga leve de 17 polegadas pintadas na cor preta brilhante e calçadas com pneus 215/50 R17.
Em segurança, os principais recursos são: frenagem autônoma de emergência; alerta de saída de faixas com correção da trajetória; comutação automática dos faróis alto e baixo; controles de tração, tração avançada e de estabilidade; quatro airbags; faróis e lanternas em LED; sensor de pressão dos pneus; sensores de iluminação e chuva; retrovisor eletrocrômico; sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e câmera traseira de alta definição com linhas guias dinâmicas.
Motor e Câmbio – O Pulse Abarth é equipado com o motor turbo GSE 1.3 de 4 cilindros em linha.
Seu cabeçote tem comando simples tracionado por corrente e sistema MultiAir III que permite grande controle de abertura das válvulas de admissão, variando tanto em amplitude, quanto em tempo e, até, em ciclo.
A injeção é direta e a taxa de compressão é 10.5/1. O torque máximo alcança 27,5 kgmf às 1.750 rpm com ambos os combustíveis, o que corresponde a 270 Nm (Newton metro), número que batiza o propulsor comercialmente.
A potência atinge 185/180 cv às 5.750 rpm, com etanol e gasolina, respectivamente.

O câmbio é automático convencional com conversor de torque e seis (6) marchas. Ele oferece a programação esportiva Poison e seleção entre automático e manual com possibilidade de comutação pela alavanca ou pelos paddle-shifters (aletas) posicionados atrás do volante.
O conjunto conta com o TC+, sistema de bloqueio que trava a roda motriz sem aderência com o solo para que a outra tracione em transposição de obstáculos ou sobre pisos escorregadios.
Este conjunto de motor e câmbio também equipa os SUVs da Jeep produzidos no Brasil, assim como a picape Fiat Toro, modelos que pesam entre 1.500 kg e 1.700 kg, garantindo desempenho muito bom a todos, mas nada que seja realmente esportivo.
Desempenho – Já o Pulse Abarth e o Fiat Fastback Limited Edition são SUVs compactos, mais leves, pesam 1.281 kg e 1.304 kg e apresentam relação peso/potência de 6,92 kg/cv e 7,05 kg/cv, respectivamente. Com essas ótimas relações, o desempenho deles é esportivo.
Segundo a Fiat, o Pulse Abarth acelera de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos e o Fastback Limited Edition em 8,1 segundos. Nesta mesma ordem, eles alcançam 215 km/h e 210 km/h de velocidade máxima.

Mas, o Fiat Fastback Limited Edition, praticamente, só recebeu este conjunto mecânico, tanto que seu nome ganhou um complemento: Powered by Abarth.
No Pulse Abarth as modificações em relação ao Fastback e às outras versões do Pulse vão muito além do powertrain.
Novas especificações de rodas, freios, ponteiras de direção, suspensões, escapamento e diversos ajustes eletrônicos transformaram o Fiat Pulse em um Abarth, o primeiro SUV desta marca em seus 74 anos de história.
Diferenças – Em relação ao Pulse Impetus, as rodas continuam de 17 polegadas, porém, os pneus são 5 mm mais largos, medindo 215 mm, e entregando 11% a mais em aderência.
Como a altura do pneu se manteve a mesma, 50% da largura, isso elevaria o carro em 5 mm. Mas suas suspensões foram rebaixadas em 15 mm e deixaram o Pulse Abarth 10 mm mais baixo que a versão 1.0 turbo.

Mesmo com uma tala mais larga, medindo 17 polegadas, as novas rodas do Abarth foram redesenhadas e ficaram mais leves.
Os discos de freio dianteiros foram ampliados para 305 mm, garantindo maior superfície de contato com as pastilhas e uma massa mais densa para dissipar o calor resultante das frenagens.
Estes discos e os tambores ventilados das rodas traseiras são comuns ao Fastback Limited Edition.
Suspensão – Em relação à versão Impetus, as suspensões do Pulse Abarth são diferentes. O conjunto de molas e amortecedores dianteiros tem carga 13% mais rígida e a barra estabilizadora é mais robusta, com 20 mm de diâmetro.
Atrás, molas e amortecedores somam 12% a mais de carga e o eixo rígido é 15% menos flexível a torções.
Completando as mudanças mecânicas, houve alteração nos pontos de fixação das ponteiras do sistema de direção e a reprogramação da assistência elétrica do mesmo, deixando o esterço 7% mais direto.

A arquitetura da tubulação de escapamento foi redesenhada visando um melhor fluxo na exaustão, um novo ruído de funcionamento, mais esportivo, e a utilização de saída dupla funcional.
Além desta reprogramação no gerenciamento da assistência elétrica da direção, diversos softwares do Pulse Abarth foram alterados para motor, câmbio e pedal do acelerador entregarem curvas de funcionamento muito mais agressivas do que no Fastback Limited Edition, apesar dos seus motores terem os mesmos números de potência e torque.
Os mapas de calibração das centrais eletrônicas do motor e do câmbio diminuíram o tempo de entrega da potência e do torque, assim como reduziu o intervalo entre o engate de uma marcha para outra.
Poison – No modo Poison, as trocas ocorrem em rotações 30% mais altas, e elas se mantêm elevadas entre as marchas, aproximadamente, com este mesmo percentual.
Tão importante quanto essa diferença, a resposta deste conjunto ao curso do acelerador fica até 100% mais rápida quando este modo está ativado, pois com 50% do curso do pedal, a alimentação do motor já está no máximo da capacidade, algo semelhante à resposta do motor quando o pedal está em kick down e a tecla Poison não está acionada.

Fechando as alterações no modo Poison, os sistemas de tração e de estabilidade ficam mais permissivos e a vetorização de torque é ativada.
Este conjunto de controle direcional deixa o Pulse Abarth escorregar mais em curvas sem que ele atue nas rodas ou corte a alimentação do motor prematuramente, visando um comportamento mais esportivo do carro em pistas.
Exclusivamente com este botão ativado, a vetorização dinâmica de torque transfere mais força para a roda do lado de dentro da curva reduzindo a saída de frente do carro e, assim, permitindo ao mesmo contornar essas curvas em velocidades mais altas.
Uma programação eletrônica adicional feita no Pulse Abarth reduz as marchas nas freadas intensas para deixar o motor com a rotação levada, pronto para as reacelerações, recurso muito útil em pistas, ou mesmo, em ultrapassagens seguidas realizadas em estradas.
Símbolo da marca, o escorpião está espalhado pela carroceria e interior
Se a Stellantis investiu tanto para transformar o Pulse em um Abarth, este não deixaria de ostentar a indiscreta indumentária da marca.

Normalmente, são oito escorpiões externamente, quatro ao centro das rodas e mais quatro nas marcas aplicadas ao redor do carro.
Finalizando, dois logotipos Abarth aparecem em adesivos laterais acompanhados das tradicionais faixas intermitentes. No Pulse Abarth a regra foi quebrada.
Outro logotipo Abarth substituiu a marca da tampa do porta-malas, provavelmente, por ali haver mais espaço horizontal do que vertical.
Protetores plásticos exclusivos nas caixas das rodas dianteiras, rodas inéditas e equipadas com miolo que simula cubo rápido e um para-choque traseiro redesenhado, contando com recorte para as saídas duplas do escapamento, extratores e nicho central completam as alterações no design.
Estes adesivos, as capas dos retrovisores, o friso da base do para-choque dianteiro e a letra “E” do emblema Pulse são pintados em vermelho vivo, outra marca registrada Abarth.

Em tonalidade mais discreta, essa cor se replica no interior do modelo.
Interior – Por dentro existe a predominância do preto em todas as peças e revestimentos. As costuras destes revestimentos e o friso que adorna o painel principal de fora a fora são em um vermelho menos vivo, mais elegante.
Também tradicional, o escorpião aparece em cinco peças internas, além de dar as boas vindas na tela do multimídia.
Tirando essas identificações, o Pulse Abarth tem o mesmo interior modificado do Fiat Fastback. Diferente em relação ao Fiat Pulse, seu console central é mais elevado e interiço e existem novos nichos para objetos no mesmo.
O ar-condicionado tem uma posição mais ergonômica e saídas para ventilação na traseira. O freio de estacionamento é elétrico e a área do carregador de celular por indução eletromagnética é mais ampla e refrigerada.

Contando com mesmo motor, câmbio e tecnologias, os equipamentos do Pulse Abarth e do Fastback Limited Edition têm funcionamento quase idêntico.
De forma resumida, sistemas de condução semiautônoma, auxílios ao estacionamento, recursos de conectividade, ar-condicionado e computador de bordo são precisos, bem dimensionados e funcionam acima da média da concorrência.
Exclusivo do Pulse Abarth, o quadro de instrumentos digital informa pressão do turbo, força G, percentual da potência instantânea, além dos dados usuais.
Com o acionamento da tecla Posion posicionado no volante, o grafismo também fica mais esportivo.
Diferente do Pulse e do Fastback, o Abarth adotou o antigo miolo redondo do volante do Argo, provavelmente, por este abrigar melhor a marca do escorpião em um círculo.

Rodando – Infelizmente, não pudemos avaliar o Pulse Abarth em um autódromo. Na internet, diversos canais publicaram sobre o seu desempenho.
Nas acelerações de 0 a 100 km/h ele sempre registrou tempo pior do que os 7,6 segundos da sua ficha técnica.
Mas, quando confrontado ao VW Polo GTS e ao Sandero RS, esportivo descontinuado da Renault, ele foi mais rápido que ambos, nesta prova e em voltas rápidas em circuitos.
Circulando por ruas e estradas, nós observamos algumas particularidades do Pulse Abarth. A assistência elétrica da direção deixa o volante leve em manobras, porém, ele já fica pesado em velocidades intermediárias, padrão Fiat.
Mas, o esterço mais direto em 7% combina com este peso, pois entrega reações mais esportivas do carro ao comando do volante, quando comparado às outras versões do Pulse.

As suspensões mais rígidas e o ronco grave e constante do motor não te deixam esquecer que o carro é esportivo.
A frequência de trabalho de molas e amortecedores torna o deslocamento menos confortável, é certo, porém o Pulse Abarth é mais estável do que se espera de um SUV em curvas e bem mais divertido do que a maioria dos seus concorrentes em acelerações.
Consumo – Em nossos testes de consumo rodoviário padronizado realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o Pulse Abarth registrou 13,8 km/l. Na mais rápida, 11,3 km/l, sempre com etanol no tanque.
No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fizemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.

Neste severo teste, o Pulse Abarth atingiu a média de 7,5 km/l, também com etanol.
A cada dia que passa existe mais opções de carros nesta faixa dos R$ 150 mil, pois todos estão ficando muito caros. Recentemente, ótimos elétricos entraram neste patamar para bagunçar o mercado.
Mesmo assim, nenhum concorrente à combustão, ou mesmo um destes elétricos, entregam tanta diversão ao volante.
Para quem curte um esportivo real, apesar do relativo desconforto de marcha e acústico, o Pulse Abarth é o melhor “brinquedo” por este preço.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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