Volkswagen Saveiro 2024 está de cara nova

Picape compacta foi reestilizada, mas manteve o veterano conjunto mecânico

Amintas Vidal*  (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 07/06/2024)

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Modelo mais veterano do nosso mercado, a Volkswagen Saveiro existe desde 1982. Picape do Gol, ela sempre seguiu o design do hatch, aposentado em 2022.

Livre de ser o seu clone, a Saveiro 2024 foi reestilizada, ganhou traços comuns a picapes que, provavelmente, serão aplicados à VW Amarok 2025.

Além do visual renovado, assim como uma nova versão, a Extreme, pouca coisa mudou. O motor 1.6 16V aspirado e o câmbio manual de 5 marchas são os mesmos.

A Volkswagen investiu só o suficiente para manter as boas vendas da Saveiro, à espera da picape intermediária Tarok.

Apesar de não ser tão atualizada como as picapes da Fiat, em 2023, a Saveiro foi o segundo modelo compacto e o terceiro mais vendido entre todos os veículos comerciais leves.

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Ela ficou logo abaixo da líder Strada, compacta, e da intermediária Toro, a segunda picape mais vendida ano passado.

Este ano, no primeiro quadrimestre, com 17.738 emplacamentos, a Saveiro se consolidou na segunda posição, mas continua distante da Strada, que contabilizou 38.077 unidades, segundo dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

O Veículos recebeu para avaliação a VW Saveiro Extreme 1.6 16V, versão de topo da gama. No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 115,99 mil, apenas nas cores sólidas branca e preta.

As outras cores metálicas, cinza e prata, custam R$ 1,69 mil a mais e, a cor cinza levemente esverdeada da unidade avaliada, exclusiva da versão, é mais barata, acrescentando R$ 1,23 mil ao preço final.

Os principais equipamentos de série da Saveiro Extreme são: ar-condicionado analógico; multimídia com tela de 6,5 polegadas e espelhamento por cabo; volante com comandos do multimídia e do computador de bordo; direção hidráulica; coluna de direção com ajustes em altura e distância; retrovisores com ajustes elétricos e função tilt-down no lado do passageiro; chave canivete com telecomando; revestimento sintético que imita o couro aplicado aos bancos, às portas e ao volante; pedais esportivos e rodas em liga leve 15 polegadas, diamantadas e calçadas com pneus 205/60 R15.

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Segurança – Em termos de segurança, a Saveiro traz pouco mais do que o básico: dois airbags; ABS; controles de estabilidade e de tração; controle eletrônico de arrancada em subida (Hill Holder); sensores de aproximação; câmera traseira; freio a disco nas quatro rodas, regulagem do facho dos faróis e faróis de neblina.

Configurado nessa unidade, o “pacote” Tech-Brasil custa R$ 2,18 mil. Ele traz HDC (assistente de controle em descida com sistema antitravamento “off-road“); espelho retrovisor interno antiofuscante (eletrocrômico); piloto automático e sensores de chuva e crepuscular.

Motor e Câmbio – O motor da Saveiro é o tradicional 1.6 16V aspirado de quatro cilindros. Identificado pela sigla EA211, ele é alimentado por injeção indireta multiponto, tem duplo comando de válvulas com variação de abertura na admissão e é tracionado por correia dentada.

Sua potência é de 116/106 cv às 5.750 rpm e seu torque atinge 16,1/15,4 kgmf às 4.000 rpm com etanol e gasolina, respectivamente. Não menos conhecido, o câmbio manual de cinco (5) marchas é o MQ200. A embreagem é do tipo monodisco a seco.

Segundo a Volkswagen, a Saveiro Extreme acelera de 0 a 100 km/h em 10,2 segundos e atinge velocidade máxima de 178 km/h (ambas as marcas alcançadas com etanol).

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Existia a expectativa que a Saveiro 2024 fosse equipada com o motor turbo e o câmbio automático ou, ao menos, com essa transmissão. Segundo a Volkswagen, não há condições técnicas para isso.

Em nossa opinião, este não é o motivo, pois Gol e Voyage já usaram câmbio automático com seis marchas e este mesmo motor aspirado. Acreditamos que, na verdade, foi por estratégia comercial.

A Saveiro é menor que a atual Strada e bem menor do que a Chevrolet Montana e a Renault Oroch. Na próxima geração, a Strada crescerá, ficando do tamanho destas duas picapes maiores.

Contudo, a Volkswagen só deverá usar este conjunto mecânico na Tarok, sua esperada picape intermediária.

Reestilização – Essa versão Extreme substituiu a Saveiro Cross. As versões Robust e Trendline já existiam. Todas receberam as mesmas alterações no design, mas alguns detalhes são exclusivos da versão avaliada.

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A frente da Saveiro foi a parte mais alterada nessa reestilização. Para-choque, grades, faróis e capô foram redesenhados.

A borda do capô ganhou um volume que elevou toda a peça. As grades, inferior e superior, ganharam forma trapezoidal e posição contraposta.

Os faróis agora são chanfrados e têm um friso interno que continua sobre a grade superior e interliga as duas peças.

O para-choque está mais alto e abaulado na base, melhorando o ângulo de entrada da Saveiro. Ele recebeu nichos verticais e chanfrados que abrigam os faróis de neblina.

Lateralmente, as rodas são a grande novidade, pois apenas as proteções plásticas foram alteradas. Atrás, a mesma receita. Só as lanternas e o para-choque, peças plásticas, foram redesenhadas.

O formato externo dessas peças plásticas não mudou, preservando a estamparia das partes metálicas em que elas se encaixam. As lanternas ganharam repartições chanfradas e nova assinatura luminosa.

O para-choque traseiro foi redesenhado com traços diagonais que seguem o ângulo destes chanfros. Um simples adesivo preto faz a interligação das lanternas, replicando o recurso visual da dianteira.

Números – Com essas poucas mudanças, as medidas da Saveiro 2024 são praticamente as mesmas: 4,49 metros de comprimento; 2,75 metros de distância entre-eixos; 1,72 metro de largura e 1,56 metro de altura. Seu vão livre do solo é de 196 mm e seus ângulos de ataque e saída são 23,8° e 27,6°, respectivamente.

Pesando 1.135 kg, a Saveiro Extreme suporta 605 kg de carga útil e pode rebocar até 400 kg em carretinhas, com ou sem freio. O volume da caçamba é de 580 litros e, do tanque de combustíveis, 55 litros.

Internamente, nenhuma peça foi redesenhada. Apenas as cores dos revestimentos, suas costuras e os desenhos em relevo são novos.

Um aplique tipo metal escovado, dando acabamento ao painel principal, e a nova marca da Volkswagen ao centro do volante, completam as alterações no interior.

Espaço – Inalterada em dimensões, a cabine dupla continua restrita. Dois adultos têm bom espaço na frente, dois ficam apertados atrás e três não cabem. No banco de trás, apenas crianças vão com conforto.

Pelo menos, o motorista tem ampla regulagem do volante, banco e cinto, podendo ficar bem baixo, postura mais esportiva do que na Strada, por exemplo.

Mas, existe um leve desalinhamento entre os pedais, o banco e o volante. Braços ficam para esquerda, pernas para direita.

Existem porta-objetos à esquerda do volante, à frente e atrás da alavanca do câmbio, nas portas e até atrás do freio de mão. São muitos, mas não são amplos. O porta-luvas está na média da categoria.

No mais, todos equipamentos da Saveiro estão à mão, têm botões físicos para todos os comandos, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.

A tela da central multimídia é pequena e dificulta usar o Android Auto com páginas múltiplas. O espelhamento exige cabo para a conexão mas, em compensação, essa é muito rápida e estável.

O áudio não tem preparação especial. Como nestes sistemas comuns, falta potência para reproduzir músicas baixadas por streaming em volumes mais altos. A qualidade sonora é boa, pois a distribuição dos canais cria uma agradável sensação espacial na cabine.

Apesar de algumas limitações do antigo projeto, dirigibilidade se destaca

Os marcadores analógicos do quadro de instrumentos têm grafismo na cor cobre e os ponteiros na cor vermelha são muito visíveis.

Mas, há alguns anos, a Volkswagen fez uma alteração nos velocímetros dos seus modelos que ficou muito ruim. Até os 60 km/h, a marcação evolui de 10 em 10 km/h. A partir daí, ela passa a ser indicada de 20 em 20 km/h, ocultando as velocidades com dezenas ímpares.

Para piorar, entre essas indicações existem muitos traços que só atrapalham a definição destas velocidades que foram suprimidas.

O que salva, nas versões Extreme e Trendline, é a possibilidade de visualizar a velocidade no pequeno painel digital do computador de bordo.

Este computador de bordo é simples, mas é completo. Ele não permite informações múltiplas, mas todos os dados são mostrados com números legíveis e em alto contraste, facilitando a leitura.

O ar-condicionado analógico é eficiente e tem saídas bem localizadas. Ele resfria a cabine rapidamente, mantém a temperatura estável, mas é ruidoso já na segunda velocidade da ventilação.

Os sensores de estacionamento e a câmera de marcha à ré são imprescindíveis, pois a traseira da picape é alta e longa, algo que atrapalha bastante a visibilidade para trás.

Qualidades e Limitações – Para o bem ou para o mal, a Saveiro tem qualidades e limitações inerentes a um projeto antigo. Direção, suspensões, câmbio e motor entregam robustez rara em modelos mais atualizados.

A direção hidráulica é pesada se comparada às elétricas atuais. Mas, mesmo em manobras de estacionamento, ela entrega o mínimo conforto necessário para o dia a dia.

Em estradas, o peso fica adequado para velocidades intermediárias e um pouco leve para as mais rápidas.

As suspensões, McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, ambas com amortecedores e molas helicoidais, garantem conforto ao rodar sem carga.

A traseira não fica tão rígida, trabalha em frequência relativamente baixa para uma picape vazia e não deixa a Saveiro saltitante.

Segundo a Volkswagen, Batentes de Cellasto nos amortecedores traseiros propiciam amortecimento adicional ao transportar cargas pesadas sem deixar a caçamba arriada. Rodando, realmente, o conjunto isola as imperfeições do piso sem aparentar sofrer com o trabalho intenso.

Porém, a plataforma acusa pequenas torções ao circular por pisos desnivelados, causando alguns ruídos no painel principal. Mesmo assim, mais baixa que a Strada, a Saveiro faz curvas adernando menos a carroceria e com maior controle direcional do que a picape da Fiat.

Por outro lado, a simplicidade dos materiais de isolamento acústico deixa o interior menos silencioso do que ele poderia ser.

Por qualidades próprias, o motor em funcionamento e a carroceria cortando o ar emitem poucos ruídos mas, na cabine, são audíveis os barulhos dos outros veículos.

Dirigibilidade – A despeito dos detalhes ergonômicos ao volante e de não haver opção de motor turbo ou câmbio automático para a Saveiro, é justamente a dirigibilidade que se destaca no modelo.

Seu câmbio manual é, provavelmente, o melhor existente no Brasil. Dá muito prazer trocar as marchas que encaixam em um curso curto e preciso da alavanca.

O correto escalonamento das relações não deixa “buracos” entre elas e o motor entrega potência e torque adequados a Saveiro.

Circulando na quinta marcha, aos 90 km/h, o motor trabalha às 2.400 rpm e, aos 110 km/h, às 3.000 rpm, relações mais curtas do que o esperado para um motor com essa potência e torque. Provavelmente, este acerto é necessário para a picape manter o desempenho quando está carregada.

Sendo assim, o carro fica sempre vivo, o motor reage ao mínimo curso do acelerador e a rotação sobe com facilidade.

Por outro lado, além de ser leve, a picape fica amarrada pelo motor, deslocando pouco por inércia, condição que não contribui com a economia de combustível.

Não apreciamos essa característica, mas para quem gosta de andar forte, o conjunto agrada. Com curso total do acelerador, a rotação extrapola às 6.000 rpm antes do corte de segurança.

Cambiando perto deste limite, a Saveiro canta pneu e acelera muito para uma picape com motor 1.6 aspirado.

Consumo – Em nossos testes de consumo rodoviário padronizado, a Saveiro Extreme não foi tão econômica circulando com etanol.

Nós realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta, a picape registrou 12,4 km/l e, na mais rápida, marcou 11,5 km/l.

No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.

Neste severo teste, a Saveiro Extreme registrou 7,7 km/l, também com etanol. Relativamente, ela foi mais econômica do que em rodovias.

É notório que a Volkswagen quer continuar em alta no mercado de picapes compactas, segmento de grande demanda profissional.

Fotos: Amintas Vidal

Não por acaso, ela pouco investiu em novos equipamentos para a Saveiro 2024 e, assim, manteve os seus preços muito competitivos. As duas versões Robust continuarão responsáveis pelo grande volume de vendas.

A Trendline e a Extreme atendem aos admiradores da picape veterana. Inclusive, a Extreme tem grande potencial para se tornar colecionável, assim como as saudosas versões Summer e Surf da picape compacta da VW.

*Colaborador

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