Citroën C4 Cactus Shine Pack ainda se destaca

Versão com motor 1.6 THP tem desempenho e consumo surpreendentes

Amintas Vidal*  (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 19/07/2024)

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O Citroën C4 Cactus foi lançado em 2018 no Brasil. De lá para cá, quase nada mudou no modelo. Na linha 2024, lançada em julho do ano passado, ele recebeu pouquíssimas alterações, basicamente, detalhes estéticos e equipamentos de tecnologia que deixaram o modelo mais atualizado.

O crossover compacto oferece dois motores 1.6 litro, um aspirado e outro turbo. A veterana versão Shine sempre foi a turbo.

Eventualmente, séries especiais recebem este propulsor. Desde setembro de 2023, a Citroën oferece uma nova versão turbo, a Noir, limitada e focada no design all black.

Recentemente, a linha do C4 Cactus foi reduzida. Agora, são apenas duas versões para cada motor. Além das versões turbo, Live e Feel Pack são as outras com o motor aspirado.

O Veículos recebeu o Citroën C4 Cactus 1.6 THP Shine Pack (2024) para avaliação. Lançada há menos de um ano por R$ 129,99 mil, seu preço sugerido no site da montadora já subiu para R$ 141,99 mil, apenas na cor preta metálica.

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Outras cores metálicas e perolizadas, assim como combinações dessas cores com o teto na cor preta, são oferecidas em valores que variam entre R$ 1,60 mil e R$ 3,20 mil, preço da configuração da unidade avaliada, cor branca perolizada com o teto em na cor preta, totalizando R$ 145,19 mil.

Ofertada completa, sem opcionais, os principais equipamentos de série desta versão são: ar-condicionado digital e automático; painel de instrumentos digital; chave presencial; multimídia de 10 polegadas com espelhamento sem cabo; carregador de celular com ventilação; volante multifuncional com regulagem em altura e distância; direção elétrica com assistência variável; computador de bordo; barras de teto longitudinais; volante e bancos revestidos em material sintético que imita o couro e rodas de 17 polegadas diamantadas com pneus 205/55 R17.

Em termos de segurança, a versão traz equipamentos a mais do que os obrigatórios. Os principais sistemas são: ESP (controle eletrônico de estabilidade) e ASR (controle de tração); grip control (seletor do controle de tração para terrenos variados); hill assist (assistente de partida em rampa); seis airbags; alertas de saída de faixa e de colisão eminente; frenagem automática de emergência; freio a disco nas quatro rodas; indicador de fadiga do motorista; sensor de pressão de pneus; faróis e lanternas com assinatura em LED; faróis de neblina; sensor de chuva e câmera de marcha à ré.

Motor e Câmbio – O motor desta versão tem bloco com quatro cilindros, é 1.6 litro, turbo alimentado, bicombustível e conta com injeção direta.

Acionado por corrente, seu comando é duplo no cabeçote e tem 16 válvulas. Este sistema permite variação de abertura apenas na admissão.

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Ele rende 173/166 cv às 6.000 rpm com etanol e gasolina, respectivamente, e tem torque de 24,5 kgfm às 1.400 rpm com ambos os combustíveis. A relação peso/potência é 7,02 kg/cv e a peso/torque é 49,6 kg/kgmf.

O câmbio é automático convencional com seis (6) marchas. Ele permite trocas manuais por meio da própria alavanca. Seu acoplamento ao motor é feito por conversor de torque convencional.

Além da nova Noir, as versões Feel Pack e Shine Pack foram as mais diferenciadas na linha 2024. Elas ganharam pintura especial nas molduras dos faróis de neblina e nos nichos das proteções plásticas laterais, uma cor laranja ambígua, pois tem uma textura tipo purpurina, mas não brilha.

Também na cor laranja, alguns detalhes compõem os adesivos e emblemas destas versões. Nova roda mais plana, semelhante à de carros elétricos, completa as novidades da versão Shine Pack.

Interior – Internamente, as maiores mudanças foram os novos equipamentos. O C4 Cactus recebeu uma central multimídia maior, com 10 polegadas, e um carregador de celular por indução eletromagnética.

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Providos de espelhamento sem cabo e ventilação, respectivamente, a dupla melhorou bastante a conectividade e a usabilidade a bordo do modelo.

No mais, o apoio de braço central ficou mais ergonômico, existem novas entradas USB, na frente e na traseira, e pequenos detalhes no acabamento completam as novidades da linha 2024 do modelo.

O C4 Cactus, realmente, não segue a cartilha dos SUVs compactos oriundos de hatches. A sua plataforma é a mesma do antigo C3, mas ele não tem um traço deste modelo que já saiu de linha, algo que acontece entre o VW Nivus e o Polo, ou o Fiat Pulse e o Argo, seus concorrentes diretos.

Neste modelo francês, todo o design é original e as medidas foram aumentadas, ampliando bastante o seu porte, as medidas externas e, principalmente, o espaço na cabine, em relação ao C3 de origem.

Medidas – Ele tem 2,60 metros de distância entre-eixos. Comparando com o C3, ela foi ampliada em 140 mm. Em relação à concorrência, são 68 mm de vantagem sobre o Pulse e 34 mm a mais do que no Nivus. Suas outras medidas são: 1,71 metro de largura; 1,56 metro de altura e 4,17 metros de comprimento.

Quatro adultos têm espaço de sobra para suas pernas e ombros. Um quinto passageiro fica incomodado com o túnel central alto, mas o banco traseiro tem ótimo aproveitamento do espaço lateral, o melhor da categoria, entregando conforto razoável.

No porta-malas cabem 320 litros e o tanque de combustíveis comporta 55 litros. Essa versão do C4 Cactus pesa 1.214 kg, suporta carga útil de 400 kg e a tem capacidade de rebocar até 350 kg.

Este espaço para bagagem não tão generoso, consequência de uma cabine ampla, ainda abriga macaco e triângulo, ambos em embalagens com velcro em suas bases.

Aderentes ao carpete do porta-malas, eles servem de limitadores que são úteis para não deixarem objetos soltos por lá.

Os acabamentos internos são muito bons, mas não são requintados. Apenas os apoios dos braços são acolchoados, porém, nas quatro portas, algo pouco comum na categoria.

Novas réguas em preto brilhante aplicadas às quatro portas melhoraram a percepção de qualidade interna.

Ergonomia – Sua ergonomia geral é acertada. Todos os controles são alcançados sem grandes movimentos dos braços. Mas, a Citroën concentrou muitos comandos na tela do multimídia, suprimindo diversos botões físicos que fazem falta no dia a dia.

Porém, o novo multimídia melhorou muito a usabilidade. Agora, as laterais da tela têm dois menus fixos e, ao centro, ficam as páginas variáveis.

No menu da direita é possível acessar a home, o rádio, o espelhamento ou o ar-condicionado. No da esquerda, o volume do áudio e a desativação da tela.

As páginas variáveis ocupam uma área central menor, com aproximadamente 9 polegadas. Em comparação ao antigo multimídia, o ganho foi grande, principalmente no grafismo. O uso de ícones simples e maiores, melhor organizados e em cores diversas, otimizou a operação do sistema.

Também houve ganho na estabilidade da conexão, na definição da tela, na sensibilidade ao toque e na velocidade de processamento. Manter a tela em posição baixa no painel é uma limitação do projeto.

A potência e a distribuição do som são melhores que o esperado para um sistema sem assinatura por marca especializada em áudio. Ele reproduz músicas por streaming em volume mais alto do que o usual. Os 4 alto-falantes e os 2 tweeters criam um efeito espacial agradável na cabine.

Bem equipado, modelo conta com sistemas de auxílio à direção

Outra mudança na linha 2024 foi a adoção do carregador de celular por indução eletromagnética. Para tal, foi usado o espaço que era de um dos suportes de copo do console central.

Redesenhado, ele abriga o smartphone na vertical, angulado e protegido por suas paredes. Além disso, existe ventilação refrigerada que não deixa o dispositivo sobreaquecer no carregamento.

O ar-condicionado é eficiente na manutenção da temperatura e no silêncio ao ventilar, pois as saídas frontais são amplas. Não existe saída de ar traseira, duto que melhoraria o tempo de resfriamento da cabine. Ao menos, a “turma do fundão” ganhou tomada USB com organizador de cabo.

Mesmo com essas melhorias, entendemos que a tecla física de atalho à página do ar-condicionado, existente e mais prática, deveria retornar ao espelhamento em um segundo toque, por exemplo.

O volante multifuncional compensa, um pouco, a falta de botões. O som, o telefone e o computador de bordo podem ser operados por seus controles. Ao contrário do usual, os comandos de um mesmo sistema ficam em linha, isto é, espalhados dos dois lados do volante.

Confuso inicialmente, se acostuma com o tempo, assim como é o controlador e limitador de velocidade, acionado em uma haste satélite e de uso cego posicionada no lado esquerdo da coluna.

O quadro de instrumentos digital é dos mais simples e não mudou. A velocidade destacada em números grandes é o maior acerto gráfico deste dispositivo. Mas ele não é configurável, algumas informações têm letras e números pequenos e outras marcações são muito imprecisas.

O conta-giros é quase inútil. Ele varia de 500 em 500 rpm, marcação insuficiente para sinalizar o regime de trabalho do motor, pois nunca se sabe qual é a real rotação intermediária.

Sistemas de Auxílio – O C4 Cactus Shine Pack conta com sistemas de auxílio à direção. A frenagem automática de emergência é o mais importante. Avisos de saída de faixa e de colisão eminente são os outros.

O primeiro aviso, corretamente sinalizado por alerta sonoro e visual no quadro de instrumentos.  Já o segundo, utiliza a tela do multimídia para indicar visualmente, posição pouco adequada.

O indicador de descanso para o motorista e os sensores de chuva e de pressão dos pneus são recursos que completam o pacote de equipamentos que facilitam a condução desta versão.

A baixa visibilidade traseira cruzada é o maior defeito do modelo. A câmera de marcha à ré ajuda amenizar o amplo ponto cego criado pelas largas colunas “C”, mas não é o suficiente.

Como o carro é alto e as janelas são estreitas, o ideal seria o alerta de aproximação perpendicular traseiro. Ou, no mínimo, sensores de aproximação e guias dinâmicas na câmera.

A direção elétrica é muito leve e facilita este trabalho. Em velocidades intermediárias, ela perde assistência prematuramente, ficando um pouco pesada.

Já em velocidades de cruzeiro, este peso fica adequado, pois o carro é leve, o motor potente e o desempenho é, realmente, esportivo.

Esportivo – A Citroën não vende o C4 turbo como um esportivo, mas, segundo a marca, o modelo atinge os 100 km/h em apenas 7,7 segundos e alcança 212 km/h de velocidade final, números impressionantes.

Para ser seguro, seus pneus são largos e as suspensões rígidas. Mas, a altura da carroceria joga contra a estabilidade. Apesar de não adernar tanto em curvas, ela oscila acompanhando a alta frequência de trabalho deste conjunto. Mesmo assim, este acerto garante o controle direcional da versão.

Os números do C4 para o fora de estrada são generosos: 22° de ângulo de ataque, 32° de ângulo de saída e 225 mm de altura livre do solo. Eles garantem ao modelo capacidade de superar obstáculos urbanos e rurais sem raspar os seus para-choques ou o seu fundo nessas empreitadas.

O seletor de programações para o controle de tração ajuda a superar lama, areia e neve, além de permitir o seu desligamento. Todos estes números e recursos dão às versões turbo do C4 aptidão off-road superior, mas o acerto das suspensões castiga a estrutura do modelo sobre pisos ruins.

O conforto acústico é melhor que o de marcha. Os ruídos do motor, do arrasto aerodinâmico e do atrito dos pneus são baixos e equilibrados, nenhum se destaca em velocidade de cruzeiro. Em acelerações fortes, o motor invade a cabine, mas é grave e condizente com a sua performance.

Conhecido como o “caracol da alegria”, no caso do C4 Cactus, o turbo compressor é responsável por duas felicidades: alto desempenho e baixo consumo. Acelerando muito ou pouco, ele é eficiente.

O torque alto a baixas 1.400 rpm garante deslocamento forte e linear. O câmbio é bom, sem ser brilhante. Em drive, ele é suave nas trocas e quase sempre comuta nos momentos corretos.

No modo ECO, ele antecipa as trocas e deixa a rotação do motor o mais baixa possível, atingido ótimo consumo, ao mesmo tempo em que o silêncio a bordo impera.

Na opção Sport, as marchas são esticadas em busca da potência, atingindo às 6.000 rpm e garantindo a diversão ao volante.

No modo manual, operando pela alavanca, as marchas são reduzidas para frente e elevadas para trás, acerto correto que segue o movimento de reação do corpo do “piloto” a essas ações opostas.

Com uma programação relativamente permissiva às trocas manuais, este câmbio merecia as aletas atrás do volante, recurso que casaria perfeitamente com este desempenho esportivo de verdade.

Consumo – Em nossos testes padronizados de consumo, abastecido com gasolina, o Citroën C4 Cactus turbo foi muito econômico para um carro tão potente.

No circuito rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta atingimos 18,6 km/l. Na mais rápida, 16,6 km/l.

No nosso circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo deste acidentado percurso.

O modelo finalizou o teste com 10,2 km/l. Essa média é muito boa para um modelo tão potente e que não conta com o sistema stop/start.

Atualmente, a Citroën está investindo na linha C3. Além do hatch compacto, ela lançou o SUV Aircross com 5 e 7 lugares e lançará, em breve, o Basalt, seu SUV coupé.

Em nosso mercado, o C4 Cactus não deverá ter a atual geração europeia. Sendo assim, essa geração poderá sair de linha.

Mesmo veterano, o C4 é superior aos modelos C3. Ele deverá ser o último carro da marca equipado com o motor 1.6 turbo. Entre os modelos esportivos e econômicos, o C4 Shine Pack se destaca.

Fotos: Amintas Vidal

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