Renault Oroch Iconic conta com motor aspirado e câmbio manual

Novidade na linha 2024, essa é a versão mais completa ofertada com este powertrain

Amintas Vidal*  (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 11/10/2024)

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Pioneira entre as picapes intermediárias, a Renault Oroch é oriunda do SUV Duster e carrega toda a robustez que deu fama ao utilitário compacto da Renault.

Ao contrário do SUV, a picape tem apenas uma versão com câmbio automático, nas outras três, ele é manual.

Em 2023, a Oroch recebeu pequenas modificações externas e grandes mudanças internas. Na linha 2024, a nova versão Iconic trouxe para a gama com motor aspirado e câmbio manual um acabamento melhor e os equipamentos que só eram oferecidos na versão turbo e automática.

Veículos recebeu a Oroch Iconic 1.6  SCe 16V para avaliação, versão de topo da gama com câmbio manual.

No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 133,15 mil. A unidade avaliada tinha a cor cinza Lune, opcional que custa R$ 2 mil, elevando o seu valor para R$ 135,15 mil.

Vendida completa de série, seus principais equipamentos são: ar-condicionado automático e digital; multimídia com tela flutuante de 8 polegadas e espelhamento sem fio para Apple CarPlay e Android Auto; direção com assistência eletro-hidráulica; computador de bordo; sistema stop/start; vidros elétricos dianteiros e traseiros com um toque e antiesmagamento, volante com revestimento em material sintético que imita o couro; bancos em tecido especial; maçanetas e retrovisores pintados em preto brilhante com indicadores de direção lateral; barras de teto longitudinais e funcionais e rodas de liga leve 16 polegadas, diamantadas,  com pneus de uso misto 215/65 R16.

Em termos de segurança, os destaques são: controles de tração, estabilidade e anti-capotamento; dois airbags; freios ABS; travamento central automático com destravamento em caso de colisão; sensores de chuva e crepuscular; sensor de estacionamento com câmera de marcha à ré; DRL e faróis de neblina.

Motor e Câmbio – O motor desta versão é o 1.6 16V. Ele é flex, tem duplo comando de válvulas tracionado por corrente, abertura variável na admissão e injeção indireta multiponto.

Sua potência máxima atinge 120/118 cv às 5.500 rpm com etanol e gasolina, respectivamente, e o torque é de 16,2 kgfm às 4.000 rpm, com ambos os combustíveis.

O câmbio é manual, tem seis (6) marchas e acoplamento por embreagem monodisco a seco.

A Oroch Iconic pesa 1.339 kg, resultando em 11,16 kg/cv e 82,66 kg/kgmf. Segundo a Renault, essa versão atinge os 100 km/h em 11,2 segundos e sua velocidade máxima é de 169 km/h.

Veterana, lançada alguns meses antes da Fiat Toro e com seis anos de vantagem para a nova Chevrolet Montana, a Oroch é a mais robusta entre as picapes intermediárias.

Apesar de menos atualizada, a Oroch tem o menor preço entre elas e também concorre na faixa da picape compacta Fiat Strada em suas versões com cabine dupla, quando consideramos as variantes Iconic, Intense e PRO, todas com motor aspirado e câmbio manual.

Espaço – Bem maior que a da Strada, um pouco maior que a da Montana e menor do que a da Toro, a cabine da Oroch acomoda quatro adultos com conforto, sem sobras.

Por ser mais larga, até um quinto adulto vai bem ao centro do banco traseiro, mas, confortável, só mesmo uma criança.

A ergonomia é acertada, os comandos estão à mão e não exigem grandes movimentações dos braços para serem alcançados.

Como as janelas são grandes e a traseira não é tão alta, a visibilidade para os lados e para trás é melhor que na maioria das picapes.

Por não ser tão alta e nem tão comprida, a Oroch é mais prática que a Toro no dia a dia, facilitando o embarque e o desembarque de pessoas e cargas e, principalmente, em manobras de estacionamento e para circular em centros urbanos.

O modelo da Renault ficou devendo uma mola de torção na tampa da caçamba para melhorar comodidade, pois ela é muito pesada, característica que não contribui no trabalho de abertura e fechamento da mesma.

Pelo menos, todas as versões trazem de série a proteção plástica da caçamba. A capota marítima é exclusiva das duas versões mais equipadas.

Números – Suas medidas são as seguintes: 4,70 metros de comprimento; 2,83 metros de entre-eixos; 1,82 metro de largura e 1,63 metro de altura.

Na caçamba cabem 683 litros e essa versão Iconic suporta 650 kg de carga. Seu tanque comporta 45 litros de combustível.

Nos números da Oroch para o fora de estrada, o ângulo de entrada foi aprimorado com o seu novo para-choque, subindo de 26° para 27,5°. O ângulo de saída, a altura livre do solo continuam os mesmos: 22,4° e 212 mm, respectivamente.

Diferentemente do Duster, a Oroch não ganhou uma nova carroceria, apenas novo para-choque dianteiro, grade principal maior, rodas, rack e santantônio redesenhados e lanternas escurecidas. Como no SUV, em 2023, a picape recebeu um interior completamente novo.

Melhores que os do Duster, o painel principal da Oroch foi elevado e a tela do multimídia ficou flutuante.

Além disso, a picape adotou os instrumentos do descontinuado SUV compacto Captur: velocímetro digital e conta-giros analógico.

Essas duas mudanças tornaram a usabilidade da Oroch melhor do que a do Duster, pois a tela elevada e os grandes dígitos que indicam a velocidade permitem operação e visualização mais fáceis, incrementando a segurança.

Interior – A versão Iconic tem quase o mesmo interior da Outsider, versão com motor turbo e câmbio automático.

Ter os bancos em tecido com costuras e detalhes na cor laranja, a alavanca de marcha manual e não contar com o carregador de celular por indução são as diferenças internas mais relevantes.

Os plásticos internos são rígidos, mas apresentam variedade de texturas. Materiais metalizados usados em diversas peças e o friso laranja no painel formam um conjunto que sofistica a cabine destas duas versões.

Vale destacar que, tanto nas portas dianteiras, como nas traseiras, os descansos de braço são acolchoados, duplicidade inexistente em diversos modelos concorrentes.

Entre os equipamentos de bordo, o ar-condicionado se destaca. Ele tem botões grandes, fáceis de manusear e providos te números e pictogramas visíveis, mesmo que posicionados um pouco baixos.

O sistema é eficiente em intensidade de ventilação, tempo de resfriamento e manutenção de temperatura. Essa é regulável de meio em meio grau, o ideal.

Atrás, não existe saídas para o ar refrigerado, apenas uma tomada de 12V, recurso escasso para o padrão atual.

Carregada, picape compacta mostra que sente falta de mais potência e torque

Por outro lado, o multimídia está super bem posicionado. Contando com tela fosca, tipo que minimiza os reflexos, ele traz a interface mais nova da Renault, a única que espelha celulares sem fio.

Muito estável e com rápida ativação, seu espelhamento é um dos melhores do mercado. Em brilho, definição e tempo de processamento ele está na média da concorrência.

Sua falha é não ter nenhum botão físico, todas as operações exigem toques na tela. Um controlador satélite de uso cego, o mais seguro, minimiza a falta destes botões, pois comanda o som e o telefone.

O sistema de áudio é normal, contudo, faltam potência e definição nas frequências sonoras. Mesmo assim, a distribuição espacial do áudio é agradável, vantagem que temos observado em picapes quando comparadas aos SUVs.

Ao contrário do conta-giros, do velocímetro e do marcador do nível de combustível que têm indicações em grafismos grandes e claros, os dígitos do computador de bordo são pequenos e formados com barras simples, característica que não facilita a leitura.

Mas, ele traz todas as informações necessárias para a navegação e algumas que não estão no painel, como o nível da temperatura do líquido de arrefecimento do motor, por exemplo.

Assistência – A Oroch recebeu o mesmo volante do Duster, mas não ganhou o sistema de direção com assistência elétrica, como no SUV. Nela, foi mantido o sistema eletro-hidráulico, melhor que os sistemas puramente hidráulicos, mas menos eficiente do que os elétricos.

Ele deixa a direção um pouco pesada em manobras de estacionamento e em baixas velocidades. Em velocidades maiores, o peso fica ideal, garantindo conforto e segurança ao mesmo tempo.

Tivemos a oportunidade de avaliar a Oroch em três condições distintas. Só com o motorista, com duas pessoas e carga pesada na caçamba (totalizando 570 kg) e com cinco adultos e carga leve na caçamba (aproximadamente 450 kg).

Toda picape tem as suspensões rígidas, pois precisam suportar muito peso. Quando vazias, este conjunto tende trabalhar em alta frequência. Na Oroch não é diferente.

Mas, a picape da Renault é equipada com sistema independente no eixo traseiro, como na Toro, recurso que garante um comportamento mais neutro que em outras picapes que usam sistemas semi-indepedentes ou eixos rígidos e molas parabólicas.

Vazia, ela “pula” menos que os modelos que não contam com essa suspensão traseira independente e o conjunto isola bastante a cabine, demonstrando robustez, emitindo poucos e abafados ruídos no trabalho de amortecimento.

Em curvas, elas não deixam a carroceria inclinar em demasia, mas os pneus de uso misto exigem cautela, pois sua aderência não é a mesma dos pneus dedicados ao asfalto.

Conforto – Com carga na caçamba o conforto de marcha melhora muito. Além das suspensões trabalharem bem mais lentamente, a direção fica mais leve. Porém, a aderência dos pneus dianteiros é reduzida.

Com o deslocamento do peso para trás é preciso cautela, pois a picape tende a sair de frente em curvas e não sobe rampas com facilidade.

Com cinco adultos a bordo o comportamento foi o mais equilibrado.  A massa concentrada na cabine, entre os eixos, garantiu frequência baixa no trabalho das suspensões e aderência elevada, melhorando o controle direcional.

Mesmo não tendo a carroceria tão elevada, a Oroch passou por lombadas e acessou rampas sem raspar para-choques ou o seu fundo.

Na terra, ela transpôs as irregularidades com boa tração dos pneus polivalentes. O trabalho das suspensões é eficiente para um fora de estrada leve, e no limite para um moderado, o esperado para uma picape 4×2.

Desempenho – Quando a Oroch está leve, sem carga e apenas com o motorista, seu desempenho é convincente.

As relações do câmbio são curtas e elevam rapidamente a rotação do motor, fazendo a picape desenvolver a contento, mas nada que chame a atenção.

Já com carga, a Oroch sente a falta de potência e torque do motor aspirado. Conduzindo com responsabilidade, e aproveitando a elasticidade do motor, é possível uma direção segura.

O ruído de funcionamento do motor é intermediário entre o dos estridentes 16V aspirados e o som grave dos de três cilindros. Se não é o melhor, não é desagradável. O barulho, do câmbio e do diferencial, causa mais incômodo.

No geral, o conforto acústico é bom.  O ruído em deslocamento é o esperado para um modelo comercial, porém alto se comparado ao das concorrentes diretas, Toro e Montana, todas com motor turbo e câmbio automático na maioria das versões.

Infelizmente, a unidade avaliada estava com um erro no sistema que impedia a aferição do consumo médio. Mesmo retornando à concessionária, não foi possível o reparo em tempo hábil para realizarmos nossos testes de consumo.

Em breve, a Oroch receberá uma sucessora atualizada para brigar com as rivais intermediárias em pé de igualdade.

Mas, essa linha atual tem preço e robustez que a substituta certamente não terá.  Em vendas diretas, as versões de entrada são comercializadas, normalmente, abaixo dos R$ 100 mil, tornado-as imbatíveis no custo-benefício.

Fotos: Amintas Vidal

*Colaborador

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