Nesta versão com motor turbo 1.6, modelo é o SUV compacto mais potente do mercado
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 18/07/2025)

Lançado em 2016, o Creta, primeiro utilitário esportivo compacto da Hyundai no Brasil, era conservador no design e seguia a receita da maioria dos SUVs existentes: grade hexagonal, faróis e lanternas horizontais, chanfrados, e vinco lateral ascendente.
Em 2021, o Creta recebeu uma reestilização profunda. Monobloco e estrutura interna da carroceria, assim como vãos de portas e janelas, colunas e teto não mudaram.
Mas, todas as superfícies e peças externas foram redesenhadas. De discreto, quase apagado, o Creta ficou chamativo e bem estranho.
A grade hexagonal ganhou colmeia cromada, reluzente. Faróis e lanternas foram divididos em várias partes.
Vincos nas portas ficaram paralelos ao piso e se estenderam acompanhando os arcos dos para-lamas. O SUV ficou robusto, realmente, mas faltou proporção e harmonia ao conjunto.

Ano passado, o Creta foi reestilizado novamente. Teto, colunas, portas e para-lamas ficaram inalterados.
Os para-choques e os conjuntos ópticos, dianteiros e traseiros, a porta do porta-malas, o capô e as grades foram completamente reprojetados.
Agora, todas essas novas peças têm linhas predominantemente horizontais, proporcionais e harmônicas entre si.
O DRL e o conjunto de lanternas são faixas contínuas em forma de “L” deitado que vão de um lado ao outro do carro e marcam este novo design do Creta, o primeiro original e, também, estético.
Veículos recebeu o novo Creta Ultimate, 2025, para avaliação, versão de topo de linha, única disponível com o motor 1.6 turbo e câmbio de dupla embreagem.

No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 198,12 mil, na cor preta sólida. Outras cores e combinações das mesmas com o teto em preto custam entre R$ 900,00 e R$ 3,30 mil a mais na etiqueta.
Os equipamentos diferenciados do Creta Ultimate são: teto solar panorâmico com abertura elétrica; quadro de instrumentos e central multimídia com tela de 10,25 polegadas’ cada; GPS nativo; espelhamento de smartphones com fio; freio de estacionamento elétrico com retentor de movimento em semáforos; carregador de celular por indução; bancos com sistema de ventilação para o motorista; revestimento interno em material sintético que imita o couro, cinza claro, e rodas diamantadas 18 polegadas com pneus 215/55 R18.
Sistema ADAS completo, acrescido de alerta de presença no ponto cego com imagens visualizadas no quadro de instrumentos e alertas de tráfego cruzado, de saída segura e de presença no banco traseiro, câmeras com visão 360°, seis (6) airbags e DRL e lanterna em faixa de LED são os destaques na segurança.
Motor e Câmbio – O Gamma 1.6 Turbo é o motor desta versão. Tem quatro cilindros, injeção direta e duplo comando de válvulas acionado por corrente e com variação de abertura na admissão e no escape.
Ele desenvolve 193 cv às 6.000 rpm e tem torque de 27 kgfm ás 1.700 rpm utilizando, apenas, gasolina.

Segundo a Hyundai, o Creta Ultimate acelera de 0 aos 100 km/h em 7,8 segundos. Sua velocidade máxima é de 210 km/h.
O câmbio é automatizado de dupla embreagem a seco. Ele tem sete (7) marchas e permite comutação manual das marchas por meio da alavanca de câmbio ou das aletas por trás do volante. O sistema tem seletor do modo de condução com programação normal, sport ou econômico.
Preservando apenas as laterais e teto, mudando completamente a frente e a traseira, incluindo capô e porta do porta-malas, a Hyundai conseguiu salvar o Creta sem mudar de geração, apesar da marca dizer que o fez.
O modelo anterior não era ruim de mercado, vendia muito bem, por sinal, mas seu design era tão datado que seu desempenho comercial não duraria muito tempo com aquele visual.
Agora, o Creta ganhou DRL e lanterna em faixa 100% iluminada e faróis em blocos destacados, a mais nova linguagem da Hyundai.


Mesmo sendo uma tendência replicada por toda a Ásia, o design da marca coreana entrega personalidade ao compor estes elementos com grades e para-choques ousados.
Interior – Internamente, o novo painel mudou o visual da cabine, completamente. Visivelmente projetado para apoiar as duas telas de 10,25 polegadas, aparentando serem contínuas, o painel perdeu a estrutura em três volumes e ficou horizontal, como suas saídas de ar, seu nicho e a tampa do porta-luvas.
A qualidade das peças internas se manteve. Elas são bem injetadas e montadas corretamente. O plástico duro predomina, como é usual na categoria, mas apliques metalizados e em preto brilhante dão requinte ao interior, assim como a cor cinza claro nos painéis e no revestimento dos bancos.
Os atuais números do Creta são: 4,33 metros de comprimento; 2,61 metros de distância entre-eixos; 1,79 metro de largura e 1,64 metro de altura.
A versão avaliada pesa 1.355 kg e tem capacidade de carga útil de 440 kg. Em seu tanque de combustíveis cabem 50 litros e seu porta-malas comporta 422 litros de bagagem.

Sua altura do solo é de 190 mm e seus ângulos de ataque e saída são de 19,2° e 30,3°, respectivamente.
Cabine – O Creta tem uma das cabines mais amplas do segmento. Ela garante conforto para quatro adultos e uma criança, oferecendo ótimo espaço para cabeças, ombros e pernas de todos.
O teto solar panorâmico é grande, se estende sobre todos os bancos e amplia a percepção de espaço no interior do modelo.
A ergonomia é acertada, todos os comandos estão à mão. Os equipamentos têm botões giratórios, de pressão ou teclas, dependendo das funções, principais ou secundárias, arquitetura ideal.
Preferimos os modelos que têm botões físicos em seus equipamentos mas, no Creta, a Hyundai exagerou.

Só no multimídia, ar-condicionado e no volante, sem considerar os comandos satélites e os posicionados nas portas e no console central, existem 34 botões.
Por serem muitos, parecidos uns com os outros e sinalizados com letras pequenas, eles exigem mais tempo para a adaptação do condutor ao seu uso automatizado. Após aprendizado, a usabilidade é boa.
Essa versão é extremamente bem equipada. Completo, seu sistema ADAS funciona muito bem. Ao centralizar nas faixas, o recurso chega a tomar tangência em curvas.
O ACC é progressivo, adapta-se rapidamente ao fluxo à frente e, raramente, assusta o motorista. O alerta de tráfico cruzado ajuda muito em saídas de vagas perpendiculares e o alerta de abertura segura das portas é um recurso muito raro.
Destaques – Entre muitos recursos embarcados, dois se destacam. O sistema de câmeras 360° é o melhor em um carro nacional, só perde para os chineses.

Em manobras de marcha à ré ele reproduz a visão do carro no ambiente e projeta sua trajetória com linhas dinâmicas, tanto na traseira, quanto na dianteira.
Em botão no console central, é possível comutar entre as câmeras e escolher o melhor ângulo a ser visto ou a sua imagem virtual em 3D. Em deslocamentos para frente, pode-se ativar câmera dianteira.
O monitoramento do ponto cego vai além dos usuais alertas sonoros e luminosos. No painel digital, no lugar do velocímetro e do conta-giros, do lado esquerdo e direito, respectivamente, aparecem as imagens dos veículos que estão nos pontos cegos do Creta.
Em versão tão equipada, sentimos falta de duas programações eletrônicas: quando posicionamos o câmbio em “P”, o freio de estacionamento não é acionado automaticamente.
Quando aproximamos do Creta, os retrovisores se abrem, mas a porta não destrava, algo que também poderia acontecer.

O quadro de instrumentos digital posicionado em linha com o multimídia deu ao Creta uma modernidade que ele nunca teve. As telas têm brilho impressionante.
Mesmo sem anteparo que as proteja da luz do sol, as imagens ficam muito visíveis em qualquer situação de incidência direta dos raios solares.
Grafismo – Os grafismos no quadro de instrumentos são muito visíveis e existem variações de estilo e cor para indicar os modos de condução.
Apesar de pouco personalizável, a tela traz todas as informações, além de letras e números muito legíveis. O multimídia é muito completo, mas tem uma limitação inexplicável.
Mesmo contando com muitos aplicativos e funções úteis no dia a dia, o espelhamento de celulares ainda é feito por cabo, recurso que carros de entrada da marca e da concorrência não usam mais. O sistema tem chip de celular que faz conexão com o Bluelink, aplicativo da Hyundai.

Nele, é possível ligar o carro e o ar-condicionado remotamente, visualizar as câmeras para inspecionar as imediações do local de estacionamento ou rastrear e imobilizar o veículo em caso de furto, por exemplo.
Seu GPS embarcado é eficiente, notifica radares e avisa caso a velocidade esteja acima da permitida. Ele reconhece o tráfego das vias, funcionamento semelhante aos navegadores de celulares.
Suspensão foi desenvolvida para melhorar a estabilidade, mas não sacrifica o conforto
O ar-condicionado é automático e digital de dupla zona. Ele é eficiente no tempo de resfriamento e na manutenção da temperatura.
Seu funcionamento não é excessivamente ruidoso e o volume de ar é satisfatório. Existem saídas para o banco traseiro, recurso que contribui para o seu bom desempenho.
O volante é pequeno, tem ótima empunhadura e sua assistência elétrica é suficiente para garantir conforto em manobras, porém, a direção não fica extremamente leve. Em velocidades média e alta, o peso fica um pouco elevado, mas entrega segurança direcional.

O Creta Ultimate usa rodas de 18 polegadas, pneus com 215 mm de largura e “ombro” com 55% desta medida, isto é, 118,25 mm de flanco.
Contudo, a área de aderência é grande e o amortecimento primário ainda é bom, contribuindo para o equilíbrio entre estabilidade e conforto de marcha.
Mesmo com cargas maiores nos amortecedores e molas, característica que resulta em boa estabilidade para um SUV, mas faz o conjunto trabalhar em uma frequência um pouco mais alta, o Creta Ultimate se mantém confortável e bem isolado das irregularidades dos pisos.
Desempenho – Mas, o que dá prazer ao volante desta versão é o seu excelente desempenho dinâmico. Surpreendentes, motor e câmbio sobram para o peso do modelo e quase transformam o SUV familiar em um esportivo.
Entre os SUVs compactos nacionais, os mais divertidos têm motor turbo acima de um litro e, infelizmente, algum tipo de câmbio automático.

Pouco esportivos, os sistemas automáticos que usam conversor de torque não deixam estes motores entregarem todo o seu potencial.
O câmbio do Creta não usa conversor de torque. Automatizado de dupla embreagem, ele tem duas árvores de engrenagens, uma com marchas pares, e outra com marchas ímpares.
Dos câmbios com trocas automáticas, este é o tipo mais esportivo existente, semelhante aos dos carros de competição.
Extremamente rápido, preciso e permissivo, suas trocas ocorrem em uma fração de segundo, uma sobre a outra, sem que se haja desacoplamento entre elas.
Cambiando por meio das aletas, a programação permite reduções agressivas, mesmo se a rotação do motor ficar muito elevada pelo encurtamento brusco da relação, característica que contribui com a esportividade da “tocada”.

Agilidade – O motor também brilha. Com curso total no acelerador, sua turbina enche quase sem atraso e o Creta deslancha com muito agilidade.
Além das trocas de marchas serem muito rápidas, nessas acelerações plenas o sistema só comuta as marchas às 6.500 rpm, o limite de segurança do motor.
Conduzindo suavemente e na sexta marcha, o Creta circula aos 90 km/h às 1.650 rpm e, aos 110 km/h, pouco abaixo das 2.000 rpm.
Nessa condição, o deslocamento é silencioso, o conforto acústico é muito bom, mas a retenção aerodinâmica e o diferencial, aparentemente curto, seguram o carro.
Estes regimes de rotação não são altos, mas o diferencial poderia ser mais longo, pois sobra potência e torque para o peso do Creta, tanto que este conjunto de motor e câmbio é usado em SUVs maiores da Hyundai e da Kia.


Consumo – Essa retenção não ajudou no deslocamento por inércia e no consumo. Em nossos testes de consumo rodoviário padronizado, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o Creta 1.6 turbo registrou 16,7 km/l. Na mais rápida, 13,8 km/l, com gasolina.
No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desníveis.
Neste teste, o Creta atingiu a média de 9,1 km/l. Esse consumo foi relativamente melhor que o rodoviário, pois a retenção não ocorre em velocidades menores.
Entre todos os SUVs compactos, o Creta Ultimate é o mais potente e o segundo mais divertido do mercado.

Em nossa opinião, ele só perde para o Fastback Abarth, muito pelo acerto esportivo das suspensões, mas, principalmente, pelo tratamento acústico do sistema de exaustão do SUV coupé. Mas, o Creta Ultimate é um SUV original, não é derivado de um hatch, como o Fastback.
Sendo assim, ele é mais esportivo do que o Honda HR-V Touring, o Volkswagen T-Cross Highline e o Jeep Renegade, os outros SUVs com motor turbo acima de um litro e comportamento dinâmico avançado.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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