Porém, essa configuração do Renault custa atualmente R$149,99 mil, o dobro da versão à combustão topo de linha
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 14/04/2023)

A Renault está “ligada” já faz algum tempo. Desde 2015 ela vende o hatch compacto elétrico Zoe E-Tech para empresas nacionais com pegada ecológica.
Para as pessoas físicas, desde 2018. Ele foi o primeiro modelo 100% elétrico a desembarcar no Brasil.
Desde abril do ano passado, ainda em pré-venda, ela passou a comercializar o hatch subcompacto elétrico Kwid E-Tech.
Atualmente, tabelado a R$149,99 mil (R$7 mil acima do seu preço de lançamento) ele é R$ 4,09 mil mais caro do que o JAC E-JS1, o elétrico mais barato do País, e tem o mesmo preço do CAOA Chery iCar, seus dois principais concorrentes.
Veículos recebeu o Renault Kwid E-Tech (2023) para avaliação. Importado da China, oferecido em versão única e sem opcionais, só existem três cores disponíveis para o modelo.

A cor branca é a básica, inclusa no preço inicial. A prata, cor metálica, custa R$ 1,50 mil. Já a cor de lançamento, verde Noronha, homenagem à ilha na qual a marca desenvolve um projeto de veículos elétricos, parece uma tinta sólida, é uma cor metálica e custa o preço de uma pintura perolizada, R$ 3 mil.
Os principais equipamentos de série do Kwid E-Tech são: multimídia com Android Auto e Apple CarPlay por cabo; ar-condicionado; direção elétrica; vidros dianteiros e traseiros com comandos elétricos; retrovisores com ajuste elétrico; rack de teto não funcional e capa dos retrovisores pintados em preto brilhante.
Segurança – Em termos de segurança, o Kwid é um subcompacto bem equipado. Essa variante elétrica, mais ainda.
Os destaques são: seis airbags; controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA); assistente de frenagem de emergência; freios ABS; monitoramento da pressão dos pneus (TPMS); aviso de cintos desafivelados para todas as posições; sensor de estacionamento traseiro e câmera de marcha à ré; luzes de circulação diurna em LED (DRL); ajuste mecânico interno dos fachos dos faróis e travamento automático das portas aos 6 km/h.
Segundo a Renault, o motor elétrico desta configuração é exclusivo para o Brasil. Mais potente que o oferecido na Europa, é do tipo síncrono de imãs permanentes e conta com redutor integrado.

Ele rende 48 kW, potência equivalente a 65 cv, entre 4.000 e 14.000 rpm. Seu torque é de 113 Nm, força igual a 11,5 kgfm, disponível desde o início do seu funcionamento.
O conjunto de baterias é do tipo NMC (níquel-manganês-cobalto). Ele tem 26,8 kWh brutos, 25 kWh de capacidade líquida. A transmissão tem acionamento elétrico e conta com apenas uma marcha para frente e a marcha à ré.
Design – Por fora, o Kwid elétrico chinês e o à combustão nacional são quase idênticos em design e dimensões.
Por sinal, sua pequena divergência em tamanho é oriunda de uma peça com desenho distinto. Vamos destacar as diferenças mais relevantes entre os dois.
Na frente, no lugar da grade, existe uma tampa que protege a tomada para o carregamento das baterias.

Lateralmente, as rodas com quatro parafusos, no lugar das de três, chamam tanta atenção quanto os retrovisores com seta e o adesivo alusivo à versão, as três mudanças observadas por este ângulo.
Atrás, o para-choque mais volumoso é o responsável pelos 54 mm a mais no comprimento do Kwid E-Tech, a única medida avantajada.
Além deste ganho dimensional, essa peça recebe um aplique prateado diferente do usado no Kwid Outsider e lanterna de neblina ao centro do mesmo.
A antena do E-Tech fica na parte de trás do teto, diferença sem importância, mas ela tem um tamanho normal e, não, exagerado como a do Kwid nacional, que mais parece as antenas de décadas passadas.
Fechando os detalhes traseiros, o exemplar asiático conta com botão elétrico para abrir a porta do porta-malas e emblemas um tanto confusos.
Além do E-Tech, abaixo à direita, foi aplicado um “E” antes do emblema Kwid central. Se a intenção era denominar versão e modelo, ela não ficou clara.
Números – Contando com um comprimento maior (3,73 metros), as demais medidas são semelhantes: 1,58 metro de largura; 1,48 metro de altura e 2,42 metros de distância entre-eixos.
O porta-malas com 290 litros de capacidade é igual em ambos, um ótimo volume para um subcompacto.
Não divulgados, os números da altura livre do solo e do ângulo de ataque são, aparentemente, os mesmos nos dois modelos: 185 mm e 24,1°, respectivamente.
Visivelmente, o ângulo de saída do elétrico é um pouco menor, mas deve continuar generoso, pois no Kwid à combustão são ótimos 41,7°.


Em ordem de marcha, o Kwid E-Tech pesa 977 kg, 152 kg a mais do que a versão Outsider na mesma condição. Contudo, a carga útil suportada é 52 kg menor no elétrico, 323 kg. Os dois não são homologados para puxar reboque.
O peso superior vem do conjunto de baterias e do motor elétrico. Ele implica nesta menor capacidade de carga útil, é certo, mas a grande consequência ao se equipar o Kwid com essa mecânica mais pesada está na homologação do número máximo de pessoas a bordo.
O Kwid E-Tech comporta apenas quatro pessoas. No banco traseiro só existem dois cintos de segurança e dois encostos de cabeça.
Interior – Internamente, tudo igual em espaço e nos materiais de acabamento. Sua cabine oferece boa área para as pernas de quatro adultos, sem sobras.
Ombros e cabeças têm espaço suficiente para o conforto de pessoas de baixa e média estatura. Ocupantes muito altos ou corpulentos ficam desconfortáveis, pois o modelo é estreito e a distância entre o piso e o teto não é das maiores.

Em ambos, faltam ajustes na coluna de direção e de altura dos bancos, mas, a ergonomia é muito boa para um motorista de 1,70 metro. Certamente, pessoas mais baixas ficarão bem posicionadas e, as mais altas, menos confortáveis.
No Kwid elétrico, parte do painel é cinza, existem alguns detalhes cromados a mais e outros em preto brilhante a menos.
Como no modelo à combustão, todas as superfícies são rígidas, sem nenhuma área macia, nem mesmo nos encostos de braço. As tramas e cores dos revestimentos dos bancos completam as diferenças entre os acabamentos dos dois.
Equipamentos – Seus equipamentos de bordo se equivalem, mas o multimídia do elétrico é um modelo mais antigo. Já substituído pela Renault nos modelos nacionais, é aquele com entrada USB na parte superior, que deixa o fio dependurado.
Ao espelhar por cabo, seu sistema é estável e relativamente rápido. A tela é pequena, mas em brilho e sensibilidade ao toque ela está na média do mercado.

O som é muito simples, tem baixa potência e apenas dois alto-falantes. Por estarem posicionados avançados na parte superior do painel, encostados no para-brisa, a emissão sonora é interessante, semelhante ao efeito palco presente em equipamentos mais sofisticados.
Apesar de pequeno, o Kwid tem largas colunas “C”. A câmera de marcha à ré e os sensores de aproximação traseiros ajudam no trabalho de estacionamento.
Se as guias de referência fossem dinâmicas, e a imagem mais definida, o auxílio seria ainda melhor.
O ar condicionado analógico é eficiente. Em dias com temperatura normal, ele resfria rapidamente e mantém a temperatura de forma estável. Porém, nos mais quentes, falta maior volume na ventilação para cumprir este trabalho no mesmo tempo.
Ter os principais comandos por meio de três botões físicos e giratórios, sendo o central menor, permite operação cega, a mais segura.
Até aqui, pontuamos tudo que é praticamente igual no Kwid elétrico e no à combustão. Agora, vamos descrever os equipamentos, sistemas e comportamentos dinâmicos que são diferenciados na variante à bateria.
Funcionamento – Como em todo carro elétrico, seu funcionamento é silencioso, mas ele emite um som “tecnológico”, tipo disco voador em filmes de ficção, para alertar pedestres quando está em baixa velocidade.
Diferente da maioria, o Kwid E-Tech não tem chave presencial e nem partida por botão.
Oriundo de um modelo de baixo custo, a Renault manteve muitas das suas características. Para a partida, é necessário girar a chave física no tambor até o limite do curso, como no carro convencional.
O câmbio precisa estar em “N” e o pedal de freio acionado. A tradicional indicação “ready” que aparece em todos os painéis dos eletrificados, foi substituída por um simples “OK”, na usual cor verde.


Como no Kwid nacional, o quadro de instrumentos do elétrico também é digital, mas é muito mais funcional. À esquerda fica o econômetro. Doze raios luminosos e visíveis indicam o nível de regeneração ou de consumo da carga da bateria.
O raio mais destacado entre eles divide essas duas áreas e sinaliza que o gasto e o carregamento se equivalem, que o carro está andando “de graça”. Essas são informações essenciais à boa condução em elétricos.
Ao centro, no display digital, além da velocidade destacada e dos dados do computador de bordo, aparecem a porcentagem da carga e a autonomia média com a mesma.
À esquerda, barras luminosas registram essa mesma carga e, letras e ícones, indicam a marcha selecionada e outras informações.
Por falar em marchas, seu seletor é rotativo e conta com apenas três posições: “N” ao centro, “D” ao girar para a direita e “R” para a esquerda. Após acostumarmos, fazemos essa operação de forma cega, pois este é um comando simples e que está bem posicionado.

O volante de quatro raios é uma exclusividade do Kwid chinês. Ele conta com controles do limitador de velocidade e um atalho para ativação do comando de voz, recursos que não substituem o ótimo comando satélite do sistema de som que apenas o modelo nacional possui.
Dinâmica similar a de um modelo esportivo surpreende
A assistência elétrica da direção deixa a dirigibilidade dos dois modelos muito parecida. O esterço do volante é leve, tanto em manobras de estacionamento, como em velocidades maiores.
Poderia ficar até mais pesado em estradas, entregando mais segurança, mas o conforto é garantido em qualquer situação. Com o entre-eixos pequeno, e o bom ângulo de esterço, o diâmetro de giro é de apenas 10 metros.
O peso extra do Kwid E-Tech abaixou um pouco o seu centro de gravidade. Por um lado, sua carroceria aderna menos em curvas, entregando comportamento mais neutro.
Por outro, suspensões e estrutura sofrem mais com as irregularidades dos pisos, transferindo mais vibrações para dentro da cabine e torcendo mais do que no modelo convencional.

Como é recorrente em projetos de baixo custo, as partes plásticas acusam todas essa vibrações e torções estruturais com rangidos internos.
Mesmo assim, a robustez das suspensões entrega relativo conforto e demonstra não sofrer com tamanho esforço.
O acerto da altura deste conjunto garante boa capacidade de transposição de obstáculos como lombadas e rampas, sem deixar raspar os para-choques ou bater o fundo do modelo.
Mas, a grande diferença do Kwid elétrico está na dinâmica. Da imobilidade aos 50 km/h ele é quase um esportivo.
Cumpre essa aceleração em apenas 4,1 segundos. Leve para um elétrico, ele é ágil no trânsito e econômico em ambientes urbanos.

Acima dos 80 km/h, o fôlego começa a faltar. Para chegar aos 100 km/h são necessários 13,3 segundos, de acordo com o site da Renault.
Em modo ECO, padrão ativado sempre que se liga o carro, a potência do motor é reduzida para preservar a bateria e sua velocidade é limitada aos 100 km/h.
Rodando em cidades planas, e de forma econômica, é possível atingir, ou até superar, os 298 km de autonomia declarados pela montadora.
Em estradas, a autonomia é menor, principalmente aos 110 km/h, pois é necessário desligar a função ECO. Nesta condição, ele atinge sua velocidade máxima, limitada aos 130 km/h, também visando poupar energia.
Consumo – Normalmente, os modelos 100% elétricos informam o consumo em kWh a cada 100 km. Nós convertemos essas médias para km/kWh, padrão que adotamos nas nossas avaliações.

Em nosso teste padronizado de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e, outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o Kwid E-Tech registrou 8,6 km/kWh. Na mais rápida, 6,4 km/kWh.
No teste de consumo urbano, rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito. Neste teste, o Kwid E-Tech atingiu 10,1 km/ kWh.
Foi interessante observar que o Kwid elétrico é muito sensível às variações da topografia. Nos trechos mais planos deste teste urbano, ele registrou consumos excelentes, próximos á 13,5 km/kWh, média que daria ao modelo uma autonomia de 337 km.
Em cidades planas essa distância pode ser alcançada com apenas uma carga, mas em Belo Horizonte, é impossível.

Considerando os nossos resultados nos testes padronizados de consumo e a carga líquida da bateria, 25 kWh, o Kwid E-Tech 100% carregado percorreria 252,5 km circulando até os 60 km/h em cidades com topografia acidentada.
Rodando por estradas, atingiria 215 km aos 90 km/h e apenas 160 km aos 110 km/h, situação em que o consumo energético registrado no econômetro não sai da faixa vermelha, o menos eficiente possível.
Carregamento – São muitos os tipos de equipamentos que podem ser usados para recarregar o Kwid E-Tech. Ele tem tomadas do tipo 2 para carregamento em corrente alternada e “combo” tipo 2 para sistemas que funcionam em corrente contínua, os mais rápidos.
Resumindo, no carregador portátil que vem com o modelo, é possível recuperar a carga total da bateria em 24 horas, se conectado a uma rede de 110V, e em 12 horas, se a rede for de 220V.
Conectado a um “wall box”, vendido à parte, as baterias aceitam carregamento de até 7,4 kWh, levando, aproximadamente, 3 horas para recuperar a carga total.


Nos raros carregadores públicos de alta potência, os únicos que trabalham em corrente contínua, este tempo pode cair para até 40 minutos.
Cálculos – Com grandes diferenças nos preços dos combustíveis e nas tarifas de energia elétrica Brasil afora, para saber as condições necessárias para recuperar o investimento superior no Kwid E-tech em relação ao à combustão, é preciso analisar inúmeras variáveis.
No geral, o valor do km rodado no modelo elétrico é, em média, seis vezes menor do que no Kwid à combustão.
Mesmo assim, um motorista normal, que roda 20 mil km por ano, precisará de mais de dez anos para pagar o investimento adicional.
Somente frotistas e motoristas profissionais levariam menos de três anos para fazer essa compensação, caso rodem acima dos 80 mil km anualmente.


Além das revisões mais baratas, condição inerente aos elétricos, o Kwid E-Tech conta com a ampla rede de concessionárias da Renault, estrutura que a CAOA Chery e a JAC não oferecem.
Outra vantagem do chinês da Renault em relação aos seus concorrentes é compartilhar diversas peças com o modelo nacional, algo que impacta, e muito, no valor e no tempo de reparação.
Não existe carro elétrico barato no Brasil. Entre os menos caros, o Renault Kwid E-Tech é o que entrega as melhores condições de aquisição e manutenção.
Para fins profissionais, ou para quem quer iniciar no mundo dos elétricos, ele é uma ótima opção.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador