Modelo conta com uma suspensão elevada que garante 190 mm de vão livre
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 24/09/2021)
Há mais de 30 anos os hatches são os carros mais vendidos no Brasil. Não por acaso, pois são os mais acessíveis. Entretanto, com o crescente interesse por utilitários esportivos (SUV) e picapes, até este reinado está ameaçado.
A expansão destes dois segmentos é tão pungente que tem influenciado o desenvolvimento de versões em diversas outras categorias. Deste modismo, nem os subcompactos escaparam. O Volkwagen up! recebeu uma variante, a cross up!, que só entregava visual aventureiro, sem nenhuma modificação mecânica.
O Renault Kwid foi projetado alto o suficiente para ser homologado como um SUV. Até o menor veículo nacional vestiu a fantasia. A Fiat lançou o Mobi Trekking com elevação das suspensões e diversos diferenciais estéticos característicos destas versões.
Coincidência, ou não, o modelo está em seu melhor ano de mercado. No fechamento do mês de agosto ele figurou na terceira colocação entre todos os automóveis e comerciais leves emplacados. No acumulado de 2021, ele é o quarto modelo nesta mesma comparação, segundo dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O DC Auto recebeu o Mobi Trekking 1.0 Fire EVO bicombustível para avaliação. No site da montadora, o preço sugerido da versão é R$ 59,99 mil, mas este valor só se aplica para a cor preta sólida.
As outras cores sólidas, branca e vermelha, acrescem R$ 800,00 ao valor inicial e, a cinza, única opção de cor metálica, R$ 1,6 mil. Independente da cor escolhida, a versão vem com o teto pintado na cor preta.
Além desta diferença cromática, o Mobi Trekking traz molduras nas caixas de rodas, para-choques dianteiro e traseiro diferenciados em relação à versão Easy, a de entrada, e barras longitudinais no teto.
Adesivos nas laterais, sobre o capô, teto e porta traseira assinam a versão. Maçanetas na cor da carroceria, calotas escurecidas e retrovisores externos pintados em preto brilhante completam a caracterização externa.
Internamente, o revestimento diferenciado dos bancos fecha a lista de alegorias aventureiras da versão. A única alteração mecânica é a elevação das suspensões. A versão Trekking tem 190 mm de vão livre do solo, 45 mm a mais em relação à versão Easy, pois a versão intermediária, a Like, também tem essa mesma modificação na suspensão e as molduras nas caixas de rodas.
Equipamentos – Os principais equipamentos de série do Mobi Trekking são: ar-condicionado; direção hidráulica; central multimídia de 7 polegadas com tela touchscreen e sistemas Android Auto e Apple CarPlay com conexão wireless, conexão bluetooth, entrada USB e sistema de reconhecimento de voz; volante multifuncional; chave canivete com telecomando para abertura e fechamento das portas e vidros; banco do motorista com regulagem em altura; computador de bordo (distância, consumo médio, consumo instantâneo e autonomia); quadro de instrumentos com iluminação com LED e display digital de 3,5 polegadas (indicador de trocas de marchas, odômetro parcial e total, relógio digital, indicação do nível de combustível e temperatura do motor); vidros elétricos dianteiros (one touch e anti esmagamento) e travas elétricas nas 4 portas.
Em termos de segurança, pouco mais que os equipamentos obrigatórios. São eles: airbag duplo (motorista e passageiro); freios ABS com EBD; gancho universal para fixação cadeira criança (Isofix); três cintos de segurança retráteis e três encostos de cabeça no banco traseiro; ESS (Sinalização de frenagem de emergência); Lane Change (função auxiliar para acionamento das setas indicando trocas de faixa); barras de proteção nas portas; retrovisores externos com luz indicadora de direção e válvula antirrefluxo de combustível.
A unidade avaliada estava equipada com os dois pacotes opcionais disponíveis. O Pack Style (rodas de liga leve 5.5 x 14′ e pneus com baixa resistência a rolagem 175/65 R14 e faróis de neblina) no valor de R$ 2,3 mil e o Pack One (volante com regulagem em altura; cintos dianteiros com regulagem de altura; comando interno de abertura do porta-malas e do tanque de combustível; retrovisores externos elétricos com Tilt Down e sensor de estacionamento traseiro) custando R$ 1,5 mil. Considerando o valor da cor branca, o preço final desta configuração é a prova de que o carro “popular” morreu de vez: R$ 64,54 mil.
Motor e Câmbio – Todas as versões do Mobi são equipadas com o mesmo conjunto mecânico. O motor é o 1.0 Fire Evo bicombustível. Ele tem 4 cilindros em linha e 2 válvulas por cilindro em um comando simples tracionado por correia dentada.
A injeção é indireta multiponto e sua taxa de compressão é 12.15/1. Ele desenvolve torque máximo de 9,9/9,5 kgmf às 3.850 rpm e a potência atinge 75/73 cv às 6.250 rpm com etanol e gasolina, respectivamente. O câmbio é manual de cinco (5) velocidades e, a embreagem, é do tipo monodisco a seco.
Entre os sub-compactos de 4 ou 5 lugares que já foram montados no Brasil, o Mobi é o segundo menor, sendo poucos milímetros maior que o finado Chery QQ. Suas medidas externas são: 3,56 metros de comprimento, 1,66 metro de largura, 1,55 metro de altura e 2,30 metros de distância entre-eixos.
O porta-malas tem 215 litros de volume e, o tanque de combustíveis, 47 litros. Seu peso em ordem de marcha é de 933 kg e sua capacidade de carga total é de 400 kg.
Interior – Como todo carro de entrada, o interior do Mobi é feito em plástico rígido. Os encaixes são bons e as peças são bem injetadas, sem rebarbas. Alguns poucos parafusos estão aparentes, mas nenhuma parte metálica, pois todo o interior é revestido por peças plásticas ou por compostos de fibra e tecido, como o teto.
Algumas texturas nessas partes plásticas e pequenos detalhes cromados, em preto brilhante e, até em bronze, melhoram a simplicidade do acabamento interno.
Os bancos receberam um revestimento exclusivo na versão Trekking. Ele tem variações de cinzas, textura emaranhada ao centro do encosto e assento e arremate em linha na cor laranja. Mesmo sendo interiço, o apoio do encosto é bom, porém, a densidade da espuma é baixa nas duas partes, o que cansa em viagens mais longas.
O espaço interno não é generoso. Dois adultos se acomodam bem nos bancos dianteiros, sem sobra. Espaço para cabeça e ombros é bom, mas as pernas são limitadas pelo painel principal que fica um pouco baixo. No banco traseiro, praticamente só cabem duas pessoas mais baixas, mesmo assim, apertadas.
Ao centro, só uma criança. Contudo, o Mobi atende bem a um casal sem filhos que, eventualmente, irá circular com mais um ou, no máximo, dois passageiros, e por um curto percurso. Além de pequeno, o espaço no porta-malas está disposto na vertical e é profundo, dificultando a acomodação da bagagem.
Mas, o tamanho restrito traz alguma vantagem. Todos os comandos estão ao alcance das mãos e não exigem grande amplitude nos movimentos dos braços para serem alcançados. Até os botões dos vidros elétricos estão bem posicionados. Corrobora com este acerto ergonômico a existência de botões físicos em todos os equipamentos de bordo, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
A eficiência do ar-condicionado impressiona por se tratar de um carro com motor 1.0. Ele resfria muito rapidamente e entrega ótimo volume de ar para uma cabine tão pequena. Seu ruído de funcionamento está na média da concorrência. Por ter comandos analógicos, permite operação “cega”, a mais correta.
Sistema multimídia de 7 polegadas está entre os melhores do mercado
O sistema multimídia, entre os novos do grupo Stellantis, é o menor em tamanho, mas é bem completo. Dotado de quatro botões, dois de pressão e função única, e dois giratórios com mais de uma função, ele tem uma usabilidade melhor que alguns modelos sem botões, mesmo os maiores.
Com boas características técnicas, como definição de tela, sensibilidade ao toque e velocidade de processamento, ele é, provavelmente, o melhor entre os aparelhos de sete polegadas. Oferecer espelhamento sem fio é um diferencial entre os seus pares.
Só faltou uma tecla “home” fora da tela para permitir a comutação entre o sistema nativo e o espelhado, pois, uma das funções embarcadas é o computador de bordo.
Por já estarem na tela do multimídia, as informações do computador de bordo deixaram a tela LCD do pinel de instrumentos. Não é o ideal, pois elas aparecem em uma janela dedicada e só podem ser visualizadas alternadamente com outras funções.
Além disso, essas informações não ficam ativas na “memória” do multimídia e precisam ser lidas toda vez que o computador de bordo é acionado, algo que causa certo atraso na visualização das informações.
Observações à parte, todos os outros recursos funcionam com muita eficiência. A falta de potência do som para reproduzir músicas provenientes de aplicativos de streaming não acomete apenas estes aparelhos de carros de entrada. Temos observado essa característica em modelos bem mais caros.
A direção hidráulica é um sistema ultrapassado, mas, neste modelo pequeno, resolve. Ela tem peso aceitável para as manobras de estacionamento, momento em que a assistência é mais importante. Em médias e altas velocidades ela entrega a firmeza necessária para garantir segurança. O tamanho encurtado do Mobi facilita a circulação entre pilastras de garagem ou entre carros no trânsito urbano.
A visibilidade é boa para frente e para os lados. A cruzada e a traseira são limitadas, pois a coluna “C” se une ao aplique da janela traseira e à caixa da lanterna criando um grande ponto cego e deixando, apenas, uma pequena parte translúcida no grande vidro traseiro que faz a vez da porta do porta-malas. O sensor traseiro de aproximação ajuda minimizar essa limitação.
Rodando – Atualmente, o Mobi só usa este motor 1.0 da linha Fire, a mais antiga e confiável da Fiat. A descontinuada versão Drive trazia o tricilíndrico Firefly, mais eficiente, porém, mais caro para adquirir e manter.
O Fire 1.0 se sai muito bem no Mobi, cumprindo as necessidades urbanas com desenvoltura. Para isso, suas relações de marcha são curtas, garantido arrancadas e retomadas vigorosas no trânsito. Em rodovias, este acerto cobra seu preço.
Circulando aos 90 km/h e aos 110 km/h, e de quinta marcha, o motor trabalha próximo às 3.000 rpm e às 3.500 rpm, respectivamente. Na primeira condição, os ruídos do diferencial e do arrasto aerodinâmico se sobressaem ao barulho do motor e dos pneus.
Mesmo nessa velocidade menor, é preciso manter algum curso no acelerador, pois, ao tirar o pé, o carro já entra em freio motor. Circulando na mais rápida, essa necessidade é, evidentemente, maior, mas o deslocamento do carro se mostra mais estável, a velocidade tende a oscilar menos.
Entretanto, como esperado, o ruído do motor vira protagonista, o do diferencial quase desaparece e o do vento contra a carroceria, bem como o do atrito dos pneus, ficam em segundo plano, bem contidos.
O que impressiona no Mobi é o acerto das suspensões. Mesmo com essa pequena distância entre-eixos, o modelo não fica arisco, pulando na mínima ondulação do asfalto. Além disso, elas absorvem bem as irregularidades do piso e garantem um ótimo conforto de marcha para um carro subcompacto.
Com as suspensões elevadas, a carroceria aderna um pouco mais, mas sem perder a estabilidade em uma condução responsável. Por outro lado, a versão passa sobre lombadas e entra e sai de rampas sem raspar os para-choques ou fundo do carro. Até em estradas de terra ele anda bem, copiando o terreno e mantendo a tração acima da média para um sistema 4×2.
Consumo – O Mobi Trekking se saiu como esperávamos em nossos testes padronizados de consumo. Ele foi econômico para um carro com motor 1.0 de quatro cilindros, mas menos do que seria com o motor Firefly de três cilindros.
No circuito rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,4 km, uma mantendo 90 km/h e, a outra, os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta, atingimos 14,2 km/l. Na mais rápida, 12,5 km/l, sempre com etanol no tanque.
Em nosso circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso. A versão finalizou este exigente teste com 8,5 km/l de etanol.
Ótima suspensão, bom acabamento e alta confiabilidade são qualidades que acompanham todos os produtos da Fiat, inclusive este de entrada. Sua linha reduzida em três versões está bem dimensionada.
A Easy tem o básico, ideal para frotas. A Like é completa e tem as suspensões elevadas, a mais equilibrada no nosso entender. E a Trekking, atende a quem quer um carro completo e que tenha como diferencial o estilo aventureiro, o mais desejado atualmente.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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