Stepway Zen 1.0 “põe fim”ao Sandero

Aventureiro compacto da Renault ficou posicionado logo acima do subcompacto Kwid

Amintas Vidal*   (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 12/05/2023)

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A Renault está encerrando a segunda grande fase da sua história como montadora no Brasil. Na primeira, entre 1998 e 2007, ela produziu apenas carros projetados para a Europa, inicialmente atualizados em geração com o Velho Continente.

Na segunda, de 2007 até hoje, ela veio substituindo esses modelos por projetos mais simples, da Dacia, sua subsidiária romena que desenvolve carros para os países emergentes, como os do Leste Europeu, Ásia e América do Sul.

Atualmente, a Dacia passou a produzir carros sobre a plataforma CMF-B, a mesma do Clio, elevando a qualidade dos seus produtos, deixando-os mais equiparados aos modelos da Renault europeia.

A partir deste ano, a Renault nacional também começará atualizar toda a sua linha. Ainda sem data oficial, ela lançará um SUV compacto derivado do novo Sandero Stepway romeno. Tanto ele, como os outros modelos, contarão com essa moderna base do grupo.

O SUV Duster ganhará uma nova geração e será aprimorado para ficar posicionado acima deste modelo inédito. Muito provavelmente, a picape Oroch receberá essa mesma evolução.

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Confirmado para o segundo semestre, o crossover Megane E-Tech será o terceiro automóvel 100% elétrico da marca importado para o Brasil.

Veículos recebeu o Renault Stepway Zen para avaliação. Versão de entrada, equipada com câmbio manual, ela é a única 1.0 do modelo.

No site da montadora, seu preço sugerido é R$ 79,99 mil. Este valor só é válido na cor vermelha sólida. A cor branca sólida custa R$ 700,00 e, as outras cores metálicas, custam R$ 1,50 mil.

Vendida em pacote fechado, não existe nenhum opcional para essa versão. Seus principais equipamentos de série são: sistema multimídia Media Evolution com Apple CarPlay e Android Auto por cabo; comando satélite do som; ar-condicionado analógico; direção com assistência eletro-hidráulica; sistema stop/start; travas elétricas e vidros dianteiros com abertura one touch e rodas em aço 15 polegadas com calotas e pneus 185/65 R15.

Em termos de segurança, não são muitos os equipamentos, pouco a mais do que os obrigatórios: ABS; quatro airbags; DRL e assinatura das lanternas em LED; sensor de estacionamento traseiro e faróis de neblina são os destaques.

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Motor e Câmbio – O seu motor é o SCe 1.0 12V, bicombustível, de três cilindros. Ele é aspirado e tem injeção indireta multiponto, duplo comando de válvulas tracionado por corrente com variação de abertura das mesmas, tanto na admissão quanto no escape.

Desenvolve um torque de 10,5/10,2 kgfm às 3.500 rpm e potência de 82/79 cv às 6.300 rpm, com etanol e gasolina, respectivamente. Sua taxa de compressão é 12:1.

O câmbio é manual de cinco (5) marchas com acoplamento por embreagem monodisco a seco.

Coincidência, ou não, a Renault anunciou essa nova versão do modelo assim que a Citroën lançou o novo hatch C3 que também é um aventureiro e fica nesta mesma faixa de preço quando equipado com motor 1.0. Aproveitando a oportunidade, a marca aposentou o nome Sandero.

Agora, todos os automóveis de dois volumes da marca são, ou aparentam ser, utilitários esportivos.

Nos próximos anos, considerando todos os modelos, a maioria ganhará nova geração, outros deixarão de existir e projetos inéditos comporão o portfólio da Renault, como o novo SUV compacto que citamos anteriormente.

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Visual – Mesmo ostentando este nome, o Stepway Zen 1.0 recebeu apenas o visual aventureiro, já que não teve as suspensões elevadas como nas versões Zen 1.6 e Iconic 1.6.

Mas, externamente, o ganho visual em relação ao descontinuado Sandero Zen foi amplo. Ambos os para-choques contam com um desenho específico para o Stepway.

Protetores de impacto imitando alumínio, formas mais robustas e retilíneas, além de nichos diferenciados para os olhos de gato e os faróis de neblina, são as grandes diferenças.

Acabamentos em plástico preto nas caixas de roda e nas soleiras têm continuidade com a base destes para-choques que são do mesmo material e cor.

Completando as exclusividades do Stepway, as lanternas em tom fumê, as molduras cromadas dos faróis de neblina, o rack de teto robusto, as capas dos retrovisores em preto brilhante e três adesivos com o nome da versão distinguem o aventureiro do Sandero “urbano”.

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Interior – Internamente, a versões Zen do Sandero e do Stepway eram idênticas, e continuam assim.  Desde a última reestilização, em 2019, o revestimento das colunas e do teto passou ser na cor preta, deixando o visual mais esportivo na cabine.

Os bancos, também reprojetados na mesma época, e os apoios de braço das portas dianteiras, únicas áreas macias ao toque, são revestidos com tecidos variados e costuras aparentes.

Já os plásticos, são bem mais simples. Todos os painéis são rígidos, monocromáticos e deixam alguns parafusos à mostra.

Moldura do multimídia e puxadores das portas dianteiras em preto brilhante, alguns detalhes cromados e outros que imitam alumínio fosco quebram um pouco a simplicidade interna.

Virtude – A grande virtude do Stepway é a sua ampla cabine. Quatro adultos e uma criança têm espaço de sobra para pernas ombros e cabeças.

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Os novos bancos dianteiros são largos, apoiam bem pernas e costas e seguram o corpo nas curvas.

O banco traseiro prioriza o aproveitamento lateral, contando com assento e encosto planos. Assim, garante conforto até na posição central, mas deixa todos sem apoio em curvas, algo que cansa em viagens longas.

A amplitude é garantida por dimensões generosas. São 4,07 metros de comprimento; 2,59 metros de distância entre-eixos; 1,54 metro de altura e 1,73 metro de largura.

Mantida a altura em relação ao solo igual a do Sandero (140 mm), não foram divulgados os ângulos de ataque e de saída do Stepeway 1.0.

Nem mesmo a versão mais cara do modelo tem o encosto bipartido no banco traseiro, diminuindo a versatilidade do modelo.

Mas, entre todos os hatches do mercado, o Stepway tem o maior porta-malas, com 320 litros de volume. O tanque de combustível comporta ótimos 50 litros.

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Se o Sandero já aparentava ser maior e mais pesado que seus concorrentes, o Stepway aparenta muito mais. Mas ele é leve, pesa 1.061 kg e suporta carga útil de 443 kg. Também não foi divulgado se ele é homologado para rebocar cargas.

Ergonomia – Apesar da amplitude interna, a ergonomia é acertada. Os comandos dos equipamentos de bordo estão à mão e os puxadores das portas são eficientes para abrir e fechar as mesmas.

Os pedais estão um pouco mais à direita em relação ao volante do que seria o ideal, mas isso quase não atrapalha. Inclusive, existe um apoio generoso para o pé esquerdo que melhora a postura do condutor, corroborando com o acerto ergonômico na cabine.

Uma ótima característica do Stepway Zen 1.0 é o seu velho e bom quadro de instrumentos com velocímetro e conta-giros analógicos bem dimensionados e com ponteiros, números e graduações visíveis. Ele é muito melhor do que o pobre quadro digital do Citroën C3, por exemplo.

O ar-condicionado, igualmente analógico, com três botões giratórios e dois de pressão é muito eficiente em volume de ventilação, tempo e resfriamento e manutenção de temperatura.

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O ruído de funcionamento está na média da categoria, mas sua usabilidade é melhor do que a do Peugeot 208, por exemplo, que tem comandos no multimídia e exige desvio do olhar para a tela deste sistema.

Robusto, modelo pode ocupar  lugar do Volkswagen Gol

Já o multimídia é o modelo mais antigo. Nele, a conexão USB está na parte superior da sua moldura e deixa o cabo dependurado e passando em frente à tela, sendo esta bem pequena.

Em brilho, sensibilidade ao toque e velocidade de processamento ele está na média da categoria. Fazer espelhamento apenas por cabo é uma limitação, mas, ao menos, em nossa avaliação a conexão com o celular ficou estável o tempo todo.

O sistema de áudio com quatro alto-falantes garante boa distribuição espacial, mas em potência e qualidade sonora, é um equipamento básico. Porém, conta com comando satélite na coluna de direção que permite o uso cego, o mais seguro.

O computador de bordo não tem informações múltiplas, mas tem os dados necessários. Ele conta com números em LED brancos que têm bom tamanho e contrastam com o fundo preto.

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Rodando – O Stepway traz todas as características do Sandero, um carro robusto e de baixo custo. A direção com assistência eletro-hidráulica representa bem essa última.

Comparada à elétrica, existente em toda a concorrência, ela é muito pesada em manobras de estacionamento.

Recebemos o Stepway minutos depois de entregarmos o Citroën C3. Ao primeiro esterço na direção, parecia que um pneu dianteiro estava furado, de tão pesada é a sua calibragem.

Mesmo assim, com alguns quilômetros rodados, nos acostumamos com ela. Circulando em cidades ela entrega algum conforto e fica muito adequada em estradas.

Ter o volante com regulagem de altura é uma compensação, pois alguns concorrentes não contam com este recurso.

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Por sua vez, as suspensões confirmam que a robustez não está só no design. Elas filtram bem as irregularidades do piso e trabalham em silêncio para um carro de entrada.

As rodas menores e pneus mais altos contribuem neste trabalho. Mesmo entregando conforto, o Stepway é estável, aderna pouco em curvas e, em uma condução responsável, não tende a sair de frente ou de traseira.

Mas, essa versão Zen 1.0 não tem controles de tração ou de estabilidade, como existe em quase todos os concorrentes. Ou seja, a responsabilidade na condução se faz mais necessária ainda. Foi um corte caro para atingir um preço mais baixo, pois até o Kwid traz estes recursos.

Alguns cuidados chamaram atenção positivamente. O capô conta com pistão para a sua sustentação quando aberto, peça de carro de luxo.

Isolamento Acústico – Existe manta acústica no capô, algo que diminui os ruídos ao rodar. Por sinal, em estradas, quase não se houve o atrito dos pneus sobre o asfalto, evidenciando bom isolamento acústico nas caixas de roda, também.

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Comparado ao Kwid, o Stepway é mais pesado, assim como é a sua direção. Contudo, além de mais silencioso, ele é mais estável e confortável em estradas do que o “irmão” menor.

Em relação ao Citroën C3, valem as mesmas observações, pois ele também supera o conterrâneo.

O conjunto de motor e câmbio da Renault é um dos melhores da categoria. Potência e torque estão entre os maiores fornecidos por motores aspirados de três cilindros e um litro de volume total.

O câmbio tem marchas bem escalonadas, engates e batentes precisos, mas apresenta um curso longo da alavanca. Nada que o desabone.

Como em todos os modelos 1.0 tricilíndricos, o desempenho não é nada esportivo, mas é adequado ao uso urbano e suficiente ao rodoviário, permitindo viagens seguras se suas limitações forem respeitadas.

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Além de atender ao modelo, seu ruído é agradável e mais grave, não estridente, como nos motores 1.0 de quatro cilindros.

Aos 90 km/h e em quinta marcha, o motor trabalha às 3.000 rpm, aos 110 km/h, às 3.600 rpm. São regimes de rotação altos, consequência das relações mais reduzidas, necessárias para garantir desempenho ao Stepway em todas as marchas.

Porém, nessas velocidades, o carro fica preso ao motor, não aproveita o deslocamento por inércia, prejudicando um pouco o consumo.

Consumo – No nosso teste padronizado de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,4 km, uma mantendo 90 km/h e, outra, os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.

Na volta mais lenta atingimos 18 km/l. Na mais rápida, 15,8 km/l, sempre com gasolina no tanque. Não são médias ruins, mas poderiam ser melhores para um motor com essas características.

20230414_093432Fotos: Amintas Vidal

Em nosso circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso.

Nessas condições, o Stepway Zen 1.0 finalizou o teste com 11,5 km/l, também com gasolina. Mesmo com o stop/start funcionando em todas as paradas, o consumo foi pior do que o de alguns concorrentes que não contam com este sistema.

A versão Zen 1.0 do Stepway é a mais nova da linha e foi lançada para concorrer entre os carros de entrada, notoriamente, os menos caros do nosso mercado.

Por ser o modelo mais antigo dessa disputa, ele fica devendo alguns equipamentos mais atualizados.

Por outro lado, o porta-malas é o maior, a cabine está entre as mais espaçosas e o Stepway é, provavelmente, o modelo mais robusto do segmento, um potencial herdeiro da fama de “tanque de guerra” do descontinuado Volkswagen Gol.

*Colaborador

Acesse o nosso site: http://www.diariodocomercio.com.br

 

 

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