Teto panorâmico, farol full LED e carregador por indução são diferenciais na categoria
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 24/03/2023)

A segunda geração do Peugeot 208 é sucesso de crítica e público. Após ser eleito o carro do ano 2020 na Europa, o hatch compacto fechou 2022 como o mais vendido daquele continente, destronando o Volkswagen Golf que detinha o título há anos.
Presente no Brasil desde 2021, o novo 208 multiplicou as vendas do modelo e impactou a participação da marca no mercado.
Em 2020, a Peugeot emplacou apenas 10.278 carros, foi a 14ª montadora e obteve participação de 0,64% no mercado brasileiro.
No fechamento de 2021, já sob a influência desta nova geração do hatch, o volume total da francesa saltou para 24.762 unidades, tornando-se a 11ª marca ao ampliar sua fatia para 1,59%, crescendo quase 2,5 vezes de um ano para o outro.
O lançamento das versões 1.0 aspiradas do 208, no ano passado, contribuíram ainda mais com o desempenho da Peugeot em 2022.

Em 2021 foram emplacadas 16.342 unidades do modelo. Em 2022, foram registrados 29.918 emplacamentos do 208, quase o dobro de vendas.
Neste ritmo, a Peugeot fechou 2022 emplacando 35.950 veículos, subindo para o top 10 entre todas as marcas e abocanhando 2,28% de participação, crescimento de 3,56 vezes em apenas dois anos.
Todos estes dados do mercado nacional foram fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O DC Auto recebeu o Peugeot 208 Style (2023) para avaliação. Ela é a segunda versão de entrada e a 1.0 mais equipada do modelo.
Seu preço não está disponível no site da montadora. A assessoria da Peugeot informou que o valor oficial desta versão é R$ 96,56 mil, mas está sendo comercializada, promocionalmente, por R$ 84,99 mil.

Este preço só é válido na cor metálica preta. As outras cores metálicas, ou a branca perolizada, custam R$ 1,95 mil.
Todas as versões do 208 são completas de série, sem opcionais, mas podem receber acessórios. Existem kits formatados, focados em equipamentos de conforto, proteção e estilo, por exemplo. Além desses conjuntos, alguns itens podem ser adquiridos avulsos.
Equipamentos – Os principais equipamentos de série da versão Style são: teto de vidro panorâmico; carregador de celular por indução eletromagnética; multimídia com tela de 10,3 polegadas e espelhamento para Apple CarPlay e Android Auto sem cabo; volante multifuncional; ar-condicionado com controle digital; direção com assistência elétrica; duas entradas USB; painel soft carbon e maçanetas internas em cromo fosco.
Alguns itens são exclusivos e outros “emprestados” das versões mais caras. As rodas de 16 polegadas são pintadas em preto brilhante, assim como são o aerofólio e os retrovisores, iguais aos das versões de topo da gama, Road Trip e Griffe.
Destas, também vêm os faróis em full LED. A grade frontal tem detalhes em cromo fosco, outro diferencial da Style.

Os bancos são revestidos com tecidos em duas cores e costurados com linha azul aparente. Os tapetes são feitos em carpete com o nome da versão bordado com essa mesma linha.
Fechando a caracterização, aplicado em um nicho na coluna “C”, o emblema Style tem face em preto brilhante e as laterais no mesmo azul claro desta linha usada na capotaria.
Em segurança, são muitos os equipamentos, considerando ser essa uma versão de entrada. Os destaques são: quatro airbags; controles de estabilidade e tração; assistente de partida em rampas; sensor de aproximação; câmera de estacionamento traseira com visão 180° e os faróis em full LED.
Motor e Câmbio – O motor é o Firefly 1.0 da Fiat, principal montadora da Stellantis no Brasil. Entre os motores de três cilindros, ele é mais simples do que os da concorrência, mas tão eficiente quanto.
Ao contrário dos rivais que apostaram em projetos com duplo comando e quatro válvulas por cilindro, no Firefly existe apenas um comando e duas válvulas por cilindro, visando diminuir o número de peças e, consequentemente, atrito e peso na busca por eficiência e confiabilidade.

Para alcançar desempenho semelhante, outras tecnologias aperfeiçoam o seu funcionamento e permitem que este motor trabalhe com alta taxa de compressão, 13,2:1.
Contudo, ele atinge um dos maiores torques da categoria, 10,7/10 kgfm às 3.250 rpm e boa potência, 75/71 cv ás 6.000 rpm, sempre com etanol e gasolina, respectivamente.
O câmbio é manual de cinco (5) marchas com embreagem monodisco a seco.
Essa segunda geração do Peugeot 208 utiliza uma nova plataforma, a Common Modular Plataform (CMP).
Também preparada para eletrificação, essa base será usada em diversos modelos da Stellantis. Provavelmente, os Fiat Argo e Cronos, modelos que também usam o motor Firefly 1.0, serão construídos sobre este monobloco futuramente.

Design – O design, externo e interno, é a maior virtude do hatch compacto. Muito espelhado nos SUVs da marca, sua carroceria ganhou robustez e agressividade rara em carros de passeio.
Seu volume frontal é alto, destacado da cabine e conta com grade e vincos em forma de “V”. As laterais têm linha de cintura igualmente alta, janelas estreitas e vincos marcantes.
Na traseira, lanternas horizontais interligadas por peça plástica em preto brilhante são elementos usados nos utilitários da Peugeot e que diferenciam o 208 no segmento.
Por dentro, a cabine é envolvente e os materiais usados dão uma aparência tecnológica ao interior. O painel arqueado se estende às portas formando uma linha contínua revestida em material acolchoado que imita fibra de carbono.
O desenho é limpo, os poucos botões de controle são teclas inspiradas em elementos aeronáuticos e os detalhes metálicos realçam as partes internas sem exageros, um bom exemplo a ser seguido.


Os materiais são simples, não existem outras áreas macias ao toque e os encaixes não são tão precisos. Porém, o interior tem um design arrebatador, tanto quanto o exterior.
Ao vivo, o Peugeot 208 é mais bonito e parece maior do que por fotos. Suas medidas externas são amplas, realmente, mas as internas, nem tanto.
O Peugeot 208 em números: 4,05 metros de comprimento; 2,53 metros de distância entre-eixos; 1,73 metro de largura e 1,45 metro de altura.
O porta-malas comporta apenas 265 litros e, o tanque de combustíveis, 47 litros. Pesando 1.102 kg, sua carga útil é de 400 kg e a capacidade de reboque é de 500 kg.
Ergonomia – A ergonomia diferenciada do 208 combina com sua imagem esportiva. O volante é mínimo e tem proporção retangular, pois a parte superior e sua base são retilíneas.

Chamado de I-Cockpit, o quadro de instrumentos é visto por cima do volante, um conceito aplicado a outros modelos da marca.
É possível deixar o banco bem baixo, posicionando as pernas mais na horizontal e corretamente alinhadas com o volante e os pedais, acerto ergonômico correto e posição pouco comum atualmente.
O espaço continua amplo para o passageiro da frente, pois o painel principal é recuado, mesmo sendo envolvente, algo que deixa muita área livre nessa posição.
Mas, essa fartura acaba por aí. Ao passar para o banco de trás, nós nos lembramos de que este é um modelo de entrada na Europa, focado em jovens sem filhos.
O 208 é um carro de primeiro mundo e, não, de países emergentes, onde os compactos são mais espaçosos para atender a famílias maiores.

Para o bem, ou para o mal, ele herda especificações europeias: um projeto sofisticado, considerando os nossos padrões, com uma cabine realmente compacta.
Só dois adultos andam com relativo conforto atrás, mas sem sobras para as pernas. Ao centro do banco traseiro, apenas uma criança, pois o túnel central é alto, característica comum em plataformas projetadas para a eletrificação.
No mais, todos os bancos têm bom apoio para as costas e pernas. A alavanca de câmbio fica alta, próxima ao volante, e garante agilidade ao cambiar e todos os outros comandos estão à mão.
Ar-Condicionado – Entretanto, o minimalismo no design prejudica a usabilidade dos equipamentos de bordo. Faltam botões físicos para operar o multimídia e o ar-condicionado. Por sinal, o segundo é quase totalmente controlado na tela do primeiro.
Existem teclas de atalho para o ar-condicionado, é verdade, mas elas não são completas. Operam algumas funções como ativação da refrigeração, resfriamento máximo e recirculação.
Temperatura e ventilação, ajustes básicos, apenas na página do multimídia dedicada a este equipamento.

A tecla que leva a esta página ao primeiro toque, ajudaria muito se retornasse ao espelhamento no segundo toque, reprogramação que a Peugeot deveria fazer na próxima atualização eletrônica dos equipamentos.
Em compensação, o ar-condicionado é muito eficiente. Mesmo não sendo possível regular a temperatura em graus, mas apenas operar as funções digitalmente na tela, em tempo de resfriamento, manutenção de temperatura e volume de ventilação, a eficiência deste sistema impressiona bastante, em se tratando de um equipamento acionado por um motor 1.0 aspirado.
Multimídia – O multimídia, a despeito da falta de botões, apresenta lay-out compartimentado do espelhamento que aproveita toda a longa tela desta central.
No Android Auto atualizado, o menu, atalhos e dois aplicativos ficam visíveis e operáveis ao mesmo tempo, assim como o volume do áudio e os ícones de operação do próprio multimídia, uma ótima acessibilidade.
Vale observar que a proporção desta tela não é a tradicional 16:9, ela é bem mais comprida. Sendo assim, nas suas 10,3 polegadas diagonais, a altura é bem menor do que o comprimento e, consequentemente, as imagens dos aplicativos aparecem no tamanho que teriam em uma tela de 8 polegadas, pois estes programas são diagramados para essa proporção mais usual.

Em tamanho de tela, definição de imagem e brilho, este equipamento está atualizado com os melhores do mercado, comparável aos outros da Stellantis, da Fiat e da Jeep.
Em velocidade de processamento, sensibilidade ao toque e estabilidade de conexão ele pode melhorar.
O sistema de áudio tem mais potência do que o normal para equipamentos sem assinatura de marca especializada em sonorização, mas os alto-falantes são subdimensionados, causando distorções nos volumes mais altos.
Hatch compacto se mostrou extremamente prazeroso de dirigir
O sensor de aproximação traseiro e a câmera 180° são muito úteis, pois as janelas estreitas não colaboram com a visibilidade, muito menos as largas colunas “C” que criam grandes pontos cegos na visão cruzada.
Este sistema utiliza câmera única e fornece visão ampla apenas quando o carro se desloca. O ângulo da câmera ficou muito baixo, limitando o alcance da imagem para trás do carro.

No volante multifuncional, diversos botões controlam áudio, telefonia e computador de bordo, algo que ameniza a escassez de controles físicos no multimídia. O computador de bordo aparece, em tela digital, ao centro do quadro de instrumentos.
Mesmo apresentando dados únicos, ele é eficiente, pois a sequencia das informações é lógica. Nessa mesma tela, velocidade e volume de combustíveis são gráficos fixos. A boa hierarquia das dimensões destes ícones deixa todos bem visíveis.
Velocímetro e conta-giros analógicos também apresentam ponteiros marcantes e números legíveis. Incomoda o fato da rotação se elevar no sentido anti-horário.
Pode ser um diferencial de estilo da Peugeot, mas é muito melhor quando os dois instrumentos evoluem em sentido horário, o tradicional. Ler corretamente o conta-giros invertido requer tempo ao volante.
Existe um compartimento com tampa para o carregador por indução eletromagnética. Além de esconder o celular quando fechada, essa tampa tem um anteparo que mantém o mesmo na horizontal e com a tela voltada para o condutor, quando aberta, algo simples e prático.
O teto de vidro panorâmico sofistica a versão e entrega uma ambientação diferenciada. Sua cortina tem acionamento manual e o vidro não abre, mas é um equipamento único entre os concorrentes.
Evidentemente, o 208 Style não é um esportivo. Nenhum carro 1.0 aspirado o é. Mas, essa versão entrega o visual e a ergonomia mais acertados para que ele se torne um verdadeiro pocket rocket.
Se a Stellantis equipar o 208 com o motor Firefly 1.0 turbo, ele já será o melhor hatch do País em dinâmica.
Se ousar lançá-lo com o GSE 1.3 turbo e câmbio manual, então, será o único esportivo de verdade entre as marcas não Premium. Uma verdadeira reedição do 208 1.6 THP GT, manual, que existiu na geração anterior do modelo.
Rodando – Sonhos à parte, “pilotar” o 208 Style dá muito prazer. O volante diminuto associado à direção elétrica leve e direta, ao mesmo tempo, deixa a condução até arisca, condição que combina com o posicionamento baixo e alinhado do “piloto”.

Como em todo carro que permite essa postura mais esportiva, principalmente para quem deixa o banco na posição mais baixa possível, entrar e sair do modelo exige mais esforço do que o normal.
Segundo a Peugeot, este conjunto mecânico oriundo da Fiat foi ajustado para ser mais eficiente. Mas, os números de torque e potência são iguais aos do Argo.
Pode ser que os equipamentos periféricos da francesa, como os sistemas de arrefecimento, ar-condicionado e elétricos ajudem nessa diferença.
Em comparação ao hatch da Fiat, no 208 Style, além da ergonomia aprimorada, observamos ganhos na dirigibilidade, no conforto acústico e de marcha.
O escalonamento das marchas é quase perfeito. Da primeira à terceira marcha a rotação sobe muito rápido, sem buraco entre elas, e o carro acelera e retoma melhor do que o Argo.

Em rodovias e na quinta marcha, o motor gira ás 2.600 rpm aos 90 km/h e às 3.200 rpm aos 110 km/h, regimes contidos para um motor 1.0. Nessas situações ele ainda responde ao acelerador, demonstrando elasticidade.
A quarta marcha é útil em retomadas, pois eleva as rotações nas duas velocidades mencionadas sem atingir o limite de corte do motor. No geral, o desempenho do 208 agradou mais do que o do compacto da Fiat.
Aos 90 km/h o ruído interno é muito baixo. Quase não se ouve o atrito dos pneus, do vento contra a carroceria e do motor. Aos 110 km/h, a resistência aerodinâmica é mais sentida, tanto no ruído quanto na retenção do carro.
O ruído do motor também aumenta, mas como em todos os modelos de três cilindros, ele é grave e agradável aos ouvidos. O tratamento acústico do 208 também se mostrou mais elaborado.
Suspensão – Outra grata surpresa vem do conjunto de suspensões. Relativamente alto para um carro com visual tão esportivo, ele garante ao modelo superar lombadas e entrar e sair de garagens sem raspar para-choques ou bater o fundo nessas transposições.

Ainda assim, entrega estabilidade suficiente para o desempenho desta motorização. Em curvas mais rápidas, os pneus de medida 195/55 R16 cantam um pouco, mas o carro não tende escapar de frente ou traseira.
Além deste controle direcional, o sistema garante conforto ao circular sobre pisos irregulares, trabalhando em silêncio e sem atingir limite de curso, algo que era comum em outros compactos da Peugeot menos adaptados aos nossos péssimos pavimentos. Apenas em buracos maiores o impacto é mais audível e sentido na cabine do que no Argo, por exemplo.
Consumo – No nosso teste padronizado de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,4 km, uma mantendo 90 km/h e, a outra, os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta atingimos 20,4 km/l. Na mais rápida, 17,2 km/l, com gasolina no tanque.
Em nosso circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5 e 50 segundos. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do percurso.
Fotos: Amintas Vidal
Nessas condições, o Peugeot 208 Style finalizou o teste com 11,4 km/l, também com gasolina. Se fosse equipado com o sistema stop/start, este consumo em cidades seria melhor.
Lançada por R$ 79,99 mil, a versão Style fez muito sucesso por seu excelente custo benefício. No preço oficial do início da matéria, essa vantagem não é tão grande, pois existe até modelo concorrente turbo e automático nessa faixa de R$ 96 mil.
Mas, ao preço promocional de R$ 84,99 mil, ela ainda é imbatível, pois traz o teto panorâmico, equipamento que nenhum outro modelo 1.0 oferece. Além do fato dos faróis serem full LED, algo raro entre os hatches compactos.
*Colaborador
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