Nova geração chega ao mercado para incomodar a concorrência no segmento de sedans compactos premium
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 08/01/2021)
Na segunda metade dos anos 2000, surgiu uma tendência que mudou a categoria de sedans compactos. Condições econômicas favoráveis nos países em desenvolvimento ampliaram o número de famílias com renda para comprar e, principalmente, financiar o primeiro carro zero quilômetro.
Com bom espaço para as bagagens, os sedans foram os escolhidos no segmento dos compactos, os mais acessíveis. Para atenderem melhor a essas pessoas, as montadoras passaram a projetar modelos com entre-eixos maiores, próximos aos dos médios, e com o melhor aproveitamento possível do espaço interno.
Design pouco elaborado, acabamento espartano e equipamentos essenciais viabilizaram o ganho em tamanho, ainda mantendo o preço competitivo.
Atualmente, esse consumidor perdeu seu poder de compra e a demanda recai sobre um perfil mais exigente e com maior poder aquisitivo. Contudo, o sedan compacto com espaço de médio virou padrão, mas, agora, eles são muito bonitos, estão bem equipados e contam com mecânica moderna.
Na linha da Nissan temos um ótimo exemplo dessa nova realidade. O Versa de primeira geração foi renomeado de V-Drive e continua em linha como sedan de entrada da marca. O Versa 2021, uma verdadeira nova geração, cumpre o papel de sedan compacto premium com direito às mudanças em design e os novos dispositivos que este mercado atual espera.
DC Auto recebeu o novo Nissan Versa Exclusive XTronic CVT para avaliação. Versão de topo de linha do modelo, tem o preço sugerido de R$ 94,79 mil no site da montadora. Este é o valor nas cores sólidas, branca ou preta.
Também existem as opções de pinturas metálicas em dois tons de vermelho, azul, cinza, prata e branco no valor adicional de R$ 1,45 mil. As demais versões são: Sense (R$ 74,49 mil) de entrada, e Advance (R$ 85,19 mil), a intermediária.
Todas as versões só oferecem os equipamentos que vem de série, sem opcionais. Existe a possibilidade de instalar acessórios nas concessionárias, como o carregador de celular por indução e o acionador automático dos vidros, por exemplo, itens presentes nessa unidade que avaliamos.
Os principais equipamentos de série da Exclusive são: ar-condicionado automático digital; direção elétrica progressiva; comandos de áudio, computador de bordo, controlador de velocidade e telefone no volante; sistema multimídia Nissan Connect com display touch screen colorido de 7 polegadas, Apple CarPlay, Android Auto, bluetooth e GPS nativo; painel de instrumentos multifuncional de 7 polegadas com 12 funções; chave inteligente presencial (I-Key) com botão Push Start; acendimento inteligente dos faróis; entre outros.
Os dispositivos de segurança são: airbags frontais, laterais e do tipo cortina; freios ABS com controle eletrônico de frenagem (EBD) e assistência de frenagem (BA); controles de tração e estabilidade; alerta de colisão frontal com assistente inteligente de frenagem (FCW/FEB); alerta de tráfego cruzado traseiro (RCTA); visão 360° inteligente; detector de objetos em movimento (MOD); monitoramento de ponto cego (BSW); sistema inteligente de partida em rampa (HSA); sensor de estacionamento traseiro; alerta de objetos no banco traseiro; luzes dianteiras de posicionamento e faróis dianteiros em LED e faróis de neblina.
Motor e Câmbio – O motor que equipa todas as versões do novo Nissan Versa não é turbo, mas é um moderno 1.6 bicombustível com 16V. Ele tem quatro cilindros em linha, cabeçote com duplo comando de válvulas com variação de abertura na admissão e no escape e é tracionado por corrente.
A injeção é indireta, multiponto, e a taxa de compressão é 10,7/1. O torque máximo atinge 15,5 kgmf às 4.000 rpm e a potência chega aos 114 cv às 5.600 rpm, com ambos os combustíveis, segundo a Nissan.
O câmbio é automático do tipo CVT, com simulação de seis (6) marchas, e seu acoplamento é feito por conversor de torque. Ele não oferece seleção entre automático e manual, mas conta com programação Sport ativada por botão e posição L(low) comutável na alavanca.
O porta-malas do Versa comporta bons 482 litros, mas o tanque de combustíveis, apenas 41 litros. Suas dimensões são: 4,49 metros de comprimento, 2,62 metros de distância entre-eixos, 1,74 metro de largura (sem contar os retrovisores) e 1,47 metro de altura total.
Essas medidas são ligeiramente diferentes às do V-Drive, que já tem um amplo espaço interno. São mais 3 mm no comprimento, 45 mm a mais na largura (a maior diferença), 31mm a menos na altura e 2 mm a mais no entre-eixos.
Design – A maior revolução desta nova geração é, sem duvida, o design. O Versa deixou de ser estranho para se tornar muito bonito. A atual assinatura Nissan V-Motion marca a grade frontal e encaminha a linha dinâmica da carroceria passando sobre os faróis.
A linha corre no alto pelas laterais, paralela a uma segunda que une as maçanetas à lanterna traseira. O teto com queda suave, quase um coupé, termina além da metade do porta-malas e, é separado das laterais por um aplique plástico preto, recurso que cria a ilusão de teto flutuante.
Na traseira, as lanternas em forma de flecha ficam altas, invadem a tampa do porta-malas e deixam o volume bem robusto. Um aplique tipo extrator pintado na cor da carroceria e emoldurado por uma faixa feita em um material que imita fibra de carbono arremata o para-choque traseiro.
Entendemos que este detalhe destoou um pouco do design geral, mas pode agradar aos que gostam das referências trazidas dos carros de competição para os veículos de passeio.
Interior – Além da mecânica do Kicks, agora, o Versa usa muitas peças internas do irmão. Assim, ele foi alçado ao mesmo patamar de qualidade interna do SUV compacto. Subindo do console central até ao fim do cluster do quadro de instrumentos, todas as peças são idênticas em ambos.
A diferença está no acabamento superior do painel principal, um desenho exclusivo para cada modelo. Todas as outras peças, bancos, painéis de portas, puxadores, etc receberam modificações sutis.
O importante é a ótima qualidade dos materiais usados nessas peças. A parte central do painel principal é revestida com napa que imita o couro, acolchoada e com costura aparente.
Existem áreas revestidas e macias nos apoios de braço, algo raro de se ver nas quatro portas, assim como os puxadores traseiros feitos em material que, também, imita fibra de carbono, sendo iguais aos dianteiros. Um único detalhe é que as peças da frente ainda têm um friso no acabamento tipo alumínio fosco.
Este mesmo padrão metálico se repete no raio inferior do volante, nas saídas de ar e nas molduras e botões do ar-condicionado e do multimídia. Ainda existem peças em preto brilhante e algumas cromadas, como as maçanetas, por exemplo.
O revestimento dos bancos em material sintético que imita o couro, em cores diferentes, completa o requinte interno. Essa grande variedade de materiais que distingue o interior do modelo (ponto positivo), chega a poluir e quebrar um pouco a unidade visual interna, excesso que poderia ser evitado, ainda mantendo a sofisticação alcançada.
A cabine acomoda pernas e ombros de cinco adultos com relativo conforto. Quatro viajam folgados. A cabeça de pessoas com mais de 1,80 metro esbarra no teto na parte traseira.
Os bancos garantem ótimo apoio a todo o corpo, sem cansar motorista e passageiros em viagens mais longas. Por terem laterais mais largas, eles roubam um pouco do espaço interno, diferença sentida em relação à primeira geração que tinha bancos mais estreitos, porém, desconfortáveis se comparados aos novos.
A ergonomia do Versa é como deveria ser em todos os sedans. Os bancos dianteiros permitem que se assente em uma posição baixa, envolvido pela cabine do carro, e os comandos estão todos à mão.
Conjunto mecânico garante agilidade, mas destaque é o conforto ao rodar
O ar-condicionado e o sistema multimídia possuem botões físicos giratórios para as funções primarias e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
O sistema de refrigeração é automático, digital e de zona única. Funciona muito bem em velocidade de resfriamento e estabilidade de temperatura. Além dos botões mencionados, o lay-out é limpo e o display visível, mesmo sendo pequeno.
O multimídia funcionou muito bem para navegação e para ouvir músicas, tanto com o celular pareado, quanto espelhado. Entretanto, quando atendíamos ao telefone, algumas ligações caíam, pois o sistema inicial das chamadas desabilitou-se sozinho.
A qualidade do som é ótima para um equipamento sem assinatura de uma marca especializada. O tamanho da tela é o mínimo exigido atualmente. A sensibilidade ao toque e a velocidade de processamento estão na média. Definição e brilho da tela podem melhorar.
O computador de bordo, as informações e configurações do veículo e o conta giros são exibidos em uma tela digital HD de 7 polegadas com 12 funções. Controlado por botões localizados no volante, este painel oferece páginas variadas funções que ajudam na navegação, com diversas informações úteis.
Rodando – A direção elétrica é bem leve para manobras de estacionamento e fica mais pesada e direta em velocidade. O sistema de câmeras com visão de 360º ajuda em diversos tipos de manobras, tanto em marcha à ré, quanto para frente.
É possível escolher visualizar a imagem ampliada da câmera direita, facilitando enxergar as guias em balizas. Os alertas de tráfego cruzado e de monitoramento de ponto cego auxiliam bastante ao sair de ré em vagas paralelas e ao circular em vias diversas, respectivamente.
O conjunto motor e câmbio garante agilidade ao novo Versa, mas ele está longe de ser um esportivo. Na verdade, sua grande qualidade é o conforto acústico ao rodar. Além do uso de materiais de isolamento robustos, guarnições duplas, carpetes e espumas expandidas, o acerto do câmbio CVT privilegia o baixo consumo, contribuindo com o silêncio a bordo.
Aos 90 km/h é possível circular com o motor girando às 1.600 rpm. Aos 110 km/h, às 1.900 rpm. Em ambas as situações, não se escuta o motor. Na velocidade mais baixa, o ruído dos pneus 205/50 R17 é tudo que se ouve.
Na mais rápida, o vento contra a carroceria aparece e, somado ao primeiro ruído, eles sobressaem ao barulho do propulsor. É bastante curioso que, mesmo ouvindo mais ruídos, o conforto acústico circulando aos 110 km/h é maior, pois o resultado da somatória de ambos os sons é mais agradável aos ouvidos do que apenas o barulho dos pneus.
Se essas características garantem conforto acústico e economia de combustível, a falta de recursos para operar as seis marchas simuladas não ajuda em outras situações, como deixar o carro em freio motor.
A tecla Sport reduz as relações de marcha, ajuda um pouco nas ultrapassagens, mas não segura tanto o carro nas reduções. A posição L do câmbio só deve ser usada em baixas velocidades, útil para ladeiras, por exemplo, mas não serve para reter os deslocamentos mais rápidos.
O ideal seriam as aletas (shift paddles) atrás do volante para comutar as marcha livremente ou, pelo menos, a possibilidade de trocá-las por meio da própria alavanca de marchas.
Os sedans são carros mais seguros que os SUVs, justamente por serem mais baixos. No novo Versa essa segurança se sente em sua grande estabilidade, prioridade do acerto de suas suspensões. Mesmo mais rígidas, elas entregam muito conforto de marcha em pisos lisos ou ondulados.
Em pisos mal conservados, esburacados ou em lombadas mais salientes, o conjunto sofre para isolar a cabine, aparenta trabalhar no limite e deixa raspar o fundo quando o carro está carregado com pessoas e bagagem.
Consumo – Em nosso teste padrão de consumo, o Nissan Versa apresentou números melhores do que esperávamos para um motor 1.6 com câmbio CVT, acoplamento por conversor de torque e usando apenas etanol em todas as medições.
No teste rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma aos 90 km/h e, outra, aos 110 km/h. Na menor velocidade, o consumo foi de 14,3 km/l. Na mais rápida, o consumo registrado foi de 12,7 km/l. Esses números só foram possíveis pela baixa rotação do motor em velocidade de cruzeiro e pela boa aerodinâmica do sedan.
O teste de consumo urbano é realizado em um circuito de 6,3 km no qual completamos 4 voltas, totalizando 25,2 km, fazemos paradas para simular semáforos e deslocamos por vias muito acidentadas, algo semelhante a circular pelas ruas de Belo Horizonte (MG), uma cidade construída sobre montanhas.
Neste caso, o consumo urbano ficou próximo à média dos modelos que já testamos anteriormente: 6,7 km/l. Se ele fosse equipado com o sistema stop/start, recurso que desliga o motor nas paradas em semáforos, seu consumo urbano poderia ser melhor.
A Nissan sempre foi conhecida por seus utilitários e sedans. Na categoria de compactos, o Kicks representa muito bem a marca entre os utilitários esportivos, mas o antigo Versa era muito simples, assim como o descontinuado hatch March.
Agora, com o novo Versa, a marca está bem armada para brigar entre os sedans compactos premium, além de continuar a atender os consumidores na faixa de preço inferior, com o V-Drive.
A fabricante não confirma, mas já sinalizou que terá novidades para 2021: reestilização do Kicks e nova geração do sedan médio Sentra. Um SUV abaixo do Kicks, para ocupar a lacuna deixada pelo March, e outro acima, para encarar os utilitários médios, são novidades mais prováveis para 2022.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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