Avaliamos a versão intermediária, Advance, com motor 1.6, de 114 cv, e câmbio CVT
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 23/07/2021)
A economia de escala sempre foi fundamental na indústria automotiva. A linha de montagem moderna, criada por Henry Ford, em 1913, possibilitou produzir o maior número de veículos, no menor intervalo de tempo e com o custo mais baixo possível, um padrão para o setor.
De lá para cá, inúmeros aperfeiçoamentos foram promovidos em sua estrutura, como o fornecimento de peças que não geram estoque, o famoso “Just in time”, e a robotização, por exemplo.
Atualmente, a padronização de modelos já é algo do passado. Em uma mesma linha são montados carros diferentes que atendem, especificamente, à demanda de um cliente, isto é, se produz na ordem em que os mesmos são vendidos.
Aparentemente, isso seria um retrocesso, mas não é. Hoje, diversos modelos são montados sobre uma mesma plataforma, usam as mesmas peças mecânicas, elétricas e eletrônicas, diferenciando-se em partes das suas carrocerias e peças internas.
Alguns carros até usam diversas peças internas iguais, como os modelos Nissan Versa e Kicks, sedan compacto e SUV compacto, respectivamente.
O DC Auto recebeu, para avaliação, a versão intermediaria do novo Nissan Versa, a Advance 1.6 CVT. No site da montadora o seu preço sugerido é R$ 96,19 mil, nas cores branca ou preta sólidas. As pinturas metálicas (vermelha, azul, cinza e prata) custam R$ 1,45 mil. As versões do novo Versa não oferecem opcionais.
Os principais equipamentos de série da Advance são: ar-condicionado; direção elétrica progressiva; comandos de áudio, computador de bordo, controlador de velocidade e telefone no volante; multimídia Nissan Connect com display touch screen colorido de 7 polegadas com Apple CarPlay, Android Auto e bluetooth; painel multifuncional de 7 polegadas com 12 funções; chave inteligente presencial (I-Key) e botão Push Start para partida do motor; acendimento inteligente dos faróis e rodas diamantadas de 16 polegadas calçadas com pneus 205/55, entre outros.
Além dos itens obrigatórios, como os airbags duplos frontais, essa versão traz outros equipamentos de segurança importantes: airbags laterais e de cortina; freios ABS com controle eletrônico de frenagem (EBD) e assistência de frenagem (BA); controles de tração e estabilidade; sistema inteligente de partida em rampa (HSA), sensor de estacionamento traseiro e câmera com linhas auxiliares dinâmicas; alerta de objetos no banco traseiro e faróis de neblina.
Motor e Câmbio – Todas as versões do novo Nissan Versa têm o mesmo conjunto mecânico. O motor é o 1.6 16V, aspirado e bicombustível, usado amplamente em modelos Nissan e Renault vendidos no Brasil.
Ele tem quatro cilindros em linha, cabeçote com duplo comando de válvulas, variação de abertura na admissão e no escape e é tracionado por corrente. A injeção é indireta, multiponto, e sua taxa de compressão é 10,7/1. O torque máximo atinge 15,5 kgmf às 4.000 rpm e a potência chega aos 114 cv às 5.600 rpm, com ambos os combustíveis.
O câmbio é automático CVT com simulação de seis (6) marchas e seu acoplamento é feito por conversor de torque. Ele não oferece seleção entre automático e manual, mas conta com programação S (Sport), ativada por botão, e posição L(Low) comutável na alavanca.
O porta-malas do Versa comporta bons 482 litros, mas, o tanque de combustíveis, apenas 41 litros. Suas dimensões são: 4,49 metros de comprimento, 2,62 metros de distância entre-eixos, 1,74 metro de largura (sem contar os retrovisores) e 1,46 metro de altura. Essa versão pesa 1.122 kg e a sua carga útil é de 522 kg.
Design – Como informamos anteriormente, o Versa compartilha inúmeras peças com o Kicks. Porém, o mais interessante é analisar o design dos dois. O Kikcs é um SUV que foi projetado a partir da plataforma do Versa de primeira geração, sedan ainda vendido no nosso mercado com o nome V-Drive.
Mas ele não tem um traço do antigo modelo, ficando muito mais bonito e moderno que o seu doador. Por sinal, ao projetar o Versa atual, a Nissan usou e abusou das referências de design do SUV para fazer o sedan, um caminho inverso ao usual, pois são os hatches e sedans que servem de base para os SUVs e acabam influenciando os seus estilos.
E isso foi ótimo para o novo Versa. Ele adotou o atual DNA dianteiro da Nissan encontrado, principalmente, na grade do radiador. O desenho foi inaugurado no Kicks e recebe o nome de Double V-Motion.
Também ganhou as linhas vincadas e dinâmicas nas laterais, semelhantes às do SUV e o teto flutuante, outra identidade que o Kicks estreou, e que se alastrou pelos modelos da montadora. Mesmo sendo modelos parecidos, externamente, somente a parte superior dos retrovisores são iguais, pois eles são de categorias muito distintas.
Interior – Já no interior, inúmeras peças são as mesmas. A maioria dos botões, as maçanetas, alavancas, saídas de ar, volantes, painel de instrumentos, console central e todos os equipamentos contidos nele são idênticos.
O painel principal, painel das portas, apoios de braço e os bancos são muito parecidos. Só quem conhece os detalhes é capaz de identificar rapidamente os dois interiores.
Em relação à Exclusive, versão superior, a Advance também é muito parecida internamente. A parte central do painel principal é feita em plástico rígido que imita o revestimento sintético bege que vem na versão mais cara, inclusive as costuras, muito semelhante mesmo.
Nos bancos, a mesma intenção. O revestimento em tecido também tem os detalhes nessa mesma cor, aplicados nas extremidades, tanto nos da frente quanto nos de trás.
Os acabamentos imitando alumínio fosco nas saídas de ar, nos botões do ar-condicionado, no volante e no câmbio são os mesmos nas duas versões. Eles só não estão nas molduras dos controles dos vidros elétricos dianteiros da Advance, um pequeno detalhe, mas que faz diferença.
Existem áreas revestidas e macias nos apoios de braço das quatro portas, algo raro, assim como os puxadores traseiros feitos em material que imita fibra de carbono, iguais aos puxadores dianteiros. Peças em preto brilhante e algumas cromadas, como as maçanetas, conferem mais requinte ao interior.
Ergonomia – O modelo tem espaço de sobra para as pernas e ombros de quatro adultos, mas a cabeça de pessoas com mais de 1,80 metro esbarra no teto na parte traseira. Até um quinto adulto se acomoda bem para percursos mais curtos, pois o console central não invade a traseira e o túnel não é tão elevado. Uma criança viaja confortavelmente.
A ergonomia do Versa é como deveria ser em todos os sedans. Os bancos dianteiros permitem que se assente bem baixo, envolvido pela cabine do carro. Os comandos estão todos à mão e o ar-condicionado e o multimídia possuem botões físicos giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
O sistema de refrigeração é manual, eficiente no resfriamento e conta com três botões giratórios que permitem uso cego, o mais seguro. Eles comandam o direcionamento do fluxo, a intensidade e a temperatura do ar, as funções mais importantes a serem operadas.
Quatro botões de pressão completam os controles: ligar e desligar a refrigeração, ligar e desligar o desembaçador do vidro traseiro, recircular o ar e permitir que o ar venha de fora da cabine.
Consumo de combustível do modelo surpreende
No multimídia também existem comandos físicos que permitem este uso mais correto. O botão giratório direito liga e desliga o sistema e controla o volume. O esquerdo troca as faixas e é um atalho às regulagens do áudio. Oito comandos de pressão dão acesso a outros recursos relevantes.
Tanto com o celular pareado, quanto espelhado, o multimídia funcionou muito bem para reproduzir músicas. Porém, quando atendíamos ao telefone, algumas ligações caíam, pois o sistema inicial das chamadas desabilitou-se sozinho. Observamos essa falha, também, quando avaliamos a versão Exclusive.
A qualidade do som é ótima para um equipamento sem assinatura de uma marca especializada. O tamanho da tela é o mínimo exigido atualmente. A sensibilidade ao toque e a velocidade de processamento estão na média. Definição e brilho da tela podem melhorar.
O computador de bordo, as informações e configurações do veículo, além do conta giros, são exibidos em uma tela HD de 7 polegadas com 12 funções posicionada no quadro de instrumentos.
Controlado por botões bem organizados no volante, este painel oferece diversas páginas com informações múltiplas que ajudam com diversos dados úteis. O velocímetro é analógico.
Rodando – A direção elétrica é bem leve para manobras de estacionamento, mas fica mais pesada que o ideal em velocidades intermediárias. Nas velocidades maiores, o peso garante a segurança necessária.
Os sensores de aproximação e a câmera com guias gráficas dinâmicas ajudam bastante nas manobras de estacionamento, pois a traseira é alta e a coluna “C” não tem janela espia.
O conjunto motriz está calibrado para extrair a maior eficiência energética possível. O motor entrega potência e torque suficientes para dar agilidade ao Versa em uma condução familiar, nada esportiva. O câmbio funciona como um CVT convencional, deixando a rotação na faixa de giro que garanta o menor consumo.
Apenas quando mais exigido, ele simula as seis marchas, criando a sensação de um câmbio automático convencional. Ao usar o modo S, o motor trabalha em rotações bem mais altas, 1.500 rpm a mais, em média. Nessas condições, o câmbio fica mais preciso nas trocas e o desempenho melhora um pouco.
O recurso também ajuda no freio motor em altas velocidades, assim como o modo L atua nas baixas rotações. Porém, eles são apenas paliativos. O ideal seriam as aletas (shift paddles) atrás do volante para comutar as marcha livremente ou, pelo menos, a possibilidade de trocá-las por meio da própria alavanca de marchas.
O conforto acústico ao rodar é uma das principais qualidades do Versa. O uso de materiais de isolamento robustos, guarnições duplas, carpetes e espumas expandidas garantem silêncio a bordo acima da média para a categoria.
Aos 90 km/h é possível circular com o motor girando às 1.600 rpm. Aos 110 km/h, às 1.900 rpm. Em ambas situações, não se escuta o motor. Na velocidade mais baixa, o atrito dos pneus é tudo que se ouve. Na mais rápida, o vento contra a carroceria aparece e se soma ao primeiro ruído, mas de forma contida.
O Versa é muito estável dinamicamente, pois essa é a prioridade no acerto das suas suspensões. Mesmo mais rígidas, elas entregam conforto de marcha e trabalham em silêncio sobre pisos lisos ou ondulados.
Em pisos mal conservados, esburacados ou em lombadas mais salientes, o conjunto sofre para isolar a cabine, aparentando trabalhar no limite e chega ao fim de curso nos impactos maiores.
Consumo – O Novo Versa já tinha passado pelo nosso teste padrão de consumo abastecido com etanol. Os resultados foram bons para um motor 1.6 com câmbio CVT. Agora, usando gasolina, ele foi ainda melhor, superando no circuito rodoviário o Onix 1.0 turbo com câmbio automático, o modelo que testamos antes do Versa, e o melhor até então. Abaixo, a título de comparação, publicamos o consumo do sedan da Nissan com os dois combustíveis.
No teste rodoviário realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo os 90 km/h e outra, os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. O mesmo motorista, tanque com no mínimo de ¾ de combustível, vidros fechados, faróis acesos, ar-condicionado na temperatura média e ventilação na segunda velocidade completam a padronização.
Na menor velocidade o consumo foi de 14,3 km/l com etanol e 20,5 km/l com gasolina. Na mais rápida, a média registrada caiu para 12,7 km/l com etanol e 18,1 km/l com gasolina. Esses números só foram possíveis pela baixa rotação do motor em velocidade de cruzeiro e pela boa aerodinâmica do sedan.
Em nosso circuito urbano de 6,3 km realizamos quatro voltas, totalizando 25,2 km. Simulamos 20 paradas em semáforos com tempos entre 5s e 50s. Vencemos 152 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo do acidentado percurso. Seguindo os padrões complementares descritos acima, o Novo Versa atingiu as médias de 6,7 km/l com etanol e 9,5 km/l com gasolina. Se ele fosse equipado com o sistema stop/start, recurso que desliga o motor nas paradas em semáforos, seu consumo urbano poderia ser melhor.
Fotos: Amintas Vidal
O novo Versa está muito mais refinado que o modelo da antiga geração, tanto em acabamento, como em isolamento acústico e calibração das suspensões. Todas as suas versões são muito bem equipadas, contando com os sistemas de segurança mais importantes e algumas conveniências, como a chave presencial.
As diferenças de preços entre as três versões com câmbio CVT estão em uma média de R$ 9 mil, valor próximo aos 10% dos seus preços totais. A versão Advance é a mais equilibrada, mas a Sense atende bem a quem quer pagar menos e, a Exclusive, traz tecnologias interessantes para quem pode pagar mais.
*Colaborador
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