Toyota Corolla Cross é sedan em pele de SUV

Versão XRE utiliza o mesmo powertrain do sedan, com motor 2.0 capaz de render até 177 cv

Amintas Vidal*  (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 03/06/2022)

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Os sedans médios já foram o sonho de consumo do brasileiro. Mais seguros, confortáveis e espaçosos do que os SUVs, seu principal concorrente, eles sucumbiram ao modismo por este segmento que assolou o mercado.

Último dos samurais, o Toyota Corolla é o único sedan médio com vendas expressivas atualmente. Mesmo assim, ele já perde para os principais SUVs, inclusive, para o Toyota Corolla Cross, modelo originado dele mesmo.

Nos cinco primeiros meses deste ano, o sedan Corolla registrou 17.002 unidades vendidas, contra 18.347 emplacamentos do SUV Corolla Cross, segundo dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). 

O DC Auto recebeu o Toyota Corolla Cross XRE para avaliação. No site da montadora seu preço sugerido na cor sólida branca é R$ 171,29 mil. Em qualquer uma das cinco cores metálicas, o valor sobe para R$ 173,31 mil. Na cor branca perolizada, a cifra atinge R$ 173,62 mil.

A unidade avaliada era modelo 2022. O modelo 2023 já foi lançado com alteração na lista de equipamentos. Descreveremos esses novos equipamentos, pois só existe oferta do modelo 2023 nas concessionárias da marca.

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Todas as versões do Corolla Cross são vendidas com os itens de série, sem opcionais. Os principais equipamentos desta versão são: central multimídia com tela sensível ao toque de 8 polegadas, 9 polegadas ou 10 polegadas (por falta dos semicondutores, diversos equipamentos foram homologados,  podendo haver variação no tamanho das telas) e wi-fi embarcado com possibilidade usar aplicativos baixados; retrovisores externos eletro-retráteis; chave presencial; ar-condicionado automático digital com saída para o banco traseiro; volante com controles de áudio, computador de bordo e funções do Toyota Safety Sense e rodas em liga leve de 18 polegadas calçadas com pneus 225/50 R18 e acabamento diamantado.

Sete airbags, controles de tração, de estabilidade e assistente de subida em rampa eram os destaques em segurança desta versão no modelo 2022. Agora, no XRE 2023, os equipamentos do Toyota Safety Sense atualizaram a versão na comparação com os seus principais concorrentes.

O conjunto de recursos traz assistente de pré-colisão (PCS) com alerta sonoro e visual e frenagem automática de emergência; sistema de assistência de permanência de faixa (LTA) com função de alerta de mudança de faixa (LDA); controle de velocidade de cruzeiro adaptativo (ACC) e farol alto automático (AHB).

Além destes, o acendimento automático de faróis e lanternas e luzes diurnas (DRL) nas lanternas dianteiras, assim como sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, este último, inédito, complementam essa lista que ficou condizente com o valor da versão.

Motor e Câmbio – O motor é o 2.0 de quatro cilindros em linha e 16 válvulas que conta com comando de válvulas variável inteligente (VVT-iE) e sistema de injeção direta e indireta.

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Ele rende 177/169 cv de potência às 6.600 rpm com etanol e gasolina, respectivamente, e seu torque atinge 21,4 kgfm às 4.400 rpm com ambos os combustíveis.

A transmissão do SUV é a Direct Shift, também usada no sedan. Do tipo CVT convencional, acoplada por conversor de torque, ela conta com 10 relações programadas para serem usadas no modo manual ou quando o conjunto é mais exigido.

Segunda a marca, existe um sistema que faz a primeira marcha trabalhar engrenada nas arrancadas, eliminando o típico deslizar destas transmissões continuamente variáveis.

Ao oferecer seu primeiro SUV nacional, a Toyota não arriscou. Além de projetar um novo modelo com o mínimo de alterações mecânicas necessárias, ela manteve o nome Corolla para agregar valor ao mesmo, pois o sedan é o carro mais vendido em todos os tempos.

No visual, o SUV é muito distinto do sedan, pois a Toyota redesenhou todas as peças da carroceria. Ela usou a receita da moda, mas foi além. Projetou uma frente nova, alta e robusta, e sustentou toda essa lataria em cinco hastes metálicas soldadas ao monobloco, um recurso simplista que também está presente no Honda WR-V e no Volkswagen Nivus.

20220523_160712Toyota Corolla sedan

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Ao contrário destes dois outros projetos, a Toyota não aproveitou portas, laterais, para-lamas e teto do modelo doador. Ela redesenhou todas as partes, inclusive, com volumes mais avançados que no sedan, isto é, todas essas peças foram afastadas do monobloco para que o SUV ficasse mais encorpado que o três volumes.

Internamente, as diferenças são bem menores. Todo o painel principal é o mesmo nos dois modelos. A costura do acabamento que imita o couro é o que os distinguem. Console central, painéis e puxadores das portas foram redesenhados. No mais, todas as peças internas são comuns a ambos.

Economia no Projeto – Mesmo sendo um modelo de faixa superior de preço, a Toyota fez algumas economias no projeto do Corolla Cross. Ao redesenhar o console central com mais espaço para objetos que o existente no Corolla, ela eliminou o freio de mão, mas não o substituiu por um botão de acionamento elétrico.

O antigo sistema de freio de estacionamento por pedal foi adotado. Poderia ser uma limitação técnica, porém, em outros países, como nos Estados Unidos, o Corolla Cross tem comando elétrico para este freio.

Outro corte de custos foi aplicado à suspensão traseira. Deixou de ser independente com multibraço, como no Corolla, e passou a ser de eixo por torção. O modelo americano não recebeu essa mudança, permanecendo com o sistema mais eficiente.

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20220523_163334Toyota Corolla sedan

Observando os dois modelos por baixo, Corolla e Corolla Cross, nos parece que essa suspensão traseira mais simples ocupa mais espaço e, provavelmente, em conjunto com o fundo rebaixado do porta-malas, eles sejam a causa da exposição exagerada do último abafador do sistema de exaustão do Corolla Cross.

De tão evidente, a peça passou a receber críticas constantes, ao ponto da Toyota pintar na cor preta a extremidade exposta, outra mudança promovida ao modelo 2023.

Reduções e simplificações à parte, o Corolla Cross agrada bastante, pois ele herdou muito do DNA do Corolla. A qualidade do acabamento, a ergonomia acertada e, principalmente, o comportamento dinâmico entregam um legado que não nega a origem do novo modelo.

Interior – Boa parte do painel principal e dos painéis das portas é revestida com materiais macios ao toque. As partes em plástico rígido foram bem injetadas e estão bem encaixadas.

Detalhes em prata e em preto brilhante sofisticam o interior. Revestimento dos bancos, e apoios de braço, em material sintético que imita o couro tem costuras e perfurações que elevam a qualidade percebida na cabine.

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Quatro adultos e uma criança têm espaço de sobra no Corolla Cross, principalmente para cabeça e ombros. Na frente, pernas ficam igualmente bem acomodadas, atrás, menos do que no Corolla. O entre-eixos menor tirou parte do espaço traseiro. Mesmo assim, ele está na média dos concorrentes.

Os bancos são amplos e acomodam bem pessoas de todas as estaturas. Espuma muito rígida e laterais pouco ressaltadas não colaboram com o conforto e nem seguram muito o corpo dos ocupantes da frente.

Atrás, a possibilidade de inclinar um pouco o encosto do banco permite posição mais confortável para viagens, por exemplo.

O porta-malas é menor do que o do Corolla, cabendo 440 litros, 30 litros a menos do que no sedan. O tanque de combustíveis comporta 47 litros, 2 litros a menos.

Em medidas, eles continuam divergindo. O Corolla Cross tem 4,46 metros de comprimento, 17 cm a menos do que o Corolla; assim como a distância entre-eixos de 2,64 metros, 6 cm a menos do que no sedan.

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Já nas outras dimensões, o SUV dá o troco. São 1,82 metro de largura, 4,5 cm a mais e 1,62 metro de altura, 16,5 cm mais alto do que o Corolla. Sua carga útil é 450 kg, 30 kg a mais na comparação com o sedan.

Os números para o fora de estrada são, evidentemente, bem melhores no SUV. São eles: 21° de ângulo de entrada e 36° de ângulo de saída. Mas, o que chama a atenção é a pequena diferença na altura livre do solo, são 16,1 cm, apenas 1,3 cm a mais do que no sedan.

Essa característica deixou os dois modelos muito próximos em dinâmica, trazendo vantagens por um lado e limitações por outro, algo que comentaremos mais adiante.

Equipamentos – Todos os comandos estão bem localizados e ficam à mão. Os equipamentos possuem botões físicos, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.

Concentrados em áreas restritas, os controles têm fácil operação e deixam o design da cabine limpo, com poucos elementos.

Mesmo sendo de zona única, o ar-condicionado é eficiente em tempo de resfriamento, manutenção de temperatura e volume da ventilação. Além de silencioso, ele tem saídas para o banco de trás que ajudam no resfriamento da cabine.

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O sistema multimídia que testamos está descontinuado na linha, ao menos, temporariamente. Sua grande virtude é funcionar com eficiência, ter botões para todas as funções e algumas páginas com informações úteis.

No mais, a tela é pequena para os padrões atuais e o espelhamento com fio já está ultrapassado. Os equipamentos usados atualmente são genéricos, têm telas maiores e alguns espelham celulares sem fio, mas não possuem botões físicos.

Acreditamos que a Toyota voltará equipar o modelo com um sistema mais moderno e desenvolvido para a marca, assim que passar a crise dos semicondutores.

O ótimo quadro de instrumentos com velocímetro e conta giros analógicos também foi substituído. O atual traz uma tela LCD central de 7 polegadas que simula um velocímetro digital com ponteiro e escala numérica e apresenta as informações do computador de bordo ao centro.

O conta giros e os marcadores de temperatura e combustível continuam analógicos. O computador de bordo traz as informações básicas necessárias que são complementadas por páginas do multimídia. Este novo conjunto ficou atualizado, mais próximo do que entrega a concorrência.

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O volante multifuncional controla quase todos os recursos do carro e apresenta boa usabilidade, comandos bem dimensionados, organizados e funções diretas, que não exigem muitos toques para acessar as inúmeras informações.

Seu aro tem tamanho proporcional e a assistência elétrica o deixa leve em manobras, mas confortável e seguro em velocidades variadas.

Modelo se comporta como um sedan

Dinamicamente, o Corolla Cross e o Corolla são bem semelhantes. O sedan é famoso por ser muito bom em todos os parâmetros, mesmo não sendo o melhor do mercado em alguns deles. O Corolla Cross vai além. Pode não ser o melhor SUV, mas consegue superar os principais concorrentes em dinâmica.

Por não ter altura do solo muito maior do que o sedan, o Corolla Cross é mais estável e mais confortável do que os outros utilitários mais altos. Nele, é fácil esquecer que estamos em um SUV.

O banco não fica exageradamente alto, deixando o corpo do motorista mais próximo ao centro de gravidade do veículo, aumentando a interação homem-máquina.

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Também, por serem mais baixas, as suspensões precisam de menos carga e, assim, trabalham em frequências menores, ampliando o conforto de todos a bordo.

Por outro lado, o SUV da Toyota não tem aptidão para o fora de estrada e, no máximo, supera rampas e lombadas com mais dignidade que o sedan. Na primeira vala de escoamento de água que passamos, dessas existentes em cruzamentos de ruas, a parte inferior do para-choque dianteiro raspou na empreitada, evidenciando essa limitação do modelo.

Outro destaque do Corolla Cross é o conjunto motor e câmbio. Nas relações mais longas alcançáveis, o motor trabalha às 1.300 rpm, aos 90 km/h, e às 1.600 rpm, aos 110 km/h. Nessas condições, o interior fica muito silencioso, não se ouve o motor.

O ruído dos pneus e o arraste aerodinâmico ficam contidos pelo bom isolamento acústico. O rodar macio e o baixo ruído interno entregam conforto acima da média para a categoria.

Quando muito exigido, o motor acorda e responde com ótimo desempenho, comutando as dez marchas e garantindo arrancadas convincentes e retomadas seguras.

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Com aceleração intermediária, o CVT trabalha de forma típica: eleva e mantém o giro no regime de maior torque e multiplica as relações para o SUV ganhar velocidade, condição menos confortável acusticamente.

Recurso que deveria acompanhar todos os sistemas CVT com marchas simuladas, as aletas para trocas das mesmas funcionam muito bem neste modelo. A programação é muito permissiva, tanto nas reduções quanto na evolução das marchas.

O tamanho e o funcionamento mecânico deste conjunto são os ideais, tornando o seu uso muito preciso.

Consumo – A modernidade de todo o conjunto motriz resultou em boas médias de consumo, considerando que este motor é aspirado e com grande volume cúbico, quando o comparamos aos motores turbo da concorrência.

Em nossos testes de consumo rodoviário padronizado, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e, a outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.

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Na volta mais lenta, o Corolla Cross registrou 12,6 km/l. Na mais rápida, 11,1 km/l, sempre com etanol no tanque.

No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fizemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.

Neste severo teste, o Corolla Cross atingiu a média de 7,2 km/l, também com etanol. Se fosse equipado com o sistema stop/start, a média poderia ser ainda melhor.

A versão XRE do Corolla Cross é a mais equilibrada da linha, não por acaso, a mais vendida. Quando foi lançada como modelo 2022, em março do ano passado, ela custava R$ 149,99 mil.

Além do preço competitivo, o fato de ser uma novidade contribuiu com o sucesso nas vendas. Com seguidos aumentos em seu preço, a variante ficou menos interessante.

Agora, no modelo 2023, a Toyota equipou a versão com os mesmos equipamentos disponíveis nos concorrentes desta mesma faixa de preço. Assim, ele voltou a ser uma ótima opção de SUV para quem faz uso estritamente urbano o que, na verdade, é o que faz a maioria dos seus compradores.

20220519_102543Fotos: Amintas Vidal

*Colaborador

Acesse o nosso site: http://www.diariodocomercio.com.br

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