Versão Griffe traz teto panorâmico como principal diferencial
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 15/10/2022)
Integrantes do extinto PSA Groupe, Peugeot e Citroën estão, atualmente, sob o comando da Stellantis, conglomerado resultante da fusão da PSA com a FCA, Fiat Chrysler Automobiles.
Usando o vasto conhecimento de mercado da Fiat e, mais recentemente, da Jeep, a Stellantis está conseguindo alavancar as vendas das duas marcas francesas no Brasil.
Simples reposicionamento de preços, leves reestilizações, novas versões e, até, compartilhamento de equipamentos e tecnologias, têm dado resultado para a Peugeot e a Citroën.
No caso do 2008, o SUV compacto da Peugeot, a Stellantis lançou a linha 2023 com duas novas versões, o teto pintado em preto para todas elas e lanternas em full LED para as três variantes mais caras, entre outras alterações.
A Griffe com motor 1.6 turbo e a Allure com o 1.6 aspirado eram as únicas versões até o modelo 2022. Agora, configurada com ambos os propulsores, a opção intermediária Style chega para dobrar a oferta de versões do 2008.
O DC Auto recebeu o Peugeot 2008 Griffe 1.6 THP, automático, da linha 2023 para avaliação. Mantida como a versão de topo da gama, seu preço público sugerido é R$ 127,44 mil.
Exceto a cor preta, que é metálica, as outras cores, metálicas ou perolizadas, custam expressivos R$ 2,45 mil, pois todas elas são acompanhadas pelo teto pintado nessa mesma cor preta metálica.
Ofertada completa, sem opcionais, os principais equipamentos de série desta versão são: teto de vidro panorâmico; ar-condicionado digital, automático e de dupla zona; central multimídia touchscreen de 7 polegadas com espelhamento por Android Auto e Apple CarPlay; volante multifuncional com regulagem em altura e profundidade; direção elétrica com assistência variável; computador de bordo; barras de teto longitudinais; volante e bancos revestidos em material sintético que imita o couro e rodas de 16 polegadas diamantadas com pneus 205/60 R16.
Em segurança, os principais sistemas são: seis airbags; ESP (controle eletrônico de estabilidade) e ASR (controle de tração); grip control (seletor de programação do controle de tração); hill assist (assistente de partida em rampa); regulador e limitador de velocidade; assinatura luminosa em LED nos faróis e lanternas; faróis de neblina; acendimento automático dos faróis; limpador do para-brisa automático com detector de chuva; sensor de aproximação na traseira e câmera de marcha à ré.
Motor e Câmbio – O motor THP tem bloco com quatro cilindros, 1,6 litro, é turbo alimentado, bicombustível e conta com injeção direta. Acionado por corrente, seu comando é duplo no cabeçote e tem 16 válvulas. Este sistema permite variação de abertura apenas na admissão.
Ele rende 173/166 cv às 6.000 rpm com etanol e gasolina, respectivamente, e tem torque de 24,5 kgfm às 1.400 rpm com ambos os combustíveis. A relação peso/potência é 7,2 kg/cv e a peso/torque é 50,85 kg/kgmf.
O câmbio é automático convencional com seis (6) marchas. Ele permite trocas manuais por meio da própria alavanca. Seu acoplamento ao motor é feito por conversor de torque.
O 2008 e o Citroën C4 Cactus compartilham a mesma plataforma, motor, câmbio e diversos outros dispositivos mecânicos e elétricos. Não por acaso, eles são derivados das antigas gerações dos hatches compactos 208 e C3, todos construídos sobre uma mesma base.
Diferentemente dos VW Nivus e Polo, ou dos Fiat Pulse e Argo, a dupla francesa têm design externo próprio, foram completamente redesenhados em relação aos modelos originais.
Nestes concorrentes diretos, diversas peças das suas carrocerias e peças internas são compartilhadas e suas dimensões foram mantidas. No 2008, o interior foi adaptado à nova carroceria, e no C4 Cactus, sua cabine é tão original quanto o seu exterior.
Números – A distância entre-eixos do 2008 quase não foi alterada em relação ao 208, cresceu 1 mm, ficando com 2,54 metros. Mas, todas as outras medidas foram ampliadas.
Ele possui 1,74 metro de largura, 37 mm a mais. A altura atingiu 1,58 metro, 111 mm de vantagem. O comprimento alcançou 4,16 metros, a maior diferença em relação ao hatch (184 mm).
Todos estes modelos foram homologados como SUVs no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), mas eles estão mais para crossovers do que para utilitários esportivos.
Mesmo não sendo um veículo off-road, os números do 2008 para o fora de estrada garantem capacidade de superar lombadas e rampas na cidade, ou circular por estrada de terra, sem raspar os para-choques ou o fundo nessas empreitadas.
São 23° de ângulo de ataque; 29° de ângulo de saída e 200 mm de altura livre do solo.
Quatro adultos têm espaço de sobra para cabeças e ombros na cabine do 2008. Nos bancos da frente, as pernas vão com folga. Mas, atrás, somente o espaço necessário, sem sobras. No centro deste banco, só uma criança vai com conforto, condição recorrente em modelos compactos.
Ao contrário do C4 Cactus que prioriza o espaço na segunda fileira, no 2008 o porta-malas foi contemplado. São 402 litros de capacidade, 82 litros a mais do que no SUV da Citroën. Em seu tanque de combustíveis cabem 55 litros.
Essa versão Griffe pesa 1.246 kg, sua carga útil é de 400 kg, e a capacidade de reboque, 350 kg, independentemente de o equipamento contar com sistema de freio ou não.
Interior – A ergonomia do 2008 é acertada, quase todos os equipamentos são alcançados facilmente, não exigindo movimentos amplos dos braços e deslocamentos do tronco. A posição dos comandos elétricos dos vidros, em todas as portas, é muito recuada, destoando deste acerto.
Os materiais de acabamento são todos rígidos e apenas pequenas áreas nas quatro portas são revestidas, macias ao toque. Porém, a variedade de cores e texturas, assim como os detalhes em preto brilhante e cromados sofisticam a cabine.
O revestimento dos bancos em material sintético que imita o couro, preto com costuras em linha branca aparente, destaca essa versão das demais.
O ar-condicionado tem botões físicos, de pressão e de deslocamento vertical, melhores que os digitais por toque, mas, menos adequados que os giratórios. No multimídia, tudo por toque mesmo, exceto o botão do power, muito pouco para uma operação mais segura.
Porém, este conjunto é melhor do que o do C4 Cactus, modelo onde os diversos botões do ar-condicionado foram suprimidos e quase todos os comandos na cabine são realizados na tela do multimídia.
O sistema de refrigeração automático com dupla temperatura é raro na categoria. Ajustável de meio em meio grau, ele é eficiente em tempo de resfriamento, manutenção de temperatura e intensidade de ventilação.
Suas saídas são bem posicionadas e dimensionadas, e o ruído de funcionamento é baixo, mantendo o conforto acústico a bordo.
Fazem falta as saídas de ar traseiras para resfriar toda a cabine por igual, principalmente nessa versão que, além do teto pintado em preto, como em todas as outras, tem grande parte do mesmo em vidro, o famoso teto panorâmico.
Este equipamento torna o ambiente mais claro e agradável, é certo, mas deixa o interior do 2008 mais quente em dias ensolarados.
Tamanho do volante e posição do quadro de instrumentos são diferenciados
O multimídia entrega a idade do projeto. Sua tela é pequena e o espelhamento só é feito por meio de cabo. Para piorar, a porta USB para essa conexão está na parte superior direita da própria tela, deixando o cabo pendurado.
No mais, velocidade de processamento, sensibilidade ao toque, definição e brilho da tela estão na média destes sistemas mais antigos.
Já o áudio, tem qualidade melhor. Equipado com seis alto-falantes, sua distribuição acústica e a definição das frequências são muito boas e contam com possibilidade de equalizações pré-programadas.
Como a maioria dos sistemas comuns, falta potência para reproduzir músicas em altos volumes, mas, na amplificação máxima, o sistema apresenta pouca distorção sonora.
Botões no volante controlam telefone e áudio, amenizando a falta de comandos físicos do multimídia. Do tipo satélite, e de operação cega, o controlador de velocidade se torna prático e seguro após algum tempo de uso.
Chamado de i-Cockpit, o quadro de instrumentos do 2008 é visto por cima do volante e, não, através do seu aro. Para tal, o diâmetro do volante é menor do que o usual, algo que confere certa esportividade.
Nessa disposição, os instrumentos ficam mais ao alcance da visão periférica, exigindo menor desvio do olhar para serem enxergados, favorecendo a segurança. Motoristas que regulam o banco mais alto adaptam-se melhor a este recurso.
Mas quem prefere ficar mais baixo, próximo ao centro de gravidade do carro, como nós, precisa deixar o volante mais baixo do que o ideal.
Além de diferente, este quadro de instrumentos é muito melhor do que o 100% digital do C4 Cactus. Velocímetro e conta-giros são analógicos, apresentam escalas bem graduadas e números visíveis.
Digitais, os marcadores de combustível e temperatura do arrefecimento são igualmente bem dimensionados. Ao centro, uma pequena tela exibe a velocidade, digitalmente e em ótimo tamanho, além de outras informações, como o computador de bordo e relógio, essas, menos destacadas.
Rodando – Não avaliamos o 2008 com motor aspirado, mas o acerto da direção e suspensão dessa versão com motor turbo é muito adequado ao conjunto. Como ele é um SUV compacto, relativamente leve e muito potente, as regulagens são pensadas para o carro não ficar muito solto.
A direção é leve em manobras, mas ganha peso rapidamente. O pedal do acelerador exige mais força do que o normal.
A carga dos amortecedores é alta, segura a carroceria em curvas, evitando inclinações exageradas. Mesmo assim, elas isolam bem a cabine das irregularidades do piso.
Em conjunto aos controles de estabilidade e tração, estes acertos garantem a segurança do 2008 em uma condução mais agressiva. Para quem prefere uma direção mais tranquila, este peso é um pouco desconfortável.
O Grip Control, seletor de tração, tem programações dedicadas para lama, areia e neve, além do asfalto e da possibilidade de desligá-lo.
Mas isso só é possível até a velocidade de 50 km/h, pois ele é reativado automaticamente acima deste limite. Usamos o recurso em estradas de areia e a tração foi satisfatória.
O que realmente destaca o 2008 Griffe é o seu impressionante desempenho. Segundo a Peugeot, ele acelera de 0 a 100 km/h em apenas 8,1 segundos. Para quem está a bordo, parece até menos tempo que isso, de tão intensa que é a aceleração. A velocidade máxima declarada é de 209 km/h.
Em arrancadas e ultrapassagens, a diversão é garantida. Ninguém a bordo fica indiferente. Com curso total do acelerador, a rotação sobe rapidamente, a despeito de um mínimo atraso até o enchimento da turbina.
As marchas são trocadas às 6.000 rpm, pouco acima do início da faixa vermelha de giro. Marcha a marcha, o processo se repete com a mesma eficiência nas cinco trocas.
Nessa condição, o ruído do motor invade a cabine, não tão esportivamente como o seu desempenho. Mas, por ser mais grave do que estridente, ainda entrega conforto acústico.
Curiosamente, neste extremo do funcionamento, ou em uma direção suave, o câmbio funciona perfeitamente, mas, em acelerações intermediárias e oscilantes, ele apresenta alguns trancos.
Consumo – A grande oferta de torque a baixas rotações garante conforto e silêncio ao rodar. Aos 110 km/h, na sexta marcha, o motor gira um pouco acima das 2.000 rpm. Nessas condições, o 2008 THP se mostrou econômico para uma versão tão potente.
Nossa avaliação ocorreu em viagem ao litoral. Desta vez, não pudemos fazer nossos testes padronizados de consumo. Mesmo assim, conseguimos boas médias circulando com gasolina. Nos trechos de estrada, buscamos circular aos 90 km/h, o padrão em que alcançamos a melhor relação entre o baixo consumo e o tempo em deslocamento.
Em um mesmo percurso de 120 km, atingimos 15,8 km/l na ida e 15,7 km/l na volta, igualdade comum em regiões muito planas, como foi desta vez. Nos deslocamentos em cidade, o consumo médio ficou em 8,9 km/l.
Fotos: Amintas Vidal (externas) / Stellantis / Peugeot / Divulgação (internas)
Assim como o C4 Cactus, o 2008 entrega um desempenho superior a todos os concorrentes da categoria. No caso do Peugeot, ele é mais barato do que o Citroën, acirrando a briga caseira.
Para quem prioriza a dinâmica e não faz questão das mais novas tecnologias embarcadas, o 2008 é quase um esportivo e custa menos do que a maioria dos seus concorrentes com motores turbo acima de 1.0 litro ou, até mesmo, do que os que utilizam motor 1.0 litro turbinado.
*Colaborador
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