Modelo ganhou motor turbo de 185 cv e o interior foi totalmente renovado
Amintas Vidal* (Publicado no Diário do Comércio – Edição: 29/10/2021)
O Jepp Compass detém quase dois terços do segmento de SUVs médios no Brasil, uma participação impressionante. Em 2017 e 2018 ele conquistou a liderança geral, deixando para trás todos os outros SUVs, de todos os tamanhos, sua maior façanha.
Este ano, o Compass atingiu outra marca inédita. Com 6.823 emplacamentos, no fechamento de setembro, ele foi o segundo automóvel mais vendido em nosso mercado, perdendo o alto do pódio por apenas 324 unidades para o hatch compacto Hyundai HB20, que registrou 7.147 unidades, de acordo com os dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O DC Auto recebeu, para avaliação, o Jeep Compass Longitude T270 com o Pack 80 anos. No site da montadora, o preço básico da versão é R$ 166,99 mil e, o deste pacote opcional, R$ 8 mil. A cor verde da unidade avaliada é solida e não é cobrada à parte. As cores metálicas custam R$ 1,90 mil e, a branca perolizada, R$ 2,40 mil.
Em abril, comemorando os 80 anos do Jeep 1941, primeiro modelo da marca, foram lançadas séries especiais com o Pack 80 anos para os quatro carros vendidos no Brasil, até então: Renegade, Compass, Wrangler e Grand Cherokee.
No Compass, este pacote traz park assist, carregador de celular por indução, sistema de som premium Beats de 506W (8 alto falantes + subwoofer), retrovisores externos com rebatimento elétrico, sensor de estacionamento dianteiro, partida remota do motor e os acabamentos externos em grafite, assim como os emblemas e etiquetas alusivas à data comemorativa.
Na época, o teto solar panorâmico era oferecido para a Longitude como opcional, equipamento presente no carro avaliado. Mas, atualmente, ele só é ofertado para versões superiores.
Equipamentos – Os principais equipamentos de série do Compass Longitude são: ar-condicionado automático dual zone; direção elétrica; central multimídia de 10,1 polegadas com Adventure Intelligence Plus, conexão sem fio para Apple Carplay e Android Auto e GPS nativo; aletas no volante para trocas manuais das marchas; bancos e volante revestidos em material sintético que imita o couro; chave presencial; stop&start (desligamento/acionamento automático do motor); freio de estacionamento eletrônico; painel de instrumentos em tela TFT de 7 polegadas colorida e configurável; rodas em liga leve de 18 polegadas’ com pneus 225/55 R18 e vidros elétricos nas 4 portas com one touch.
Seus itens de segurança vão além dos obrigatórios. Os destaques são: seis airbags (frontais, laterais e de do tipo cortina); ABS; Jeep Traction Control+ (controle de tração para pisos de baixa aderência); controles eletrônicos de estabilidade, tração e anti capotamento; assistente de partida em rampa e sistema Auto Hold; retrovisor interno eletrocrômico; sensores de chuva e crepuscular; faróis em full LED; sensor de estacionamento traseiro; câmera de marcha à ré e sistema de monitoramento de pressão dos pneus.
Motor GSE 1.3 turbo – O novo motor bicombustível do Compass é o GSE 1.3 turbo, um típico modelo da tendência downsizing. Essa reengenharia visa à diminuição do volume cúbico do bloco e, ao mesmo tempo, o aumento da potência, do torque e a redução de emissões, ganhos possíveis, principalmente, com a sobrealimentação feita por um turbocompressor de baixa inércia.
Outras tecnologias são usuais em motores desta geração, como o sensor para o reconhecimento do combustível na linha de alimentação, a injeção direta de combustível dentro do cilindro e sistemas de resfriamento do ar a ser comprimido e do óleo de lubrificação, essas últimas, visando maior eficiência da explosão e menor atrito entre as peças móveis, respectivamente.
Neste motor, um recurso é mais evoluído que os existentes na concorrência. O sistema de variação do funcionamento das válvulas de admissão, denominado Multiair III, que é o mais flexível projetado até hoje.
Um conjunto eletro-hidráulico faz uma ligação totalmente controlável entre o eixo de comando e as válvulas de admissão. Nos motores convencionais, este sistema é apenas mecânico, mesmo naqueles que permitem alguma variação na abertura das válvulas de admissão e de escape.
Essa ligação indireta do Multiair III permite que as válvulas de admissão sejam acionadas com variação em período, amplitude, ou mesmo, em frequência, isto é, em um único ciclo de admissão, elas podem abrir e fechar duas vezes para otimizar a turbulência na câmera de explosão, por exemplo.
Até a taxa de compressão pode ser alterada, recurso que evita a pré-ignição, problema comum em motores que funcionam com mais de um tipo de combustível e que têm blocos pequenos, como este do GSE.
Toda essa amplitude de controle do funcionamento do motor resultou em altos números de potência e torque, ao mesmo tempo em que suas emissões se enquadraram às futuras exigências governamentais.
O seu torque máximo é 27,5 kgmf às 1.750 rpm com ambos os combustíveis, que corresponde a 270 Nm, número que batiza o propulsor comercialmente. A potência atinge 185/180 cv às 5.750 rpm, com etanol e gasolina, respectivamente.
O câmbio é automático convencional com conversor de torque e seis (6) marchas. Ele oferece programação Sport e seleção entre automático e manual com possibilidade de comutação pela alavanca ou pelas aletas posicionadas atrás do volante.
O conjunto conta com o TC+, sistema de bloqueio que trava a roda motriz sem aderência com o solo para que a outra tracione em transposição de obstáculos.
Design e Interior – Sempre dissemos que o design do Compass é um dos mais belos feitos pela Jeep. Suas linhas são claramente inspiradas no Grand Cherokee, mas o Compass é mais harmônico e proporcional. A prova deste acerto foi a sutil alteração recebida nessa sua primeira reestilização.
Externamente, apenas os faróis, a grade, o para-choque dianteiro e as rodas são novos. A lanterna traseira manteve o mesmo formato, porém, a assinatura luminosa deixou de acompanhar as suas curvas, traçando uma linha mais horizontal. Visto rapidamente, essas mudanças do Compass quase passam despercebidas.
Internamente, mudou muito. E precisava. Sua cabine mais parecia a de um modelo antigo da Dodge, marca do grupo Stellantis. Tinha pouca personalidade, era datada. O painel arredondado pesava visualmente, avançava sobre os ocupantes.
Elementos como as saídas de ar, a moldura do multimídia e os controles do ar-condicionado eram compartimentados, tinham formas variadas e com quinas arredondadas, não compondo um belo conjunto.
Porém, o painel foi totalmente redesenhado. Linhas horizontais orientam o design interno. Todas as partes e equipamentos que compõe a cabine são retangulares e apresentam chanfros que lhes conferem dinamismo. O novo projeto ficou limpo, moderno e sofisticado ao mesmo tempo. Finalmente, um design interior à altura do exterior.
Os acabamentos continuam muito bons. A parte superior do painel principal, e das portas, é revestida com material emborrachado. A porção central dessas peças recebe o mesmo material sintético que reveste os bancos, inclusive, com costuras aparentes.
Uma extensa moldura em material semelhante ao alumínio contorna todo o painel principal, amplia a percepção de horizontalidade e camufla as saídas de ar das extremidades, peças que ficaram belíssimas.
A repetição deste mesmo acabamento nas maçanetas internas, e em outras molduras, e o uso do preto brilhante em diversas partes e equipamentos, ampliou a qualidade interna e a unidade visual na cabine do modelo.
Não houve alteração nas dimensões internas. A ergonomia do Compass continua muito bem acertada. Todos os comandos estão à mão e não exigem grande deslocamento dos braços para serem alcançados.
O banco do motorista está alinhado com o volante e os pedais. Todos os assentos e encostos apoiam bem os ocupantes. Quatro adultos e uma criança têm muito espaço para suas pernas, ombros e cabeças.
A Jeep adotou nova forma de aferir o volume do porta-malas e divulgou ganho de 60 litros. Entretanto, visualmente, o espaço de bagagem é o mesmo, não foi alterado. Ele comporta 410 litros como antes. O tanque de combustíveis manteve os bons 60 litros de capacidade.
O Compass tem 4,40 metros de comprimento, 2,64 metros de entre-eixos, 1,82 metro de largura e 1,63 metro de altura. Suas medidas para o fora de estrada são: vão livre de 205 mm; 21,5° de ângulo de entrada; 30,7° de ângulo de saída e 20,5° de ângulo central.
Além de mais moderno, o novo volante ganhou melhor pega, pois o aro ficou menos grosso e o espaço de encaixe dos polegares melhor definido. Os botões de comando localizados em seus raios horizontais foram agrupados em uma área menor, algo que possibilita sua operação sem a necessidade de tirar as mãos do volante.
A direção com assistência elétrica tem peso ideal em manobras de estacionamento e em velocidades maiores. Nas intermediárias, poderia ser mais leve.
Tecnologias – Assim como o painel, todos os equipamentos de bordo foram elevados fisicamente. O multimídia está destacado no limite visual da base do para-brisa, isto é, a tela não prejudica a visibilidade do motorista, mas entra em sua área de visão periférica, posicionamento desejável.
Com 10,1 polegadas, sua definição, sensibilidade ao toque e velocidade de processamento está entre as melhores do mercado. Internet embarcada, novo sistema Adventure Intelligence Plus e GPS nativo são aperfeiçoamentos que estão mudando a conectividade dos modelos da Stellantis.
De forma resumida, o Adventure Intelligence conecta o carro ao seu dono por meio de um aplicativo ou assistentes de voz. Ele recebe diversas informações sobre o veículo, ativa funções do mesmo e ainda determina perímetro, dia e hora em que o modelo pode circular. Caso saia dessas restrições, o proprietário é avisado no celular.
Ligado à internet por um chip da TIM, o sistema disponibiliza um navegador nativo da marca TomTom que informa, em tempo real, as condições de trânsito. Existe um roteador wi-fi que disponibiliza internet a bordo.
Oito aparelhos podem usufruir deste sinal ao mesmo tempo. Uma central de atendimento foi estruturada para receber chamadas do motorista e auxilia-lo com informações diversas ou enviar assistência mecânica ou de resgate.
Os controles do multimídia, do ar condicionado e de diversos outros equipamentos possuem botões físicos para serem operados, giratórios para as funções principais e de pressão para as secundárias, arquitetura ideal.
Estes comandos foram concentrados na base da tela e em um conjunto pouco abaixo da mesma, melhorando a ergonomia e facilitando o uso pelo motorista. O multimídia funcionou com precisão, tanto espelhando, como pareando o celular.
O som com assinatura Beats reproduz de forma bastante audível as músicas baixadas em aplicativos de streaming, tipo de arquivo que fica com volume baixo baixo em sistemas comuns.
O ar-condicionado de duas zonas foi eficiente em velocidade de resfriamento e manutenção da temperatura em dias normais. Nos dias mais quentes, faltou volume de ar para resfriar a cabine mais rapidamente.
Neste ponto, a forma venceu a função: as saídas de ar do painel ficaram discretas e elegantes, mas limitaram a vazão do mesmo. As saídas de ar do console central, existentes para o banco traseiro, amenizam essa característica.
As funções comandadas nos botões físicos são replicadas na tela e também podem ser executadas por toque na mesma, um ótimo recurso. Por voz, também é possível operar a maioria destes dispositivos, a forma mais segura do motorista interagir com eles.
Desempenho, conforto ao rodar e isolamento acústico se destacam
Por mais tecnológico que seja o Compass, o melhor dele vem da sua dinâmica apurada, fruto de um projeto moderno, tanto do conjunto motor e câmbio, como estrutural e das suas suspensões.
Este novo motor responde mais cedo ao pedal do acelerador e acelera de forma mais linear em baixas e médias rotações, quando comparado ao antigo 2.0 Tigershark, que deslanchava mais entre médias e altas rotações.
Ao acelerar forte, o desempenho é muito bom para um carro de 1.585 kg e vocação familiar. Segundo a Jeep, ele leva 8,8 segundos para sair da imobilidade e atingir os 100 km/h.
Mas, para quem gosta de uma condução tranquila, este motor turbo é o ideal. O Compass sai da inércia rapidamente, com pouca aceleração e, por conta de uma ótima programação do câmbio automático, as marchas são trocadas antecipadamente, deixando o modelo aproveitar ao máximo o seu deslocamento por inércia.
Outra virtude deste câmbio é permitir reduções para o uso do freio motor mesmo que a sua rotação se aproxime do limite de segurança quando a marcha mais reduzida é engatada.
Este conjunto mecânico 4X2 entrega muito mais prazer ao dirigir que o 4X4, pois, o sistema integral deixa o carro sempre amarrado, exigindo uso constante do pedal direito para que o SUV não desacelere.
Contribui com este prazer o ótimo isolamento acústico. Na maior parte do tempo, só se ouve o atrito dos pneus com o asfalto. Em velocidades maiores, seu peso melhora o aproveitamento do embalo, mas o arrasto aerodinâmico se faz mais presente. O motor só é ouvido em subidas ou em giros acima das 3.000 rpm. Porém, ele é contido e não é estridente.
O ótimo conforto de marcha do Compass foi preservado. As suspensões independentes são calibradas de forma equilibrada entre conforto e estabilidade e a sua plataforma rígida tem boa distância entre-eixos, conjunto que resulta em um rodar mais próximo aos sedans médios do que aos SUVs de mesmo tamanho.
Elas isolam bem a cabine, deixam o carro bem assentado e suas oscilações ocorrem em frequências mais baixas que na maioria dos seus concorrentes diretos.
Consumo – Em nosso teste padrão de consumo rodoviário avaliamos o Compass com gasolina. Realizamos duas voltas de 38,4 km, uma mantendo 90 km/h e outra os 110 km/h, sempre conduzindo economicamente. Na volta mais lenta, atingimos 15,3 km/l e, na mais rápida, 12,9 km/l. Boas médias para um SUV do tamanho do segmento do Compass.
No teste de consumo urbano rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos, com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos, e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.
Neste severo teste, o Compass atingiu uma média de 8,1 km/l. O sistema stop&start funcionou com grande eficiência, desligando e ligando o carro em todas as paradas, de forma rápida e quase imperceptível.
O Compass, nessa versão Longitude e com este Pack 80 Anos, é uma opção interessante para quem quer algo diferente, pois o pacote terá oferta limitada a este ano.
Para quem pode pagar mais, consideramos a versão S a de melhor custo benefício, pois já vem com tudo que o modelo oferece, inclusive, o teto solar e os importantes sistemas de condução semiautônoma que não estão na lista de opcionais das duas primeiras versões.
O Jeep Compass é o SUV médio mais bem sucedido em nosso mercado. Com essas melhorias, ele deve continuar a reinar por muito tempo, mesmo em um novo cenário.
Recentemente, dois novos concorrente de peso entraram nessa briga: o Volkswagen Taos e o Toyota Corolla Cross. Porém, não chegaram nem perto de ameaçar o modelo da Jeep.
Na verdade, o Compass vai sofrer até com “fogo amigo”, pois o Jeep Commander, modelo com sete lugares, deve tirar vendas das suas versões mais caras. Mesmo assim, acreditamos que ele continuará na ponta da tabela.
Fotos: Amintas Vidal
*Colaborador
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